Vacinas contra o cancro e "todos os tipos de doença"? Vai ser uma realidade em 2030, garante farmacêutica (e tudo por causa da covid)

8 abr 2023, 16:15
Estudo considera que aumento de cancros em idades mais jovens pode ser início de epidemia (Imagem Getty)

Investigadores dizem ter conseguido o equivalente a 15 anos de progresso em apenas 12 a 18 meses de trabalho devido ao sucesso da vacina contra a covid-19

"Vamos ter uma vacina altamente eficaz para salvar muitas centenas de milhares - senão milhões - de vidas." A promessa é de Paul Burton, diretor clínico da gigante farmacêutica Moderna, que até já tem uma data assinalada para esta conquista - 2030.

É a partir desse ano que, de acordo com o responsável, citado pelo The Guardian, a farmacêutica vai ser capaz de disponibilizar vacinas para combater "todos os tipos de doenças", nomeadamente "cancro, doenças infecciosas, cardiovasculares, autoimunes e doenças raras".

A confiança de Paul Burton decorre dos mais recentes estudos desenvolvidos para testar a eficácia das vacinas com tecnologia mRNA - a mesma tecnologia utilizada nas vacinas da Moderna e da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 - para combater outras doenças. "Se antes pensávamos que a tecnologia mRNA estava direcionada apenas para doenças infecciosas, ou apenas para a covid, as provas que temos agora mostram-nos que esse não é de todo o caso. Esta tecnologia pode ser aplicada em todos os tipos de doenças: no cancro, doenças infecciosas ou cardiovasculares, doenças autoimunes, doenças raras. Temos estudos em todas essas áreas e todos eles mostram uma promessa tremenda", sustenta.

Os investigadores dizem ter conseguido o equivalente a 15 anos de progresso em apenas 12 a 18 meses de trabalho devido ao sucesso da vacina contra a covid-19. De acordo com Paul Burton, esta tecnologia vai permitir mesmo desenvolver "vacinas personalizadas contra o cancro e diferentes tipos de tumores para pessoas em todo o mundo". "Acredito que dentro de 10 anos vamos estar mais próximos de um mundo em que é realmente possível identificar a causa genética de uma doença e, com relativa simplicidade, editar esse gene e repará-lo, usando tecnologia baseada em mRNA", explicou

De forma sucinta, as vacinas com esta tecnologia ensinam as células a produzir uma proteína que desencadeia uma resposta imunitária do organismo contra as doenças. Ora, no caso do cancro, a vacina com tecnologia mRNA seria capaz de alertar o sistema imunológico para um cancro que se está a desenvolver no organismo, atacando-o e eliminando-o sem destruir as células saudáveis.

Em janeiro, a Moderna anunciou os resultados de um teste experimental em estágio avançado da sua vacina com tecnologia mRNA para combater o vírus sincicial respiratório (VSR), um vírus muito comum responsável por infeções respiratórias frequentes e o principal causador de bronquiolites e pneumonias virais em bebés e crianças até aos dois anos de idade. 

Os resultados mostraram uma eficácia de 83,7% na prevenção de pelo menos dois sintomas, nomeadamente a tosse e a febre, em adultos com idade igual ou superior a 60 anos. Com base nestes dados, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA classificou a vacina como uma terapia inovadora, o que significa que sua revisão regulatória será acelerada.

Um mês depois, a FDA concedeu a mesma designação à vacina personalizada contra o cancro da Moderna - uma decisão tomada com base nos resultados recentes daquela vacina em pacientes com cancro de pele.

Paul Burton não tem dúvidas de que "a pandemia acelerou [esta tecnologia]". "[A covid] também nos permitiu aumentar a produção, então tornámo-nos extremamente bons em produzir grandes quantidades de vacinas muito rapidamente.”

De acordo com o The Guardian, a Pfizer também iniciou o recrutamento para um ensaio clínico em estágio avançado de uma vacina contra o vírus Influenza baseada em tecnologia mRNA, bem como o heps zoster, em colaboração com a BioNTech.

"As aprendizagens que retirámos do processo de desenvolvimento da vacina contra a covid-19 informaram a nossa abordagem geral à investigação e desenvolvimento da tecnologia mRNA, bem como a forma como a Pfizer lidera a Investigação e Desenvolvimento [I&D] de forma mais ampla", refere a farmacêutica, citada pelo jornal britânico.

"Ganhámos uma década de conhecimento científico em apenas um ano", acrescenta, referindo-se aos desenvolvimentos conquistados com a criação de uma vacina contra a covid-19.

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