"É um sucesso": investigadores desenvolvem vacina contra o cancro do pâncreas com resultados promissores

11 mai 2023, 10:31
Inovações made in Portugal e avanços mundiais

Resultados surpreenderam os próprios investigadores, que iniciaram o estudo com expectativas moderadas em relação às recidivas dos tumores dos participantes

Um grupo de investigadores dos EUA desenvolveu uma vacina contra o cancro do pâncreas que obteve resultados muito promissores, ao ponto de ser já considerada "um marco" na evolução da medicina e da ciência.

Trata-se de uma vacina com tecnologia mRNA, produzida pela BioNTech, a farmacêutica alemã que, em conjunto com a gigante norte-americana Pfizer, ficou associada ao desenvolvimento da vacina contra a covid-19 que utiliza a mesma tecnologia.

No estudo, publicado na revista Nature, os investigadores explicam que começaram por extrair amostras de tumores de 16 doentes, cerca de nove semanas após a remissão do cancro, e enviaram-nas para a BioNTech, na Alemanha, onde foi feita uma análise à composição genética de certas proteínas na superfície das células cancerígenas. Partindo dessa composição genética, os cientistas da BioNTech desenvolveram vacinas personalizadas que, na prática, ensinam o sistema imunitário dos doentes a atacar os tumores.

Os resultados surpreenderam os investigadores, que iniciaram o estudo em dezembro de 2019, com a expectativa de que a vacina não seria capaz de quebrar o ciclo que caracteriza este tipo de cancro. Na verdade, a vacina provocou uma resposta imunitária em metade dos participantes e em nenhum desses oito doentes foi verificada qualquer recidiva, isto é, o cancro não voltou a aparecer durante o período do estudo - um dado que os especialistas consideram ser extremamente promissor.

"Este é o primeiro sucesso demonstrável - e vou utilizar a palavra sucesso, apesar da natureza preliminar do estudo - de uma vacina mRNA contra o cancro do pâncreas. Nesse sentido, é um marco", afirmou Anirban Maitra, investigador do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, Estados Unidos, citado pelo New York Times, que não participou na investigação.

Apesar dos resultados promissores, o estudo tem algumas limitações, desde logo o facto de partir de uma amostra bastante reduzida - 16 doentes - que receberam outros tratamentos além da respetiva vacina, nomeadamente quimioterapia e um medicamento que impede que os tumores fujam à resposta imunitária do organismo. Ou seja, os investigadores não conseguiram descartar a influência de outros fatores para o resultado obtido.

Além disso, os especialistas, como Neeha Zaidi, da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, apontam as dificuldades no acesso a estas vacinas, tendo em conta o preço a que será comercializada.

Todavia, os investigadores admitem que a rapidez com que se desenvolveu esta vacina é, por si só, um sinal promissor para o tratamento do cancro do pâncreas: "Notavelmente, o nosso estudo demonstrou que as vacinas mRNA podem ser individualizadas em nove semanas e totalmente integradas num padrão de trabalho clínico mesmo após uma cirurgia oncológica complexa."

Citado pelo New York Times, o cofundador da BioNTech, Ugur Sahin, revelou que, desde o início do estudo, a farmacêutica já conseguiu diminuir o processo de desenvolvimento das vacinas para menos de seis semanas, tendo como próximo objetivo fazê-lo em quatro semanas.

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