A última bruxa de Salem foi absolvida, graças a uma professora de oitavo ano e os seus alunos

CNN , Scottie Andrew
7 ago 2022, 17:29
Elizabeth Johnson Jr., uma mulher condenada por bruxaria na década de 1690, foi finalmente absolvida este verão depois de uma professora de Formação Cívica do oitavo ano e os seus alunos terem apresentado uma petição aos legisladores para limpar o seu nome.

Elizabeth Johnson Jr., uma mulher condenada por bruxaria na década de 1690, foi finalmente absolvida este verão depois de uma professora de Formação Cívica do oitavo ano e os seus alunos terem apresentado uma petição aos legisladores para limpar o seu nome

Nunca é demasiado tarde para corrigir erros históricos - mesmo que essa restauração da justiça aconteça quase 330 anos depois. 

Elizabeth Johnson Jr., uma mulher acusada de bruxaria durante os julgamentos de bruxas de Salem em 1690, foi finalmente absolvida na semana passada após anos de petições por parte de Carrie LaPierre, professora do estado de Massachusetts, e das suas turmas de oitavo ano de Formação Cívica. A justiça surgiu na forma de uma breve adição ao orçamento estatal para 2023

Johnson foi acusada de bruxaria em 1692, juntamente com mais de 200 outras mulheres (e homens) de Salem. Dos condenados, 19 foram enforcados e outros quatro morreram na prisão. Johnson também foi condenada à morte, mas a sua vida acabou por ser poupada. 

Ainda assim, durante toda a vida de Johnson e os séculos que se seguiram, o seu nome nunca foi realmente limpo. Só quando Carrie LaPierre, professora de Formação Cívica do oitavo ano da Escola Básica de North Andover, se deparou com esta história e envolveu os estudantes no caso, é que os legisladores de Massachusetts tomaram conhecimento. 

Como absolver uma bruxa condenada, mais de 300 anos depois 

North Andover, uma cidade no nordeste de Massachusetts, encontra-se localizada a apenas 40 minutos de Salem. Mas LaPierre não fazia ideia de que os julgamentos de bruxas de Salem tinham abundado na área de North Andover até ler um livro sobre bruxas locais, do autor Richard Hite - e foi no interior destas páginas que descobriu Johnson. 

Muitas outras bruxas foram absolvidas, a maioria postumamente, mas a falecida Johnson - ou "EJJ", como LaPierre e os estudantes a chamam - foi "ignorada por algum motivo, enquanto todas as outras bruxas condenadas foram absol ao longo dos anos", contou a professora à CNN por email. 

Detalhes sobre a vida de Johnson são escassos, mas sabe-se que a sua família foi um dos principais alvos dos julgamentos de bruxas de Salem, devido a histeria, puritanismo e conflitos entre famílias. Só no seio familiar desta mulher, 27 outras pessoas foram acusadas por bruxaria em 1692, de acordo com o Boston Globe

Nesta ilustração, uma jovem mulher acusada de bruxaria em Salem, Massachusetts, tenta defender-se perante ministros puritanos. 

Johnson apresentou uma confissão convincente em tribunal: disse que outra mulher, Martha Carrie, a tinha "persuadido a ser uma bruxa" e que lhe tinha assegurado de que "seria salva se tornasse uma bruxa", de acordo com um documento de 1962 digitalizado pelo Arquivo Documental de Julgamentos de Bruxas de Salem da Universidade de Virgínia. 

Alguns dos detalhes da sua história revelaram-se sórdidos e aterrorizantes para os residentes de Salem: Johnson disse que o diabo lhe tinha aparecido sob a forma de "dois gatos pretos" e mencionou outras pessoas em Salem que - garantia - praticavam bruxaria. Também mostrou os nós dos dedos, onde parecia que as outras "bruxas" a tinham "sugado", de acordo com o mesmo documento. 

Johnson foi sentenciada à morte aos 22 anos pelos seus "crimes", mas acabou por ser indultada pelo governador da época (cuja esposa também tinha sido acusada de bruxaria). 

Em 1711, depois de funcionários do governo terem compreendido que dispunham de poucas provas para condenar, executar ou prender mulheres (e alguns homens) por bruxaria, absolveram muitos daqueles que tinham sido condenados ou enforcados, incluindo John Proctor (que mais tarde se tornou um dos protagonistas da peça de teatro "As Bruxas de Salem", escrita por Arthur Miller). 

No entanto, o nome de Johnson foi omitido desta lista. Deste modo, em 1972, pediu a Salem que fosse incluída na lei que providenciava indemnizações às famílias dos acusados. 

"Que o Honrado Tribunal me conceda, por favor, algo em compensação pelas minhas acusações em razão da minha longa prisão, que será reconhecido com gratidão como um grande favor", escreveu, na carta

Os motivos pelos quais Johnson foi excluída são incertos. Mas LaPierre decidiu, depois de contactar a Sociedade Histórica de North Andover, que pegar no caso de uma "bruxa" há muito falecida e limpar o seu nome poderia ser um projeto cativante para os seus alunos - uma forma de aplicar, na vida real, o que tinham aprendido em Formação Cívica. 

Johnson é a última bruxa de Salem a ser absolvida

Os alunos de LaPierre dedicaram-se à absolvição de "EJJ", enviando requerimentos aos legisladores de Massachusetts na esperança de que alguém apresentasse um projeto de lei neste sentido. Depois de três anos e "numerosas deceções", uma senadora estatal ouviu-os: Diana DiZoglio apoiou uma alteração ao orçamento do estado para adicionar o nome de Johnson a uma resolução já existente, que absolvia outras "bruxas" pelo nome. 

Algumas das pessoas enforcadas durante os julgamentos de bruxas de Salem (sobretudo mulheres) foram imortalizadas com homenagens. 

Todos os requerimentos e processos burocráticos foram didáticos para as turmas de oitavo ano, mas LaPierre disse que "as lições a longo prazo foram provavelmente mais importantes: defender a justiça, falar por aqueles que não podem falar por si mesmos, e reconhecer que as suas vozes têm poder na comunidade e no mundo, e compreender que a persistência é necessária para alcançarem os seus objetivos". 

A emenda acrescenta o nome de Johnson a uma resolução de 1957 que absolveu múltiplas pessoas condenadas por bruxaria - e garante, finalmente, o desejo de Johnson por absolvição. 

Mas o trabalho de LaPierre continua: agora que o caso está encerrado, tem de encontrar um novo projeto para os próximos alunos do oitavo ano de escolaridade. Este ano, vai deixar que os estudantes determinem as questões que mais lhes interessam e os planos de ação que pretendem executar para os resolver. 

Seja o que for que os seus alunos escolham abordar este ano, as bruxas estão provavelmente fora de questão: Johnson é a última mulher condenada nos julgamentos de Salem a ser absolvida. E, com esta vitória, LaPierre e a sua turma encerraram um capítulo na história começado há séculos. 

E.U.A.

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