Atores, apresentadores e até Ronaldinho envolvidos em investigação sobre esquema de criptomoedas no Brasil

CNN Brasil | Nuno Mandeiro , Com Léo Lopes
27 ago 2023, 18:30
Ronaldinho (fonte: AP)

Antigo jogador do PSG, Barcelona e AC Milan, também conhecido como "o bruxo", foi chamado a depor pela Câmara dos Deputados e, em duas ocasiões, não compareceu. Há ainda o antigo caso de Ronaldo, o fenómeno no Congresso

A Câmara dos Deputados quer ouvir os futebolistas Ronaldinho Gaúcho, o apresentador Marcelo Tas e os atores Cauã Reymond e Tatá Werneck, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito, criada pelo governo brasileiro em junho e que tem como propósito investigar esquemas fraudulentos relacionados com o uso de criptomoedas.

A CNN Brasil relata, este domingo, que os últimos dias ficaram marcados pela aparição de nomes de várias personalidades famosas em notícias envolvendo os trabalhos das Comissões Parlamentares de Inquérito.

Na quarta-feira, a CPI das Pirâmides Financeiras, também conhecida como a CPI das Criptomoedas – uma das seis comissões em atividade no Congresso – aprovou a quebra de sigilo bancário aos atores Tatá Werneck e Cauã Reymond e ao apresentador Marcelo Tas.

Os dois atores chegaram a ser convocados para comparecer na CPI, mas num aparente volte-face conseguiram um habeas corpus concebido pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, que viabilizou a não comparecia de ambos.

Quem também foi convocado para depor à CPI das Croptomoedas foi o antigo internacional brasileiro Ronaldinho Gaúcho, que acabou por faltar duas vezes às audições em que iria prestar depoimento. Como resposta, presidente da comissão inquérito, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), determinou a condução coerciva do ex-jogador do Barcelona e AC Milan ao Congresso. A CPI pediu ainda que Ronaldinho seja impedido de sair do território do Brasil.

A CPI das Pirâmides Financeiras tem como propósito “investigar indícios de operações fraudulentas sofisticadas na gestão de diversas empresas de serviços financeiros que prometem gerar património por meio de gestão de criptomoedas, com divulgação de informações falsas sobre projetos ou serviços e promessa de rentabilidade anormalmente alta ou garantida e inexistência de taxas, mas constituindo-se num sistema de remuneração alimentado pela entrada de novos participantes (o que tem trazido prejuízos vultosos aos investidores e a toda a sociedade, entre os anos de 2019 e 2022)”, uma espécie de esquema de Ponzi dos tempos digitais.

Tatá, Tas e Cauã estão a ser investigados por terem feito publicidade para a empresa Atlas Quantum, que está acusada de ter defraudado cerca de 200 mil investidores em 7 mil milhões de reais, aproximadamente 1,3 mil milhões de euros.

Atores Cauã Reymond e Tatá Werneck tiveram sigilos bancários levantados (CNN Brasil/Reprodução redes sociais)

A defesa da atriz Tatá Werneck explicou que a campanha foi feita há cinco anos, a atriz “jamais poderia antever que a empresa se envolveria em fraudes”, acrescentando que esta foi um trabalho pontual. A defesa do apresentador Marcelo Tas escusou-se a comentar o caso.

A CNN Brasil continua a aguardar uma resposta da defesa de Cauã Reymond.

O apresentador Marcelo Tas numa conferência de imprensa em São Paulo, em julho de 2012 (WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO)

Quanto a Ronaldinho, o ex-capitão da seleção canarinha foi convocado para prestar esclarecimentos sobre negócios com a empresa 18K, outra empresa acusada de ter uma pirâmide financeira como espinha dorsal do seu modelo de negócio. A defesa diz que o ex-jogador não é sócio da empresa e que foi apenas mais uma das vítimas da 18K, que usou seu nome “sem autorização”.

Futebol no campo de CPI's

Outra CPI em andamento na Câmara dos Deputados é a das Apostas Desportivas, ou “da Manipulação no Futebol”, que é “destinada a investigar esquemas de manipulação de resultados em partidas de futebol profissional no Brasil”.

Na quarta-feira, a comissão de inquérito aprovou um convite para ouvir o jogador Lucas Paquetá. O camisola sete da seleção brasileira está a ser investigado, no Reino Unido, por possível envolvimento em esquemas com apostas desportivas.

Lucas Paquetá atuou pela Seleção Brasileira no Mundial de 2022. (Joilson Marconne/CBF)

Ainda assim, esta não foi a primeira vez que personalidades famosas brasileiras se viram envolvidas em comissões parlamentares de inquérito do Congresso.

Em outubro de 2000, foi instalada na Câmara dos Deputados a CPI da CBF/Nike, destinada a “apurar a regularidade do contrato celebrado entre a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a Nike”. A comissão ouviu mais de 100 depoentes e estendeu os trabalhos até junho de 2001, mas acabou os trabalhos sem votar o relatório final.

Entre os depoentes estiveram desde jornalistas, como Juca Kfouri e José Trajano; a personalidades do futebol, como o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira; o ex-presidente da FIFA, João Havelange; os técnicos Zagallo e Vanderlei Luxemburgo; e os jogadores Roberto Carlos e Ronaldo, o fenómeno.


O jogador de futebol Ronaldo Nazário à conversa com os seus advogados, Rodrigo Paiva (esq.) e Fabiano Gerbassi (centro), durante a audiência​ no Congresso, em Brasília, em janeiro de 2001. (JOSÉ PAULO LACERDA/ESTADÃO CONTEÚDO)

O depoimento de Ronaldo Nazário foi um dos que tiveram maior repercussão. O então atacante da Inter de Milão depôs na mesma sessão em que foi ouvido o deputado (e membro da CPI) Eurico Miranda.

Na sessão, que durou mais de nove horas, Ronaldo respondeu questões que foram desde a relação com a Nike até ao estranho episódio das convulsões que sofreu antes da final do Mundial de 1998 frente à França, passando ainda, por questões sobre quem deveria ter marcado Zidane, que fez dois golos na partida.

Outro caso mediático envolvendo CPI’s aconteceu em 2012, com a “Furacão da CPI”, alcunha dada à advogada Denise Rocha.

Na época, Denise trabalhava como assessora do senador Ciro Nogueira (PP) e teve um vídeo íntimo tornado público e assistido pelos próprios deputados durante uma das sessões.

Denise Rocha acabou demitida e ganhou fama após a repercussão do episódio, chegando a posar para a revista Playboy e, posteriormente,  entrando para o elenco do reality show “A Fazenda”, do qual foi vice-campeã em 2013.

Modelo e advogada Denise Rocha, a “furacão da CPI” (fonte: CNN Brasil)

 

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