«Não falo com 90 por cento da minha família por terem apoiado Bolsonaro»

7 jul 2020, 19:49
Juninho Pernambucano (AP)

Palavras fortes de Juninho Pernambucano sobre a atualidade do Brasil

A viver em França, onde é diretor desportivo do Lyon, Juninho Pernambucano não esquece as origens e mantém-se muito atento à realidade do seu país.

Numa forte entrevista ao The Guardian, o antigo médio deixou duras críticas a Jair Bolsonaro, presidente brasileiro, e falou sobre o tema do racismo, lembrando a morte de George Floyd.

Juninho começa por revelar que deixou de se dar com «80 ou 90 por cento da sua família» e dos seus amigos por causa de terem apoiado Bolsonaro, para depois acrescentar:

«No início, mais ou menos na segunda volta das eleições presidenciais de 2018, tentei conversar com as pessoas e mostrar-lhes vídeos e tudo o que estava a acontecer. Bolsonaro é filho do WhatsApp e de notícias falsas. As pessoas que apoiavam o Bolsonaro eram a maioria e foi decisão minha afastar-me delas. Eu sei que alguns deles agora estão a arrepender-se. Achavam que Bolsonaro era a única opção.»

«A política no Brasil não tem empatia e está a ensinar-nos a não ter também. A elite não entende o tamanho das desigualdades financeiras no país e, se crescerem, haverá violência. Estamos a assistir a isso neste momento. Temos grandes jornalistas no nosso país, mas não um editor que vá em frente e publique. Mais de 42 milhões de pessoas não votaram em 2018. Se a imprensa brasileira tivesse feito o seu trabalho, Bolsonaro nunca teria sido eleito. Jornalismo de verdade: escreva e conte a verdade a todos», prosseguiu.

Juninho falou depois sobre o racismo no Brasil: «Existem milhares de George Floyds no Brasil e milhares de outros que sofreram em silêncio e que não conhecemos. É desumano dizer que não temos George Floyds no Brasil. Há tiroteios todos os dias. Os gays também são perseguidos e essa é uma das coisas que mais me irrita nas pessoas que apoiam Bolsonaro. No entanto, ninguém pode vencer o tempo. Um dia todos descobrirão quem tu és.»

Juninho referiu depois que aprendeu muito ao vir para a Europa, já que no Brasil foi ensinado a ter como prioridade o dinheiro, e deu o exemplo de Neymar para explicar o seu ponto de vista.

«No Brasil somos educados a olhar apenas para o dinheiro, mas na Europa eles têm uma mentalidade diferente. Inconscientemente, fiz um plano de carreira porque queria ir para outro grande clube do Brasil, e não apenas por jogar futebol. Fui ensinado a procurar quem me pagaria mais. Essa é a maneira brasileira.»

«Olha o caso do Neymar. Mudou-se para o PSG apenas por causa de dinheiro. O PSG deu-lhe tudo o que ele queria e ele agora quer sair antes do fim do contrato. Mas agora é hora de retribuir, de mostrar gratidão. O Neymar precisa de dar tudo o que tem em campo para mostrar total dedicação, responsabilidade e liderança. O problema é que no Brasil há uma cultura de ganância e de querer sempre mais dinheiro. É isso que nos ensinam e é isso que aprendemos», atirou.

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