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Comentadora CNN

Bolsonaro é o maior responsável pelo enfraquecimento da democracia brasileira

3 nov 2022, 08:21
Jair Bolsonaro (Associated Press)

O Brasil tem um longo acerto a ser feito com o passado, que explica o presente e definirá o futuro

Rodovias foram fechadas, causando prejuízos econômicos na ordem de milhões, consequências diretas na vida de brasileiros que precisavam das rodovias para os seus compromissos, inclusive de saúde. É um cenário de caos que não surpreende quem acompanha a narrativa do presidente Jair Messias Bolsonaro nos últimos quatro anos.

Estrategicamente, o líder bolsonarista, derrotado nas urnas no último domingo (30), tenta desvencilhar-se dos protestos golpistas. São ações muito bem organizadas através de grupos como Telegram. Ordens do presidente e aliados orientam os manifestantes a passarem uma imagem apartidária do protesto, mas isso não engana ninguém que tenha sensatez.

No Brasil, existe um velho ditado: “embala que o filho é teu”. Tudo que está acontecendo no país possui um grande responsável: Bolsonaro, um presidente que nunca agiu com o decoro que o cargo exige, não só por falta de vontade, mas também por incapacidade. A lista de vezes que o presidente atacou a democracia é longa e vai além da demora de vir a público, de forma enfática, ordenar que os seguidores parem com as manifestações de obstrução das estradas, mas não dos demais protestos.

Nos últimos quatro anos, a democracia brasileira foi enfraquecida por Bolsonaro, ao nomear um governo de militares autoritários e sem experiência técnica, ao repetir centenas de vezes o lema fascista “Deus, Pátria e Família”, ao deturpar o conceito de liberdade e democracia e ao xingar, em protestos inflamados, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Soma-se à lamentável lista o episódio de convocar embaixadores internacionais para contestar o sistema eleitoral brasileiro, o mesmo sistema que o elegeu como presidente para o mandato que acaba no dia 31 de dezembro deste ano.

Mas, mesmo antes de ser eleito em 2018, Bolsonaro já era conhecido por suas posições antidemocráticas. O que esperar de alguém que tem como “herói nacional” um torturador? Que sempre elogiou a ditadura, responsável por matar e torturar centenas de brasileiros? Portanto, nada, absolutamente nada do caos hoje vivido no Brasil é por acaso.

É inegável que muitos dos seus apoiantes se identificam nesses valores golpistas. Uns, saudosistas da ditadura, outros, seduzidos por mentiras, outros apenas pessoas perversas. Alguns também devem ter fugido das aulas de história na escola. Quanto aos manifestantes ajoelhados no meio da rodovia e em frente aos quartéis do exército rezando o Pai Nosso, talvez algum psiquiatra explique.

Certo é que, no futuro, será doloroso olhar para esse período. Quem ficou do lado certo da história, que é unicamente o lado da democracia e que nada tem a ver com partidos, ao menos terá a consciência tranquila.

Talvez a atenção midiática mundial para a situação e as provas em vídeos, a cobrança justificada e embasada do povo, possa ajudar a fazer com que os culpados por toda a barbárie vivida sejam julgados, diferente do que aconteceu na ditadura militar brasileira.

Os desafios que o bolsonarismo impôs ao Brasil e vai continuar a impor ainda são muitos. Mas, uma das principais lições é que o país tem um longo acerto a ser feito com o passado, que explica o presente e definirá qual será o futuro.

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

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