Pacheco e o derby: «Ganha quem estiver mais inspirado»

11 jan 2001, 14:59

Só o Bessa poderá desequilibrar Dia de cultura e emoções futebolísticas. Jaime Pacheco une o Porto 2001 e o desporto e rejubila. «Vão jogar as duas melhores equipas portuguesas», assegura, certo que o factor casa pode decidir. «Somos momentaneamante favoritos, porque jogamos no Bessa».

Talvez fosse brincadeira, prova de boa disposição ou precaução súbita após uma hora de descuido. Pacheco munia-se de guarda-chuva e partia para a conversa com os jornalistas, minutos depois de ter levantado o indicador para apontar na direcção do balneário. Chovia bastante, mas não era novidade. O treinador tinha trabalhado em condições semelhantes, sem qualquer separação entre o céu e a calvície. Mas o dever terminara e podia assumir os cuidados. 

Jaime Pacheco retardava o banho, apressando a visita semanal à sala de Imprensa. Estava certo de que dispensaria os minutos habituais e pedia para que o número inesperado de jornalistas presentes no Bessa não se traduzisse num acréscimo de questões. O jogo de sábado, já se cansou de garantir, não merece abordagens especiais. Talvez por isso tenha surgido de calção e t-shirt perante uma plateia numerosa. Sem vaidade ou falsas modéstias. Com o discurso de sempre. 

«Queria começar por registar o momento que o Porto está a atravessar». Pacheco ligava o futebol à cultura e não ocultava a satisfação. «No sábado há um grande jogo e o início de um evento cultural importante, por isso devemos fazer tudo para dar um bom espectáculo». O treinador arriscava rever o programa oficial do arranque da programação da Capital da Cultura e colocava o derby em posição bem visível. «Importante é enaltecer que a cidade tem duas equipas na liderança da I Liga, que jogam um futebol respeitado por todos». Era altura de desafiar. O seus jogadores e os das Antas. «Temos de mostrar ao País que estamos na frente com justiça». 

O Boavista, ninguém esconde, quer ganhar. Essa é a filosofia de sempre, a ideia comum de um balneário que vive sem pressão. «Queríamos terminar a primeira volta na liderança, pois isso igualaria um feito único no clube alcançado nos tempos do senhor Pedroto». O técnico está certo de que pode colar-se àquele a quem chama mestre. «Somos momentaneamente favoritos, porque jogamos em casa», assegura, suspeitando que o adversário não se convencerá se a isso não for obrigado. «O F.C. Porto supera-se nestas partidas e também vai entrar para ganhar, por isso o jogo decidir-se-á para o lado de quem estiver mais inspirado». 

O discurso axadrezado, em casa de vitória, terá forçosamente de ser reciclado. É indiscutível que os jogadores vão adquirir uma confiança renovada, um novo espírito de conquista que pode aproximá-los de um momento raro. «É prematuro fazer conjecturas», garante, quando lhe falam do título nacional. «Mesmo se vencermos», lembra, «ainda ficam 17 jornadas por cumprir». A tranquilidade, percebe-se, manter-se-á. «Só mudaria o discurso se estivessemos na

última jornada». 

«Vou jogar com 11 jogadores» 

Um plantel de equilíbrios obriga-o a desenvolver um exercício mental periódico que chega a ser problemático. «Ainda nem eu sei quem vai jogar». Jaime Pacheco devolvia a provocação, rindo para quem lhe falava de tácticas. «4x3x3 ou 4x4x2? Garanto apenas que vou jogar com 11 jogadores». E no meio? Sanchez ou Pedro Santos? «Até podem jogar os dois. Todas as perspectivas são possíveis». 

A decisão só surgirá na contagem decrescente para a partida, depois de ponderados diversos factores que incluem as condições climatéricas. «Estamos tranquilos», reforça Pacheco. «Não treinamos à porta fechada, deixamos que os jornalistas trabalhem normalmente». Pacheco encolhe os ombros. «É tudo normal», reforça, mesmo depois de uma última provocação, quase desesperada. «O Drulovic não joga? A minha preocupação é a minha equipa, mas sei que o F.C. Porto não perde força quando opta pela rotatividade».

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