Deco vs Petit: uma história de desamor

18 out 2002, 15:42

De tudo um pouco em cinco episódios de fricção Golos, expulsões e lesões em cinco episódios de fricção de dois incontornáveis do F.C. Porto-Benfica.

A genialidade de um e a importância estratégica de outro fazem de Deco e Petit duas figuras incontornáveis do F.C. Porto-Benfica. O segundo decompõe em proporções semelhantes à criatividade do primeiro, o brasileiro ameaça com a mesma subtileza com que o português tranquiliza. Próximos da definição de jogador completo, desejados pelo rigor táctico pouco comum, especialmente perceptível nos pés do benfiquista, e pela rara capacidade de improviso, detectável com maior facilidade no gesto do portista, trocam, pontualmente, de reportório e invertem papéis, em novos capítulos de aproximação física.

Mas há muito mais entre Deco e Petit. Sem necessidade de recorrer à lupa, distingue-se, logo à primeira abordagem, uma incompatibilidade evidente, quase gritante, que nenhum deles se dá ao trabalho de disfarçar e pode, inclusive, contar-se em golos, lesões, expulsões, cinco episódios e três camisolas. O sexto encontro de I Liga entre ambos acrescentará as cores do Benfica às de Gil Vicente, Boavista e F.C. Porto, sendo que, no caso, o papel de «vira-casacas» é desempenhado por Petit. Aqui se recordam alguns pedaços de uma coexistência praticamente impossível para que melhor se perceba tudo quanto possa acontecer no sexto acto:

  • O mais recente caso de fricção entre ambos resultou na fractura do pé direito de Petit, ainda Martelinho não tinha feito o segundo golo do Boavista, aproveitando um excesso de Vítor Baía, que, em desespero, deixara a baliza para tentar o empate. Aconteceu no Bessa, a 20 de Janeiro deste ano. O lance parecia perdido para Deco, que se esticou e ofereceu os pitons à bola, e ganho por Petit, decidido a aliviar com fúria e força. Com o motivo da disputa prensada entre dois pés, o boavisteiro fracturou o dele e o portista acumulou o segundo cartão amarelo em 23 minutos. Para Petit era óbvio, o adversário fizera-o com maldade. Deco desculpava-se, negando a intenção de o lesionar. O Boavista manifestou, inclusive, a intenção de solicitar a suspensão de Deco enquanto Petit não pudesse retomar a competição. Deco jogou durante os dois meses de recuperação de Petit.
  • Na ressaca da derrota do Bessa, Deco defendeu-se, apontando o dedo ao queixoso e recuperando um episódio com dois anos como sua defesa. Barcelos servira, então, de cenário, o mesmo em que o F.C. Porto perdera o campeonato para o Sporting. Aí, Deco sofrera uma lesão no joelho, que ainda hoje imputa a Petit, apesar de o agora benfiquista jurar inocência e garantir que não se lembra de um único pormenor da versão do brasileiro. A verdade é que Deco não pôde defrontar o Sporting na final da Taça, mas recuperaria a tempo de marcar e vencer a finalíssima. Mais grave ainda, regressou do Brasil duas semanas depois de partir para férias e não escapou à cirurgia e a um início de época atribulado. Mas, na altura, limitou-se a acusar o departamento médico de ter sido mal avaliado e a atingir Rodolfo Moura, de saída para Alvalade. Então, o nome de Petit nunca foi pronunciado.
  • Nos cinco jogos em que se defrontaram na I Liga, Deco e Petit só terminaram juntos dois encontros. O brasileiro foi expulso por duas vezes e o português viu o cartão vermelho numa ocasião. Para além do lance de que resultou a fractura do pé direito de Petit, Deco foi expulso um ano antes, também no Bessa, depois de ter agarrado um adversário ainda no meio-campo defendido pelo F.C. Porto, no jogo em que o Boavista tomou a liderança ao adversário de circunstância, com um golo de Martelinho. Era o primeiro passo em direcção ao título.
  • Entre Deco e Petit não há empates. Petit venceu três jogos, Deco ganhou dois. Com a camisola do Gil Vicente, no final da primeira volta da época de 1999/2000, Petit perdeu um terceiro jogo frente ao o F.C. Porto, nas Antas, mas Deco não participou na vitória por 2-0.
  • Deco marcou por três vezes a Petit, Petit fez dois golos a Deco. Deco assinou-os todos num jogo, o da triste consagração do Boavista, justamente aquele em que Petit abandonou o relvado das Antas aos 12 minutos, depois de o árbitro lhe ter agitado o cartão vermelho diante do nariz. Ainda campeão, Petit fez o único golo do Boavista em nova goleada portista (4-1), com Deco a distinguir-se novamente como o melhor em campo. Aconteceu à segunda jornada da época de 2001/02. Cinco meses mais tarde, no Bessa, rubricou a autoria do primeiro de dois golos do triunfo axadrezado que desviou o F.C. Porto da rota do título e abriu as portas das Antas para a saída de Octávio Machado.
  • Caso esteja interessado em saber que mais lhes irá acontecer, não perca o F.C. Porto-Benfica de domingo, que pode seguir, ao minuto, no Maisfutebol. Entretanto, pode ir arriscando palpites. E não falamos apenas do resultado...

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