25 de outubro de 2023. O Estádio da Luz está de parabéns, há vinte anos abriu portas pela primeira vez. Desde então viveu duas décadas de histórias, sucessos e muitas memórias. Pedro Ribeiro escreve para o Maisfutebol os momentos que guarda com mais carinho.
Pede-me o meu querido Maisfutebol uma visita aos melhores momentos que vivi neste Estádio da Luz, que cumpre esta quarta-feira 20 anos. Um convite que não podia recusar, por todas as razões. Por que isto tem graça é se não for muito pensado, vamos lá. Assim de repente.
1. O primeiro jogo que me vem à memória é o épico Portugal-Inglaterra de 24 de junho de 2004. O penálti defendido sem luvas, e o decisivo, a fazer o país explodir num grito de patriótica euforia, marcado por Ricardo. Depois de estarmos a perder, e de Rui Costa ter feito um monumental golo, enquanto Postiga panenkava à lorde.
2. 13 de janeiro de 2014: Eusébio tinha morrido há poucos dias, o Benfica pôs o seu nome nas costas de todos os jogadores e bateu o FC Porto por 2-0, numa tarde de chuva, com golos de Rodrigo e Garay. Emoção muito presente todo o jogo, numa tarde em que parecia não estar em jogo uma mera vitória. Era imoral não ganhar, em oferenda ao King.
3. 14 de maio de 2005 foi o dia em que o Benfica acreditou mesmo que o jejum de títulos de campeão ia chegar ao fim. O lendário golo de Luisão, aos 83 minutos, largou a festa para aquilo que, uma semana depois, se confirmaria ser o primeiro titulo de campeão na nova Luz.
4. A 16 de abril de 2014 acreditou-se numa nova ordem no futebol português. Foi um Benfica-FC Porto de Taça, que explodiu de euforia encarnada com um golo de André Gomes. Depois de uma derrota por 1-0 no Estádio do Dragão, o Benfica ficou reduzido a dez jogadores muito cedo, por expulsão de Siqueira, esteve a ganhar, permitiu o empate e encheu-se de força para ir buscar os dois golos de que precisava. Parece que estou a ver o André Gomes a receber a bola no bico da área, de costas para a baliza a dominar no peito, o tempo parou quando ele passou a bola por cima de Fernando e fuzilou a baliza de Fabiano. Mais do que um golo, uma mudança de paradigma.
5. Um sonho de criança. Dejajero. A 10 fevereiro de 2019, com João Felix e Jonas a espalharem magia, o Benfica de Bruno Lage esmagou o Nacional, com um inacreditável 10-0. Lembro-me de, ao nono golo, todo o Estádio da Luz estar a gritar por um décimo, que chegou mesmo. Duvido que volte a ver uma goleada assim.
6. Foram muitos os dérbis memoráveis que este novo Estádio da Luz viveu e que eu tive a sorte de presenciar. O de 21 abril de 2013 acabou 2-0, mas isso nem é foi o mais importante. A jogada de Gaitán e a finalização de Lima, no segundo golo... é o poema que uma pessoa não esquece: e que Pessoa nunca escreveu.
7. Outro. 9 de novembro de 2013 . Numa eliminatória da Taça, Cardozo entrou para a lenda dos dérbis com um hat-trick de golaços. Mas foi Luisão, de novo, a resolver de cabeça, num dos mais caricatos golos que o dérbi eterno já teve a oportunidade de ver.
8. A 24 abril de 2014, o Benfica recebia uma Sra. Dona Juventus, que se apresentava favorita na meia final de uma Liga Europa que iria ter a sua final, justamente, em Turim. Buffon, Bonucci, Chielini, Tevez, Pirlo, Pogba... um timaço. O Benfica, no entanto, foi mais forte e ganhou 2-1. Grande noite europeia na Luz, contra um dos maiores emblemas naquela época do futebol europeu.
9. Luisão foi um grande central. Mas não defendia apenas: resolvia muitas vezes jogos na área contrária. Por exemplo, no dia 22 de Fevereiro de 2005, o Benfica recebia um Liverpool que era campeão europeu em titulo. O centralão brasileiro desequilibrou.
10. A 13 abril 2010 aconteceu o Dérbi de Aimar. Uma exibição de sonho e um golo arrancado quase sem angulo. 2-0, com o outro golo marcado pelo inevitável Cardozo.
11. Outro dérbi, outra vitória por 2-0 e outros golos de génios argentinos: Enzo Perez e Gaitan. Demolidores, Foi a 11 de Fevereiro de 2014 e dispensa mais palavras. Porque há coisas que não se explicam.
12. Talvez seja estranho trazer um jogo em que o Benfica perdeu. Mas nunca vou esquecer aquele estádio erguer-se de um 0-3 contra o velho rival, comandado pelo ex-treinador da casa. Foi naquele momento que se inaugurou o grito «eu amo o Benfica», espontaneamente cantado pelos adeptos. A arrancada para o Tetra foi ali, naquela noite de 25 outubro de 2015.
13. E quando o Benfica derrotou, com um salto de peixe, o todo poderoso Manchester United, e Ronaldo fez o seu pirete para as bancadas? Lendário, pois claro. 7 de dezembro de 2005. Beto (quem?) e Giovanni deram a volta a um United de Alex Ferguson que impressionava, com aqueles pesos pesados todos: Van der Saar, Gary Neville, Rio Ferdinand, Scholes, Giggs, Rooney, Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy, Do outro lado, note-se: Alcides, Beto, Anderson. Mas também Nuno Gomes, Geovanni, Petit, Luisão, Leo. Valentes!
14. 13 de maio de 2017 foi épico: estava cá o Papa, o Salvador Sobral ganhava a Eurovisão em Kiev e o Benfica sagrava-se tetracampeão. 5-0 ao Vitória de Guimarães e uma festa que só acabou de manhã, no Marquês. Inesquecível.
15. Dia 22 de outubro de 2009, o Benfica fez sonhar os adeptos com o regresso do grande Benfica europeu, espetando (perdoem o português, mas foi mesmo assim) 5-0 ao Everton. Aimar, Ruben Amorim, Ramires, Saviola, Cardozo e Di Maria deram um recital inesquecível, num jogo que para mim foi ainda mais especial: foi a primeira vez que o meu filho viu, então com 6 anos, um jogo europeu do Glorioso ao vivo.
16. A 2 de maio de 2013, uma das mais memoráveis noites europeias no atual Estádio da Luz, Um rolo compressor de futebol de ataque acabou com o Fenerbahçe e levou o Benfica à Final da Liga Europa. Cardozo, Gaitan, Salvio, Enzo, Matic, Lima, Que carrossel. 3-1. O pior foi a final, mas este jogo foi inesquecível em bom.
17. A 31 de agosto de 2009 percebeu-se, no final daquele Benfica-Vitória de Setúbal, que esta época ia ser especial. O rolo compressor exibia a sua face mais brilhante, com um 8-1 que pecou por escasso. O Benfica jogou como não se via desde o Estádio da Luz antigo, Que noite. Este ano ia dar para nós, pensou-se. E deu, David Luiz e Luisão. Ruben Amorim, Javi Garcia e Pablo Aimar. Ramires. Saviola, Di Maria e Cardozo. Que luxo.
18. O calendário dizia-nos que era 17 de novembro de 2010. A Espanha apresentou-se para um particular na Luz como campeão do Mundo e da Europa. E levou 4. O que fica desse jogo é, no entanto, o golo que não foi. Um chapéu de Ronaldo a Casillas, com Nani a tocar a bola em fora de jogo, anulando o golo ao capitão, que ainda hoje deve estar na azia. Um banho de bola impressionante da seleção de Paulo Bento contra gente do calibre de Xavi, Sérgio Ramos, Casillas, Busquets, Xabi Alonso, David Silva, Iniesta... Além do mais, jogámos com um dos mais espetaculares equipamentos de sempre da nossa seleção.
19. A 29 de setembro de 2021 o Benfica recebeu o gigante Barcelona, num jogo da Champions e espetou 3-0. Darwin teve a sua noite, com duas batatas. Ah e tal, não era o grande Barcelona. Amigos, era o Barça e era para a Champions. E o Benfica começou com 10, dado que lançou Lázaro no onze. Mesmo à campeão. Noite épica.
20. Não posso deixar de incluir nos jogos mais marcantes destes 20 anos do novo Estádio da Luz, dos que presenciei lá na bancada onde tenho o meu lugar, aquele em que não estive nessa cadeira. Por uma boa razão, devo dizer: estava no relvado. Uma das coisas mais marcantes da minha vida aconteceu em julho de 2012. O meu nome passa a constar de um jogo em que participou a equipa principal do Sport Lisboa e Benfica. Joguei dez minutos e toquei três vezes na bola. Em suma: os melhores minutos da vida.