Prestação a pagar ao banco volta a aumentar em outubro. Subida já ultrapassa os 80% desde que juros começaram a subir

29 set 2023, 07:00
Habitação

As taxas Euribor voltaram a subir em setembro. Quem tiver o contrato de crédito à habitação a ser revisto no próximo mês voltará a sentir uma subida da prestação a pagar ao banco. Uma subida que, no entanto, é cada vez menor, refletindo o abrandamento das taxas Euribor e o provável fim de subida de taxas de juro pelo Banco Central Europeu. Confira o seu caso

Em outubro de 2021, a família Silva pagava uma prestação mensal ao banco de pouco mais de 450 euros por um crédito à habitação de 150 mil euros, a 30 anos, indexado à Euribor 12 meses e com um spread de 1%.

As taxas Euribor estavam, por essa altura, em valores negativos e a taxa de inflação na zona euro era de 4,1%, já acima do objetivo de 2% definido pelo Banco Central Europeu (BCE). Mas em Frankfurt, na Alemanha, a líder do BCE, Christine Lagarde, mantinha que a subida dos preços era “transitória”.

Já em novembro e em Lisboa, numa entrevista à CNN Portugal, a líder do BCE dizia mesmo que não estava a ver aumentos das taxas de juro em 2022. “Está fora de questão”, garantia Lagarde.

Apesar da garantia, nos mercados financeiros, a convicção de que as taxas de juro do BCE iriam mesmo subir tinha reflexos. E a média mensal das Euribor de janeiro de 2022 já registavam uma primeira subida que, desde então, praticamente não voltou a parar.

 

NOTA | O que são as taxas Euribor

Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).

 

O tempo ia passando e, em junho de 2022, a taxa de inflação na zona euro atingia os 8,6%. No mês seguinte, pela primeira vez em 11 anos, o BCE subia as suas taxas diretoras em 50 pontos base. Desde então, os juros do BCE ainda não pararam de subir.

 

NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.

 

Em outubro de 2022, o contrato da família Silva foi revisto com base na Euribor de setembro desse ano. A Euribor tinha passado de um valor negativo para 2,233% e a prestação a pagar ao banco subiu para mais de 651 euros. Uma subida de mais de 44%.

No próximo mês, quando o crédito à habitação da família Silva voltar a ser revisto com base na Euribor deste mês, a taxa de referência já será de cerca de 4,145%. A prestação deverá subir para mais de 818 euros. Uma subida superior a 80% face à prestação que pagava há dois anos (450 euros).

O retrato da família Silva não difere muito das restantes famílias com crédito à habitação em Portugal que vão ter os seus contratos revistos no próximo mês. A generalidade dos aumentos na prestação a pagar ao banco desde que as taxas de juro começaram a subir ronda os 80%. E mesmo analisando a subida registada no último ano, a subida chega a ultrapassar os 40%.

 

Quanto já aumentou e quanto vai subir em outubro a prestação da casa:

Empréstimo a 30 anos com spread de 1%

EURIBOR A 3 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 92,54  
Janeiro de 2023 106,25 13,71
Abril de 2023 118,07 11,82
Julho de 2023 127,21 9,14
Outubro de 2023 132,32 5,11
Aumento face há um ano   39,78

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 185,08  
Janeiro de 2023 212,50 27,42
Abril de 2023 236,15 23,65
Julho de 2023 254,41 18,26
Outubro de 2023 264,63 10,22
Aumento face há um ano   79,55

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 277,63  
Janeiro de 2023 318,76 41,13
Abril de 2023 354,22 35,46
Julho de 2023 381,62 27,40
Outubro de 2023 396,95 15,33
Aumento face há um ano   119,32

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 370,17  
Janeiro de 2023 425,01 54,84
Abril de 2023 472,30 47,29
Julho de 2023 508,83 36,53
Outubro de 2023 529,27 20,44
Aumento face há um ano   159,10

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 462,71  
Janeiro de 2023 531,26 68,55
Abril de 2023 590,37 59,11
Julho de 2023 636,03 45,66
Outubro de 2023 661,59 25,56
Aumento face há um ano   198,88

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 555,25  
Janeiro de 2023 637,51 82,26
Abril de 2023 708,45 70,94
Julho de 2023 763,24 54,79
Outubro de 2023 793,90 30,66
Aumento face há um ano   238,65

 

EURIBOR A 6 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 100,03  
Abril de 2023 123,23 23,2
Outubro de 2023 134,6 34,57
Aumento face há um ano   34,6

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 200,07  
Abril de 2023 246,47 46,4
Outubro de 2023 269,21 69,14
Aumento face há um ano   69,1

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 300,1  
Abril de 2023 369,7 69,6
Outubro de 2023 403,81 103,71
Aumento face há um ano   103,7

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 400,13  
Abril de 2023 492,94 92,81
Outubro de 2023 538,41 138,28
Aumento face há um ano   138,3

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 500,16  
Abril de 2023 616,17 116,01
Outubro de 2023 673,01 172,85
Aumento face há um ano   172,9

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 600,2  
Abril de 2023 739,4 139,2
Outubro de 2023 807,62 207,42
Aumento face há um ano   207,4

 

EURIBOR A 12 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 108,57  
Outubro de 2023 136,43  
Aumento face há um ano   27,9

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 217,14  
Outubro de 2023 272,86  
Aumento face há um ano   55,7

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 325,71  
Outubro de 2023 409,29  
Aumento face há um ano   83,6

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 434,27  
Outubro de 2023 545,72  
Aumento face há um ano   111,5

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 542,84  
Outubro de 2023 682,15  
Aumento face há um ano   139,3

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Outubro de 2022 651,41  
Outubro de 2023 818,58  
Aumento face há um ano   167,2

 

A boa notícia: o pior já terá passado

Apesar de a subida nas prestações a pagar ao banco ainda não ter parado, tem vindo a desacelerar e na base desta desaceleração está o comportamento das taxas Euribor que, apesar de continuarem a aumentar, registam aumentos cada vez menores. A Euribor a 12 meses, por exemplo, chegou a recuar de julho para agosto, mas voltou a aumentar em setembro, ainda que de forma pouco significativa. Já as Euribor a 6 meses e a 3 meses não param de aumentar desde janeiro de 2021, mas a um ritmo cada vez menos intenso.

Para o futuro, o mais expectável é que estas taxas venham a estabilizar à boleia da convicção que o BCE não voltará a aumentar as suas taxas de juro. Numa sondagem efetuada pela agência Reuters a 70 economistas, entre 15 e 18 de setembro, todos dizem acreditar que as taxas atingiram o seu valor máximo e que se deverão manter inalteradas até julho de 2024.

Segundo a mesma sondagem, existe apenas uma probabilidade de 20% de as taxas poderem voltar a subir. E para esse cenário se confirmar, os dados que serão conhecidos da inflação serão determinantes. Esta sexta-feira, o Eurostat, órgão estatístico da União Europeia, divulga a sua estimativa da inflação de setembro. E no próximo mês, dia 26, o BCE voltará a reunir-se para decidir se mantém, ou não, inalteradas as suas taxas diretoras.

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