Centeno declama poesia sobre a liberdade de pensamento na ressaca da polémica para ser primeiro-ministro de emergência

ECO - Parceiro CNN Portugal , Alberto Teixeira
16 nov 2023, 10:34

Sem mencionar a polémica, o governador do Banco de Portugal citou um poema de David Mourão Ferreira

Mário Centeno, que ao justificar o polémico convite para ocupar o cargo de primeiro-ministro disse ao Financial Times que “refletiu” sobre o tema, considerou esta quinta-feira que todo o país, e não apenas do Banco de Portugal, deve ser convidado a refletir num momento em que está “concitado”.

“Reunimo-nos aqui num momento em que o país é concitado, refletido, pensado. Devem todos – e não apenas o Banco de Portugal – ser convidados a refletir”, referiu o governador na conferência Banca do Futuro, organizada pelo Jornal de Negócios.

Logo depois, sem mencionar a polémica em que se viu envolvido por conta da proposta que lhe foi feita por António Costa para liderar o Governo, Centeno citou um poema de David Mourão Ferreira, celebrizado num fado de Amália Rodrigues.

“Por teu livre pensamento,
foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar”.

A comissão de ética do Banco de Portugal concluiu que o governador “cumpriu os deveres gerais de conduta” no caso do convite para liderar o governo. Mário Centeno esteve sob pressão nos últimos dias não só por causa de António Costa ter proposto o seu nome para primeiro-ministro, levantando questões em relação à independência do banco central, mas também depois de ter sido desmentido pelo Presidente sobre as declarações que fez ao Financial Times.

Fugindo a esta polémica, Centeno abordou o “desafio” que se coloca à economia nacional nos próximos anos devido à deterioração das condições externas.

“Os próximos três anos são mais desafiantes do que qualquer período anterior na sua dimensão externa. Temos um momento de desaceleração da economia. A economia cresce menos do que antes da pandemia. Esta desaceleração tem a ver com a dimensão externa”, apontou.

Ainda assim, apesar da desaceleração, continuará a haver “um forte contributo das exportações e investimento para o crescimento da atividade económica, mas a um ritmo muito inferior ao que observámos na pandemia”.

Além das guerras, Centeno apontou a normalização da política monetária que foi mais rápida do que seria desejado, mas está a ser bem-sucedida na queda da inflação. “Teria sido desejável que isto fosse feito num período mais longo, não foi isso que aconteceu”, apontou. Acredita que a Zona Euro “terá chegado ao nível máximo das taxas de juro nominal”, mas a taxa de juro real irá continuar a subir, o que significa que “o aperto financeiro vai continuar connosco durante mais tempo”.

O governador estima que a taxa de juro neutral deverá situar-se entre os 2% e os 2,5%, pelo que deverá descer dos atuais níveis.

Em relação aos resultados dos bancos, Centeno recusou que sejam “extraordinários e excessivos”, mas resultam antes de uma “dimensão cíclica muito significativa”. “Os resultados são merecidos e devem representar a maior fatia da preparação de futuro que a banca nos pode oferecer”, frisou. O governador disse que os bancos estão a responder ao desafio da remuneração das poupanças, enquanto “milhares de créditos redesenhados face às novas condições”. “É esse o sinal que aprecio, os números mostram uma preocupação permanente”, disse.

(Notícia atualizada às 10h50)

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