Agentes secretos infiltrados, penas de prisão enormes: X (ex-Twitter) acusado de ajudar a Arábia Saudita a violar direitos humanos

CNN Portugal , ARC
4 set 2023, 19:38
As novas medidas não foram bem recebidas por alguns utilizadores. Foto: Tayfun Coskun/Anadolu AgencyGetty Images

Caso foi divulgado pelo jornal britânico Guardian

O X, outrora conhecido como Twitter, está a ser acusado de ajudar a Arábia Saudita a violar os direitos humanos dos utilizadores. O processo judicial, que decorre nos EUA, alega que a rede social divulga esses dados a pedido das autoridades sauditas a um ritmo elevado - muitas vezes no próprio dia.

Abdulrahman foi vítima desta violação dos direitos humanos por parte do Governo com o auxílio do X, avança o Guardian. Após três agentes secretos sauditas se terem infiltrado na empresa, dois deles fingindo ser funcionários em 2014 e 2015, a identidade de milhares de utilizadores da rede social ficou exposta, alguns dos quais foram detidos e torturados, escreve o jornal.

Os visados são críticos do Governo, como Abdulrahman. O trabalhador humanitário foi condenado a 20 anos de prisão e a irmã Areej al-Sadhan instaurou o processo judicial que agora decorre e que teve início em maio deste ano, tendo apenas sido divulgado esta segunda-feira pelo jornal britânico.

"O que ela mais deseja é que a Arábia Saudita liberte simplesmente o seu irmão e o deixe voltar a juntar-se à sua família nos Estados Unidos", diz o advogado Jim Walden, citado pelo Guardian, garantindo que acredita no caso de Areej. "Se isso acontecesse, ela e o Abdulrahman retomariam com gratidão as suas vidas e deixariam a justiça nas mãos de Deus."

Os advogados de Areej al-Sadhan atualizaram a queixa na semana passada e incluíram novas alegações sobre a forma como o X, à data ainda Twitter e sob a liderança de Jack Dorsey, teve alegadamente conhecimento da campanha do Governo da Arábia Saudita para parar os dissidentes e ignorado deliberadamente a mesma.

Este novo processo surge dias depois de a Human Rights Watch ter condenado um tribunal saudita por sentenciar um homem à morte com base na sua atividade no X e no Youtube. No X, Muhammad al-Ghamdi, o homem em causa, detinha duas contas com um total de 10 seguidores e menos de 1.000 tweets cada, nos quais criticava a corrupção e as violações dos direitos humanos no país.

O homem de 54 anos é irmão do conhecido ativista saudita Saeed bin Nasser al Ghamdi, que teve de se exilar no Reino Unido. A decisão das autoridades do país levou a organização de defesa dos direitos humanos a considerar a decisão do Governo como um marco na “escalada” da repressão do Governo do país contra a liberdade de expressão, que não é de agora.

Os casos remontam a dezembro de 2014, quando Ahmad Abouammo enviava dados confidenciais dos utilizadores ao Governo da Arábia Saudita. “De forma proativa e reativa, eliminaremos o mal, meu irmão”, escreveu Ahmad Abouammo numa mensagem a Saud al-Qahtani, o assessor do príncipe herdeiro através da rede social. 

Ahmad Abouammo demitiu-se do X, então Twitter, em maio de 2015, mas é suspeito de ter continuado a contactar a empresa para responder aos pedidos que lhe eram dirigidos pelos “antigos parceiros no governo saudita” para identificar utilizadores.

De acordo com o Guardian, as autoridades da Arábia Saudita pedem com urgência os dados dos utilizadores de interesse, que lhes são enviados através de agentes que trabalham dentro da empresa. Esses pedidos acontecem após a identificação desses utilizadores para serem usados contra os mesmos em tribunal e, muitas vezes, esses pedidos são aprovados no mesmo dia.

O processo em curso garante que a rede social divulga dos dados dos utilizadores a pedido das autoridades a um ritmo mais elevado que nos EUA, no Reino Unido ou no Canadá.

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