"La única salida que se preveía para el era por la puerta grande": Costa visto lá fora (e o "El País" lança Medina, executor das "cuentas correctas")

CNN Portugal , MJC
8 nov 2023, 11:11
António Costa apresenta a demissão (Lusa/ José Sena Goulão)

Entre elogios ao seu desempenho como primeiro-ministro, há uma tendência na maneira como os órgãos de comunicação social estrangeiros olham para o que aconteceu a António Costa: "Demitiu-se manchado por um escândalo de corrupção"

"A esquerda europeia perde uma referência com a demissão de António Costa", escreve o jornal espanhol El País esta quarta-feira. "Com a sua demissão como primeiro-ministro, a esquerda perdeu um dos seus valores mais seguros. Era o único socialista a governar com maioria absoluta na Europa, além de Robert Abela, do Partido Trabalhista, em Malta".

Mais: "O nome de António Costa estava nas apostas para presidir ao Conselho Europeu. A única saída prevista para o primeiro-ministro  português era pela porta grande", continua o El País. Que faz mais: lança Medina, "uno de los delfines más apreciados por Costa", como uma hipótese para resolver a crise política caso Marcelo peça ao PS para escolher um novo primeiro-ministro.

No artigo do jornal espanhol é feita uma referência elogiosa às contas públicas - superavit e redução da dívida - e esse mérito é atribuído a Fernando Medina. "Medina ha sido un buen ejecutor de la política de contas certas (las cuentas correctas) que Costa ha convertido en la espina dorsal de sus mandatos." E agora em Português: "Se algo permaneceu inalterado nos oito anos de mandato (e apenas dois com maioria absoluta) foi a obsessão de António Costa em manter os gastos sob controle e evitar que o país voltasse a sofrer um resgate traumático como o de 2011".

Outros jornais: "Portugal. Primeiro-ministro António Costa demitiu-se manchado por um escândalo de corrupção", escreveu terça-feira o Le Monde numa notícia que se baseava em grande parte num artigo da Agência France-Press (AFP). "O chefe do Governo viu-se envolvido num caso de corrupção ligado à adjudicação de contratos de energia que levou, nomeadamente, à acusação de um dos seus ministros e do seu chefe de gabinete."

O foco inicial das notícias das agências foi colocado nas suspeitas de corrupção e foi isso que muitos meios de comunicação internacionais reproduziram. Além da AFP, a agência espanhola Efe, por exemplo, escreveu que Costa demitiu-se “devido à investigação por possível prevaricação, corrupção ativa e passiva e tráfico de influências nos negócios do lítio e do hidrogénio, embora tenha garantido que não cometeu qualquer irregularidade”.

“O primeiro-ministro português António Costa demitiu-se no âmbito de uma investigação sobre eventuais crimes de corrupção relacionados com projetos de lítio e hidrogénio”, escreveu a Bloomberg, enquanto a Associated Press (AP) referiu que o governante português “anunciou a sua demissão após ter sido envolvido numa investigação de corrupção generalizada”. "A Procuradoria-Geral da República disse que o Supremo Tribunal estava a examinar o 'uso do nome do primeiro-ministro e o seu envolvimento' pelos suspeitos na realização de atividades alegadamente ilícitas. Afirmou ainda que o ministro das infraestruturas, João Galamba, e o chefe da agência ambiental estão entre os suspeitos", explicou a AP numa notícia publicada terça-feira.

Também a Reuters noticiou que Costa demitiu-se "por causa de uma investigação de corrupção", "horas depois de os procuradores terem detido o seu chefe de gabinete numa investigação sobre alegada corrupção na gestão de projetos de mineração de lítio e hidrogénio".

"O primeiro-ministro português, António Costa, apresentou a sua demissão na terça-feira, depois de a polícia ter revistado a a sua residência oficial e o procurador-geral do país ter confirmado que ele estava a ser investigado no âmbito de uma investigação de corrupção", escreveu o Politico. O Financial Times, a Economist, o jornal britânico Guardian, a Sky News, os jornais espanhóis  El Mundo e El Diario, o norte-americano Washington Post, entre outros, também seguiram esta linha. 

Na BBC, uma notícia assinada por Ana Nicolaci da Costa foi uma das poucas que não usaram o termo corrupção ligado imediatamente ao nome do chefe de Governo: "Primeiro-ministro português, António Costa, demite-se devido a investigação sobre acordo de lítio", escreveu esta jornalista, explicando depois: "A crise política surgiu depois de os procuradores terem publicado um comunicado detalhando buscas em mais de 40 instalações diferentes como parte do inquérito. O Ministério Público está a investigar alegada corrupção e tráfico de influência em concessões de mineração de lítio no norte de Portugal, bem como um projeto de produção de hidrogénio e a planeada construção de um centro de dados no porto de águas profundas de Sines, a sul de Lisboa. Cerca de 140 inspetores revistaram 17 propriedades residenciais e 25 outras instalações, incluindo o gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro e dois ministérios do governo".

Da mesma forma, o jornal norte-americano New York Times preferiu ser mais cuidadoso: "Primeiro-ministro português demitiu-se inesperadamente", foi o título da notícia publicada na terça-feira, que explicava que a demissão aconteceu depois de "a polícia ter invadido edifícios governamentais como parte de um inquérito sobre corrupção e 'tráfico de influência' e emitido um mandado de prisão para o chefe de gabinete de Costa".

O espanhol La Vanguardia foi outro dos que evitaram usar a palavra corrupção no título: "António Costa demite-se de primeiro-ministro de Portugal", disse simplesmente, esclarecendo depois o alegado envolvimento do PM num "escândalo" relacionado com projetos de hidrogénio verde e lítio.

O próprio El Pais começou por noticiar terça-feira, com grande destaque na sua edição online e com uma notícia bastante completa sobre o que está em causa na investigação do caso do lítio, a demissão do PM português "envolvido num caso de corrupção". Mas hoje faz uma análise mais detalhada da situação, assinada pela jornalista Tereixa Constenla, estabelecida em Lisboa: "Os portugueses estão chocados com a demissão de Costa e com o fim abrupto de uma era política construída com sorrisos e mão de ferro durante oito anos", escreve. "A única saída para o líder socialista que estava a ser considerada em Portugal estava relacionada com o desempenho de algum cargo comunitário. Em Bruxelas – onde foi recebido com desconfiança quando chegou ao poder em 2015, pelas mãos de dois partidos mais de esquerda que o seu (o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português) – construiu uma imagem respeitada tanto pela sua capacidade de diálogo na política internacional, como pelos seus esforços para reduzir a dívida pública e o défice interno."

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