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Colunista e comentador

“Justiça desportiva” é um saco de gatos

2 mai 2022, 12:48
FC Porto-Sporting

Não haverá evolução no futebol português enquanto a ‘justiça desportiva’ evidenciar o grau de ‘eficácia zero’ (ou perto disso) que vem revelando há muitos anos.

Esta época, mais do mesmo.

Talvez os titulares dos cargos que ocupam na chamada ‘justiça desportiva’ sintam que estão a cumprir a sua tarefa com zelo, de acordo com o ‘normativo’ vigente.

Não podem ter, contudo, a consciência tranquila, porque estão a ser cúmplices de uma farsa e para a falta de 'verdade desportiva' do nosso campeonato.

Podem não ter responsabilidade nisso, mas há uma justiça desportiva para os chamados ‘clubes grandes’ e uma outra para os clubes médios e os mais pequenos. É evidente.

É impressionante aquilo a que posso denominar o ‘vício de recurso’ dos chamados clubes ‘grandes’.

Há aliás um vício sistémico associado às dinâmicas dos maiores clubes em Portugal, e não apenas no que diz respeito à ‘justiça desportiva’.

Com a arbitragem é o mesmo. Tudo o que mexe é objecto de queixa, reclamação, recurso.

Ainda agora por causa do Sporting-Gil Vicente, o Benfica veio fazer de VAR. Mas não é só o Benfica. Infelizmente, há também o VAR do FC Porto e o VAR do Sporting. E outros VARes que são os azares de quem quer ver um futebol descomprometido e saudável.

Estão profundamente errados nesta dinâmica e só prejudicam o futebol, achando que — com este tipo de pressões — haverá algum benefício na jornada a seguir. E às vezes há, porque há muita gente fraca na bola indígena.

O Tribunal do Desporto é apenas para clubes ricos.

O Conselho de Disciplina parece Godot, sempre à espera, neste caso que os instrutores da CI se despachem e acordem do seu sono profundo.

A Comissão de Instrutores, cujo presidente e restantes elementos não são eleitos e resultam de  uma escolha do presidente e da Direção da Liga (não me parece que seja a melhor solução), está sujeita a todo um arrazoado de pressupostos, aparentemente relacionados com o direito à defesa, que mina a eficácia da ‘justiça desportiva’ no seu todo.

Não se vê nada disto em mais lado nenhum:

  1. Clubes a recorrer por tudo e por nada;
  2. Tanto tempo para decidir em tempo útil um caso que se passou, por exemplo, sobre o relvado e que a opinião pública percepciona de maneira às vezes fácil e imediata.

Isto tem de acabar em Portugal.

O ‘caso inglês’, tantas vezes citado, é um bom exemplo de eficácia e em pouco tempo.

Aqui, as multas são irrelevantes, porque são os clubes que aprovam os regulamentos (há anos que chamo a atenção para esta desconformidade em causa própria) e os ‘pequenos’ vão atrás dos ‘grandes’, com medo de — passe a expressão - comerem por tabela.

Veja-se o caso do FC Porto-Sporting, realizado há quase três meses, que acabou com aquele espectáculo indecente após a conclusão do mesmo, com dezenas de pessoas dentro do relvado e gente teoricamente responsável e associado ao promotor da partida a envolver-se em cenas inaceitáveis.

Acham que em Inglaterra o processo não estava concluído com consequências indiscutíveis na proteção do jogo e da indústria?

Em Portugal, a ‘justiça desportiva’ é um autêntico saco de gatos, prisioneira de um futebol sem ética e com dinâmicas e regras obsoletas.

O problema é que todos parecem confortáveis com este regime. Ninguém age. Todos são cúmplices. 

Porquê?

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