"Há uma onda tão forte de mudança que o regime [do MPLA] pode cair", diz presidente da UNITA

22 ago 2022, 23:37

Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, Adalberto Costa Júnior garante que a UNITA vai conseguir chegar ao poder em Angola. João Lourenço, do MPLA e atual presidente angolano, declinou o convite para ser entrevistado

“Posso dizer que, num ambiente absolutamente democrático, esta é uma campanha ganha”. Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA e único opositor a João Lourenço, do MPLA, na corrida à presidência de Angola não esconde a confiança na vitória das eleições que se irão realizar já na próxima quarta-feira, um discurso em tom triunfante que foi repetindo ao longo de toda a conversa.

Numa entrevista em exclusivo à CNN Portugal - e na qual não houve espaço para contraditório e debate, pois João Lourenço declinou o convite -, o engenheiro eletrotécnico de 60 anos e líder do partido UNITA desde 2019, não se poupou nas críticas ao atual presidente e em apontar o dedo às constantes “violações” das leis eleitorais e à “campanha antidemocrática” levada a cabo por João Lourenço, campanha essa que terminou no passado sábado para dar atenção às cerimónias fúnebres de José Eduardo dos Santos, que se realizam nos próprios dias.

“Nós dependemos da nossa capacidade de fiscalização e da capacidade de controlo e fiscalização do cidadão. Das instituições  não esperamos nada, porque as instituições provaram ser absolutamente partidárias, violaram as leis, todas elas, tudo quanto as leis obrigam foi violado”, diz.

Adalberto Costa Júnior garante que o seu partido tem “um programa fortíssimo” e “condições, ainda assim, de poder realizar a alternância” à liderança do país. “Há uma onda tão forte de mudança que o regime pode cair, sim senhora, porque o povo está cansado de viver nesta realidade, cansado de ver o seu futuro adiado”.

“Há uma questão muito clara, que é uma onda de mudança, é claríssima. temos uma segunda questão, que é a absoluta impreparação dos dirigentes do MPLA para a alternância política”, frisa, adiantando até que “temos um candidato João Lourenço assustado com a perspectiva da derrota” e que o “MPLA tem-nos demonstrado que não está preparado” para haver mudanças políticas no país. 

Quando questionado sobre os riscos de violência à boleia das eleições - sobretudo no pós ato eleitoral -, Adalberto Costa Júnior limita-se a dizer que “hoje temos partidos absolutamente civis” e que se houver violência é porque “o partido regime assim o decidiu”, escusando-se de responsabilidades após ter apelado aos cidadãos que não regressem a casa depois de votar e que permaneçam junto das assembleias de voto. “A única forma de o cidadão ter a certeza de que controla o seu voto é não indo para casa, é ficando na proximidade e isto não viola nenhuma lei, mas ninguém está a pedir que vote e fique dentro das assembleias”, destaca, voltando a colocar no dedo na ferida dos últimos atos eleitorais no país: a “pressão para a transparência”. “É normal que o MPLA tenha medo disso. É muito triste que um governo organize cinco eleições se não consiga ser equidistante”.

Sobre a possibilidade de a UNITA vender as eleições, mas o MPLA não aceitar os resultados e esse cenário levar a um governo de união nacional, Adalberto Costa Júnior riu-se, mas foi taxativo na resposta: “Se ganharmos as eleições, significa que vamos governar. Nós temos já nas nossas listas uma pluralidade de propostas, não temos uma dificuldade de diálogo institucional”, afirmando que procurou o diálogo com o MPLA por várias vezes.

Quanto aos alegados apoios financeiros dos EUA e de Israel ao UNITA, o líder do partido responde à CNN Portugal com um “quem me dera tê-los recebido”. “Não se ele [João Lourenço] falava disto, porque ele não foi claro, mas muito terra-a-terra, as leis angolanas são muito claras quanto aos financiamentos das campanhas e a UNITA fez uma campanha com poucos recursos, de tivesse ocorrido o que são estas acusações, tinha feito uma campanha rica. Em todos os locais onde parámos, não tínhamos sequer camisola e chapéu para dar, nós aplicamos os poucos recursos que tivemos em dois elementos essenciais, a mobilização do voto e a segurança do voto”.

Os filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos apelam ao voto na UNITA, mas Adalberto Costa Júnior não quis responder se se trata de um ‘presente envenenado’, mudando o discurso para a corrupção no país e, mais uma vez, apontando o dedo a João Lourenço.

“Nos últimos anos acompanhei esta dialética, este debate à volta da problemática à volta da corrupção, creio que é disso de que está a falar. Nesta matéria, a UNITA está muito tranquila e muito à vontade, porque foi a UNITA que levou ao parlamento angolano a primeira proposta de lei de repatriamento de capitais e foi o MPLA que votou contra esta proposta”. E continua: “Votou contra, não tinha nenhuma proposta na altura ao nível daquela nossa e levou ao parlamento uma proposta pequenina, sem grande interesse onde quem roubou devolvia para o seu próprio bolso, nenhum interesse para o estado angolano. E pior, quando aprovaram esta proposta não a regulamentaram”. 

“Na verdade, o balanço do repatriamento de capitais do governo de João Lourenço é mínimo, é absolutamente insignificante, e a UNITA sobre esta matéria tem uma leitura muito clara e é talvez exatamente esta leitura que agrada os angolanos. Nós queremos uma Angola de desenvolvimento, não queremos uma Angola de perseguidos e de protegidos. Há corruptos sentados no governo angolano que nunca foram alvo de qualquer processo. Portanto, o combate da corrupção aqui é uma grande mentira, perseguiram os seus inimigos, perseguiram os filhos do ex-presidente da República [José Eduardo dos Santos], mas protegeram os ministros bilionários que estão sentados ao lado de João Lourenço. Como vê, isto não é aquilo que faz a justiça”. 

Adalberto Costa Júnior  volta a mostrar-se confiante com a vitória da UNITA, com uma “maioria no parlamento” e com a capacidade de aplicar “de novo a lei do repatriamento de capitais que o MLPA votou contra”, uma lei de define como “de equilíbrio”, pois “partilha pelo meio dos benefícios desta questão do repatriamento, uma parte do repatriamento vem trazer substantivos meios para os recursos públicos, para criar oportunidades de escolas, de estradas”. “A outra parte fica com quem aceitou fazer, mas é obrigado a fazer investimento, cria emprego, cria dinâmica económica e isto foi aquilo que nós sentimos que os angolanos gostaram de ouvir”, conclui.

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