Os «Spurs» voltaram a ser britânicos com Sherwood
Ponto forte: capacidade criativaAinda que o Tottenham esteja mais britânico com Tim Sherwood, o plantel continua a ter criativos de grande qualidade, como Eriksen, Sigurdsson ou Lamela. Jogadores que podem desbloquear um jogo de um momento para o outro, independentemente do (mau) momento de forma da equipa.
Ponto fraco: infantilidade defensiva
A listagem de erros defensivos infantis é longa, e do jogo com o Chelsea, do passado sábado, saíram mais três anotações. A escorregadela de Vertonghen compensada com um corte para a própria área; o deslize de Sandro a cortar uma bola na área e o atraso suicida de Walker para Lloris. São apenas os casos mais recentes, que explicam facilmente as várias goleadas sofridas pelos «Spurs» esta época. Buracos e mais buracos, nos quais caiu André Villas-Boas.
Principal ameaça: Adebayor
O grande mérito de Tim Sherwood foi recuperar a estrela do Togo. Esquecido por Villas-Boas, Adebayor tem carregado a equipa do Tottenham às costas, e soma agora onze golos em dezassete jogos. Agora a equipa gira à sua volta, com tudo o que isso tem de bom e mau (analisado mais à frente).
Onze base
Lloris:
Walker:
Dawson:
Vertonghem:
Rose
Lennon:
Dembelé:
Bentaleb:
Eriksen:
Soldado:
Outras opções:
Do meio-campo para a frente as alternativas são boas e variadas. Sobretudo na zona intermediária, com outro «box to box» como Paulinho, ou jogadores que impõem outra presença física, como Sandro ou Capoue. E depois Sigurdsson e Lamela, criativos à disposição, mas que têm sido quase sempre encostados à ala (como Eriksen, conforme referido). O argentino continua «escondido», mas aquele talento é sempre para ter em conta.
Para as alas há ainda Chadli ou Townsend: um mais versátil, capaz de aparecer em zonas interiores (cinco assistências e três golos), e o outro um extremo puro, para explorar a velocidade.
Para a frente de ataque, e com a saída de Defoe para Toronto (tinha dez golos), sobra apenas a «torre» Harry Kane.
No que diz respeito ao eixo defensivo, Sherwood conta com Kaboul, que pode ser titular, dadas as dúvidas em relação à condição de Dawson. Até porque Vlad Chiriches, o promissor romeno que jogou nos juniores do Benfica, também está com problemas físicos.
Naughton é a alternativa a Walker no lado direito da defesa e pode ser titular, assim como Fryers do lado oposto. Também não é de descartar uma mudança na baliza, algo que acontece pontualmente, com o experiente Friedel a substituir Lloris.
Análise detalhada:
O Tottenham pouco ou nada melhorou com a troca de André Villas-Bolas por Tim Sherwood. Não se trata de nacionalismo, antes a análise à realidade atual. Foi renegada a qualidade técnica que o português pretendia, e a equipa londrina está agora bem mais «british». E isso não é propriamente um bom sinal.
O regresso ao velho estilo britânico nota-se logo na mudança para o 4x4x2. Não pelo desenho tático em si, mas pela mentalidade que ele serve: o plano de jogo passa, essencialmente, por fazer jogo direto para Adebayor, recuperado por Sherwood.
A decisão de recuperar o togolês foi boa, mas isso não tinha necessariamente de implicar esta aposta estratégica, até porque o camisola 10 vale mais do que isso.
Os médios já nem recuam no terreno para pegar no jogo, pois sabem que a saída ou é feita pelos laterais, ou então a bola é metida na frente, à procura de Adebayor . Quase sempre de forma cruzada: do central do lado direito para a meia-esquerda, ou do central do lado esquerdo para a meia-direita [imagem A]. Depois a ideia é rentabilizar as bolas conquistadas pelo ponta de lança, por vezes apostando num jogador rápido (Lennon) em detrimento de Soldado.
Criadores de jogo como Eriksen, Sigurdsson ou Lamela têm sido encostados a uma ala, ainda que nunca aí fiquem, procurando zonas interiores para pegar no jogo.
Mesmo em organização defensiva nota-se essa tendência para fugir do flanco, sobretudo com Eriksen, o que deixa muitas vezes exposto o lateral esquerdo.
O 4x3x3 que Villas-Boas utilizava é agora uma escolha ocasional, mas quando aparece ainda se nota o dedo do português, como nas triangulações entre lateral, médio interior e extremo (jogo exterior-jogo interior-jogo exterior).
O Tottenham defende de forma muito deficitária. Sobretudo pela frequência abismal de erros individuais, mas também pelas rotinas coletivas. O esquema adotado, aliado à forma como a equipa se foca nas referências individuais para fazer a marcação, cria espaço entre linhas que pode e deve ser aproveitado pelo Benfica, mesmo apresentando um desenho tático idêntico [imagem B].
É frequente ver um dos centrais do Tottenham a sair da sua posição para acompanhar o avançado que recua no terreno, deixando depois o espaço na retaguarda, que é facilmente aproveitado através da entrada de um outro médio, ou mesmo com uma diagonal de um extremo [imagem C]. A lentidão dos centrais fica visível frequentemente, e o quarteto defensivo responde muito mal quando pressionado, algo que se tem visto sobretudo nas fases iniciais dos jogos.