Foi "particularmente bonito e inspirador": bispo Américo Aguiar investido cardeal pelo Papa Francisco

Agência Lusa , BC - atualizada às 12:54
30 set 2023, 09:53

Américo Aguiar, até agora bispo auxiliar de Lisboa, recebeu o anel e barrete cardinalícios. E revelou que o Papa lhe disse para ter "Setúbal no coração"

 O novo bispo de Setúbal, Américo Aguiar, foi este sábado investido cardeal pelo Papa Francisco, no consistório, na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, tornando-se no 47.º cardeal português da História.

Américo Aguiar, até agora bispo auxiliar de Lisboa, recebeu o anel e barrete cardinalícios, assim como a bula de criação, tendo-lhe sido atribuído o título da Igreja de Santo António de Pádua na Via Merulana, em Roma, onde o Papa Francisco lhe deu um abraço.

Foram titulares desta Igreja o cardeal-patriarca de Lisboa António Ribeiro (1928-1998) e o cardeal brasileiro Claudio Hummes (1934-2022), que inspirou o Papa a escolher o nome de Francisco, ao dizer-lhe “não te esqueças dos pobres”.

Este é o nono consistório para a criação de cardeais de Francisco, cujo pontificado começou em março de 2013, após a resignação do Papa Bento XVI (1927-2022).

Quando o líder da Igreja Católica pronunciou o nome do novo cardeal português, ouviram-se palmas.

D. Américo no momento em que é investido cardeal (Foto: Riccardo De Luca/AP)

Mais tade, Américo Aguiar revelou que o Papa lhe disse para ter “Setúbal no seu coração”, quando foi investido cardeal por Francisco. Ao descrever o momento que se seguiu à entrega do barrete e anel cardinalícios, e da bula de nomeação, Américo Aguiar, futuro bispo da Diocese de Setúbal, afirmou que Francisco “falou de Setúbal”.

“‘Tem Setúbal no seu coração’”, precisou o cardeal, considerando que foi “particularmente bonito e inspirador”.

O até agora bispo auxiliar de Lisboa falava aos jornalistas na sessão de cumprimentos após o consistório, por onde passaram diversas entidades civis, eclesiásticas e políticas portuguesas, incluindo a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, em representação do Governo, o ministro das Finanças e ex-presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, ou o presidente do Partido Socialista, Carlos César.

Américo Aguiar adiantou que, em razão da Igreja titular que lhe foi atribuída, Santo António de Pádua na Via Merulana, em Roma, o Papa “disse umas piadas sobre isso, [Santo António] ‘de Lisboa ou de Pádua, agora entendam-se’”.

“Para mim, é particularmente significativo que esta Igreja tenha sido a Igreja titular do cardeal António Ribeiro e também do cardeal Hummes, o culpado do nome Francisco”, prosseguiu, reconhecendo que tudo isso são sinais, “recados e provocações que coloca no coração”.

Sobre o que sentiu quando se preparava para receber os símbolos cardinalícios das mãos de Francisco, Américo Aguiar lembrou-se da vigília na Praça de São Pedro, na Quaresma de 2020, no contexto da pandemia de covid-19.

“Senti a partilha desse peso, dessa caminhada. Depois, ‘In manus tuas’ [nas tuas mãos, lema episcopal]”, prosseguiu, referindo que, a partir do momento que se entrega “nas mãos de Deus, seja o que Deus quiser”.

Quanto à homilia do Papa, assumiu não ser “muito bom a música”, mas faz parte de “uma orquestra sinfónica e sinodal.

“E agora vamos dar música, isso é que é preciso”, declarou, referindo que “um homem do Norte rapidamente se adapta a qualquer instrumento”. Relativamente ao abraço demorado a Francisco, adiantou que sempre que se encontra com o Papa tem “este gesto de simpatia, de carinho, de avô, de neto, de pai, do filho, de sucessor de Pedro e de colaborador próximo”.

O segundo cardeal mais jovem do Colégio Cardinalício

Com 49 anos, Américo Aguiar passa a integrar o Colégio Cardinalício, que tem por missão aconselhar o Papa, sendo o segundo cardeal mais jovem, depois do da Mongólia, o italiano Giorgio Marengo, missionário da Consolata.

Natural de Leça do Balio, Matosinhos, licenciado em Teologia e mestre em Ciências da Comunicação, o até agora bispo auxiliar de Lisboa foi ordenado sacerdote em 2001, sendo integrado na Diocese do Porto.

Nesta, desempenhou vários cargos, como pároco e vigário-geral. Foi também diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa e presidente da Irmandade dos Clérigos, antes de ingressar na Diocese de Lisboa.

Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 e coordenador geral da organização da visita, em agosto último, do Papa a Portugal, foi um dos 21 novos cardeais (18 dos quais eleitores) anunciados por Francisco em 9 de julho.

O prelado junta-se ao patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, a António Marto, bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, e a Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, como cardeais eleitores – e também podem ser eleitos por terem menos de 80 anos – num futuro conclave para escolher o sucessor do Papa Francisco, de 86 anos.

No Colégio Cardinalício estão mais dois portugueses que, por terem mais de 80 anos, não participam num futuro conclave: Saraiva Martins, que foi prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, e Monteiro de Castro, que teve uma vasta experiência diplomática ao serviço do Vaticano.

Portugal teve um Papa, João XXI, cujo pontificado começou em setembro de 1276 e terminou em maio de 1277. Morreu na sequência de um acidente na Catedral de Viterbo, Itália, cujas obras acompanhava, e onde ficou sepultado.

Natural de Lisboa, Pedro Julião ou Pedro Hispano era designado no seu tempo como filósofo, teólogo, cientista e médico.

Papa diz que diversidade é indispensável

O Papa Francisco disse este sábado que o Colégio Cardinalício é chamado a assemelhar-se a uma orquestra sinfónica, onde a diversidade é indispensável, mas deve concorrer para um resultado comum.

Os novos cardeais investidos este sábado (Foto: Riccardo De Luca/AP) 

“A diversidade é necessária, é indispensável, mas cada som deve concorrer para o resultado comum. E, para isso, é fundamental a escuta mútua, cada músico deve ouvir os outros”, afirmou Francisco, na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano, durante o consistório de criação de novos cardeais, incluindo o português Américo Aguiar.

Recorrendo à imagem da orquestra, que “representa a dimensão sinfónica e a sinodalidade da Igreja”, o tema da Assembleia do Sínodo que começa na próxima quarta-feira, o líder da Igreja Católica sustentou que esta metáfora “pode muito bem iluminar o caráter sinodal da Igreja”.

“Uma sinfonia vive da sábia composição dos timbres dos diversos instrumentos, cada um dá o seu contributo, ora sozinho, ora combinado com outro, ora com todo o conjunto”, referiu.

Depois o Papa salientou que “se alguém [se] ouvisse apenas a si mesmo, por mais sublime que possa ser o seu som, não seria de proveito à sinfonia”, além de que “o mesmo aconteceria por parte da orquestra não ouvisse as outras, mas tocasse como se estivesse sozinha, como se fosse o todo”.

Quanto ao diretor da orquestra, “está ao serviço desta espécie de milagre que é sempre a execução de uma sinfonia”, pelo que “deve ouvir mais do que todos os outros”.

Segundo Francisco, “ao mesmo tempo, a sua tarefa é ajudar cada um e a orquestra inteira a desenvolver ao máximo a fidelidade criativa, a fidelidade à obra que se está a executar, mas criativa, capaz de dar uma alma àquela partitura, de fazê-la ressoar de forma única, aqui e agora”.

“Faz-nos bem espelhar-nos na imagem da orquestra, para aprendermos cada vez melhor a ser Igreja sinfónica e sinodal”, adiantou, propondo-a de modo particular aos membros do Colégio Cardinalício, aos quais pediu que sejam “evangelizados e evangelizadores, não funcionários”.

Na celebração, para a criação de 21 cardeais (18 dos quais eleitores num futuro conclave), o Papa referiu-se aos novos membros do Colégio Cardinalício que vieram de “diversas partes do mundo”, para sublinhar que “o mesmo Espírito que fecundou a evangelização dos vossos povos, agora renova em vós a vossa vocação e missão na Igreja e para a Igreja”.

Este é o nono consistório para a criação de cardeais de Francisco, cujo pontificado começou em março de 2013, após a resignação do Papa Bento XVI (1927-2022).

No seu pontificado, Francisco já nomeou outros três portugueses como cardeais: Manuel Clemente (patriarca emérito de Lisboa), António Marto (bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima) e Tolentino Mendonça (prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação).

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