Os encarregados de educação só foram informados do atraso no dia da reunião do início das aulas
Os alunos do 5.º ano de uma escola em Lisboa estão sem manuais desde o início do ano letivo, porque o agrupamento decidiu trocar os livros em papel por digitais, mas ainda não entregou computadores.
Os estudantes do 5.º e do 7.º ano do Agrupamento de Escolas de Alvalade, em Lisboa, estão entre os mais de 21 mil alunos que este ano não precisam levar a mochila carregada de livros: A Escola aderiu ao projeto-piloto de desmaterialização de manuais, mas há pais insatisfeitos com o trabalho da direção escolar.
Quase duas semanas após o arranque do ano letivo, pelo menos os meninos do 5.º ano da Escola Básica Gago Coutinho continuam a aguardar a entrega da mochila com o novo portátil, contaram encarregados de educação.
A Lusa teve acesso a uma troca de ‘e-mails’ em que a escola garantia aos pais que os ‘kits’ seriam “entregues com brevidade” e que estavam “afincadamente a trabalhar nesse sentido”, considerando tratar-se de “um assunto bastante complexo”.
Hoje, os alunos voltaram para a escola com as mochilas praticamente vazias: “Levam uns cadernos para escrever, mas não têm manuais nem livros de exercícios”, lamentou uma mãe, que pediu para não ser identificada.
A mãe acrescentou que só soube que o agrupamento tinha decidido aderir ao programa de desmaterialização dos manuais nas férias, quando entrou na plataforma MEGA, para levantar os ‘vouchers’ que dão acesso a manuais gratuitos.
Na véspera do início das aulas, na reunião geral de arranque do ano letivo, a diretora do agrupamento perguntou aos encarregados de educação se tinham computador ou se precisavam de um equipamento cedido pela escola, contaram vários encarregados de educação.
“Isto revela falta de organização, porque quando fazemos a matrícula temos de preencher um campo a dizer se o aluno tem computador ou se vai precisar. Além disso, a direção tem os contactos de todos os pais e poderia, atempadamente, ter perguntado em vez de deixar para a véspera do início das aulas”, criticou.
Os pais lamentam ainda só terem sido informados no dia da reunião de que os livros de exercícios seriam em papel. Resultado: “Neste momento, os miúdos não têm manuais nenhuns, porque não há livros de exercícios disponíveis nas papelarias e parece que o prazo de entrega é de duas a três semanas”, criticou.
A Lusa tentou contactar a direção do agrupamento, mas ainda não obteve qualquer resposta. Já o gabinete do Ministro da Educação garantiu que a escola, “tal como os restantes agrupamentos, recebeu na altura devida os necessários equipamentos”.
“O agrupamento tem registado, na plataforma de registo de equipamentos da Escola Digital, em 25 de setembro de 2023, 524 ‘kits’ disponíveis para atribuição. Depois de o agrupamento atribuir os equipamentos que ainda tem disponíveis, caso não sejam suficientes, a equipa de suporte da Escola Digital providenciará uma transferência de equipamentos, face à realidade do presente ano letivo”, garantiu o ministério em resposta à Lusa.
À Lusa, os presidentes da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) disseram desconhecer casos semelhantes no país.
“Não tenho conhecimento de escolas que aderiram ao projeto dos manuais digitais e não têm kits para entregar aos seus alunos”, garantiu Manuel Pereira, presidente da ANDE.
“Eu tenho esse projeto na minha escola e está tudo regularizado. Agora, se há escolas que ainda não têm computadores, devem ser casos muito pontuais”, corroborou Filinto Lima, da ANDAEP.
Este ano, cerca de 21 mil alunos do 3.º ao 12.º ano começaram as aulas com manuais digitais, participando assim na 4.ª fase do Projeto-piloto Manuais Digitais, lançado pelo Governo para substituir gradualmente os manuais em papel.
A adoção dos manuais digitais assim como a escolha dos anos de escolaridade e turmas a integrar cabe aos agrupamentos de escolas.