Armando Pereira foi consultor da Altice France até ao final de julho, já depois de ter sido detido

ECO - Parceiro CNN Portugal , Shrikesh Laxmidas
8 ago 2023, 14:26
Armando Pereira

Depois das acusações de "traição", os elogios. Patrick Drahi realçou o papel de Armando Pereira na francesa SFR e diz que o fim da "missão" de consultor em julho nada teve a ver com a Operação Picoas

Armando Pereira foi consultor da Altice France até final de julho deste ano, já depois do desencadear da Operação Picoas, revelou esta terça-feira Patrick Drahi, o magnata franco-israelita que controla o grupo, adiantando, no entanto, que o fim do contrato foi independente da investigação portuguesa.

Na segunda-feira, numa teleconferência com os investidores na dívida da Altice International, que inclui a Altice Portugal (dona da Meo), Patrick Drahi admitira que a Operação Picoas foi um “choque” e uma “desilusão” e que fez com que se tivesse sentido “traído” pelo co-fundador Armando Pereira.

Nessa ocasião informou ainda que Armando Pereira já não detém ações da Altice, mas mantém um interesse económico de 20% da posição do magnata franco-israelita. Sobre o papel do português na gestão da Altice International, disse que tem sido inexistente nos últimos anos, deixando, porém, para esta terça-feira a explicação sobre o envolvimento na operação francesa.

“Sobre o envolvimento do Sr. Pereira em França, como a questão foi levantada ontem e eu prometi responder, ele foi vice-diretor geral do nosso negócio francês, ou seja, da SFR, não estando envolvido no negócio de média, desde o final de 2017 até ao início de 2019, onde ao lado do nosso atual CEO desempenhou um papel fundamental no relançamento do negócio e na construção da rede Xp Fibre, que já está mais de 80% implementada “, disse na teleconferência com os obrigacionistas para apresentar os resultados da Altice France.

“Em agosto de 2022, quando promovi Mathieu Cocq como CEO da SFR, pedi ao Sr. Pereira para aconselhar Mathieu sobre questões operacionais da SFR por um período de transição de um ano”, adiantou ainda. Assim, acrescentou, “independentemente dos recentes acontecimentos imprevisíveis, esta missão consultiva foi, portanto, encerrada no final de julho de 2023″.

O gestor sublinhou nessa altura que, entre outras medidas que incluem a suspensão de contratos com entidades envolvidas e uma investigação interna, a Altice suspendeu 15 colaboradores em Portugal, França e nos Estados Unidos.

A Operação Picoas, desencadeada em 13 de julho, levou a várias detenções – entre as quais a do cofundador do grupo Altice Armando Pereira –, contou com cerca de 90 buscas domiciliárias e não domiciliárias, incluindo a sede da Altice Portugal, em Lisboa, e instalações de empresas e escritórios em vários pontos do país, além de na residência do ex-líder da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, que era até essa altura co-CEO do grupo Altice a nível internacional.

Em causa estão suspeitas de viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência, que apontam para corrupção privada na forma ativa e passiva. O Estado terá também sido prejudicado com uma fraude fiscal “superior a 100 milhões de euros.

Armando Pereira está indiciado de 11 crimes de corrupção ativa e passiva, branqueamento e falsificação de capitais. Já Hernâni Antunes, alegadamente seu homem de confiança, é suspeito de mais de 20 crimes de corrupção ativa, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. Aos dois foi aplicada a prisão domiciliária sem vigilância eletrónica e ficam ambos sem acesso aos passaportes.

A 19 de julho, a Altice Internacional colocou de licença vários representantes legais, gestores e trabalhadores chave em Portugal e no estrangeiro, avançando também que a investigação interna que tinha sido anunciada pela Altice Portugal abrange ainda “outras jurisdições” além do mercado português.

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