Davide Amado está acusado de ter gerido várias empresas para criar a falsa aparência de concorrência e imparcialidade. Ajustes diretos ultrapassam os dois milhões de euros
O Ministério Público acusou o presidente da concelhia do PS Lisboa de participação económica em negócio e abuso de poder, num esquema que terá lesado a Santa Casa da Misericórdia em mais de um milhão de euros.
Davide Amado, que agora é também presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, é acusado de ter gerido várias empresas criadas à medida para forjar ajustes diretos com a Santa Casa da Misericórdia.
A acusação a que a TVI/CNN Portugal teve acesso revela que, entre 2012 e 2014, foram feitos ajustes diretos de mais de dois milhões de euros. A investigação acredita que os empresários criaram mais de uma dezena de empresas para criar a falsa aparência de concorrência e imparcialidade "sem respeitarem as regras e encarecendo o valor de cada um dos produtos e serviços".
Além de Davide Amado, o Ministério Público acusou mais oito arguidos, entre eles Helena Lopes da Costa, vogal da mesa da Santa Casa da Misericórdia com o pelouro da Saúde até 2016 e antiga vereadora do PSD na Câmara de Lisboa, quando o município era liderado por Santana Lopes.
Há ainda dois empresários amigos, um deles, diz a acusação, conhecido de Helena Lopes da Costa, um contabilista e a assessora da antiga vogal da Santa Casa que na altura era a namorada de Davide Amado.
Uma teia de relacionamentos que o Ministério Público acredita ter lesado a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa num esquema de viciação de contratos por ajuste direto.
Segundo a acusação, foram feitos 266 ajustes diretos de mais de dois milhões de euros. Os contratos nunca ultrapassaram o valor máximo permitido. No entanto, o Ministério Público considera que Helena Lopes da Costa e a assessora satisfizeram interesses privados à custa do património da Santa Casa da Misericórdia.
Na acusação, é pedido que os arguidos sejam condenados não só por estes crimes mas que paguem também ao estado mais de um milhão e seiscentos mil euros, obtidos através de adjudicações ilícitas.
Contactada, Helena Lopes da Costa diz que está de consciência tranquila. Davide Amado respondeu por escrito afirmando que também está de consciência tranquila e sublinhando que estes factos são anteriores a ter assumido qualquer cargo público.
Nove anos depois da investigação ter começado, o Ministério Público apresenta a acusação. Em 2014, as auditorias internas da Santa Casa da Misericórdia não detetaram qualquer irregularidade nas adjudicações.