Este fogo arde há 4 mil anos sem parar

CNN , Maureen O'Hare
10 dez 2022, 15:00

No Azerbaijão, vários fogos espontâneos ardem ininterruptamente há milénios, fascinando e assustando os viajantes

"Este fogo arde há 4 mil anos e nunca parou”, diz Aliyeva Rahila. "Mesmo com chuva, vento e neve – nunca para de arder."

Em frente, chamas altas dançam incansáveis numa extensão de 10 metros da encosta, tornando um dia quente ainda mais quente.

Isto é Yanar Dag – que quer dizer "encosta ardente " – na península de Absheron, no Azerbaijão, onde Rahila trabalha como guia turístico.

Sendo um efeito secundário das abundantes reservas de gás natural do país, que por vezes verte para a superfície, Yanar Dag é um dos vários fogos espontâneos que há milénios fascinam e assustam quem viaja ao Azerbaijão.

O explorador veneziano Marco Polo escreveu sobre estes fenómenos misteriosos quando passou pelo país no século XIII. Outros mercadores da Rota da Seda levavam notícias sobre as chamas quando viajavam a outras terras.

Foi por isso que o país ganhou a alcunha de “terra do fogo".

Religião antiga

Outrora, estes fogos foram abundantes no Azerbaijão, mas como levavam à redução da pressão subterrânea do gás, o que interferia com a extração comercial de gás, a maioria foi extinta.

Yanar Dag é um dos poucos exemplos que restam, e talvez seja o mais impressionante.

A dada altura, tiveram um papel crucial na antiga religião zoroastriana, que foi fundada no Irão e floresceu no Azerbaijão no primeiro milénio antes de Cristo.

Para os zoroastrianos, o fogo é uma ligação entre os humanos e o mundo sobrenatural, e um meio através do qual é possível alcançar a clarividência espiritual e a sabedoria. É purificador, suporta a vida e é uma parte vital da veneração.

Atualmente, a maioria dos visitantes que chega ao centro de visitantes elementar de Yanar Dag vai pelo espetáculo e não pela realização religiosa.

A experiência é mais impressionante à noite ou no inverno. Quando cai neve, os flocos dissolvem-se no ar sem sequer tocarem no chão, diz Rahila.

Apesar da suposta antiguidade das chamas de Yanar Dag – há quem defenda que este fogo em particular só foi aceso na década de 1950 – é preciso fazer uma longa viagem de 30 minutos para norte a partir do centro de Baku só para as ver. O centro dispõe apenas de um pequeno café e não há muito mais naquela zona.

Templo do Fogo de Ateshgah

Para um conhecimento mais profundo da história da veneração do fogo no Azerbaijão, os visitantes devem rumar a leste de Baku, até ao Templo do Fogo de Ateshgah.

"Desde os tempos antigos, as pessoas pensam que o seu deus está aqui", diz o nosso guia ao entrarmos no complexo pentagonal construído nos séculos XVII e XVIII por colonos indianos em Baku.

Os rituais de fogo neste local remontam ao século X ou antes. O nome Ateshgah vem do persa "casa de fogo" e a peça central do complexo é um altar coberto por uma cúpula que foi construído sobre uma chaminé de gás natural.

Uma chama eterna e natural ardeu no altar central até 1969, mas hoje em dia o fogo é alimentado pela conduta principal de gás de Baku e só é aceso para os visitantes.

O templo é associado ao zoroastrianismo, mas a sua história está mais bem documentada como local de culto hindu.

Mercadores e ascetas

Construído como uma estalagem para hospedar viajantes em caravanas, o complexo tem um pátio murado rodeado por 24 celas e salas.

Estas divisões eram usadas por peregrinos, mercadores de passagem (cujos donativos eram uma importante fonte de rendimento) e ascetas residentes – alguns deles submetiam-se a provações como deitarem-se em cal viva, usar correntes pesadas ou manter um braço numa posição durante anos a fio.

O templo caiu em desuso como local de culto em finais do século XIX, numa altura em que o desenvolvimento dos campos petrolíferos circundantes fez com que o culto de Mamon ganhasse maior presença.

O complexo tornou-se um museu em 1975, foi nomeado Património Mundial pela UNESCO em 1998, e recebe atualmente cerca de 15 mil visitantes por ano.

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