Mais de 200 funcionários do antigo governo foram mortos pelos talibãs no Afeganistão, denuncia ONU

Agência Lusa , PF
22 ago 2023, 09:59
Talibã em Cabul (AP)

A organização documentou pelo menos 800 violações dos direitos humanos contra antigos funcionários do governo afegão e das forças de segurança entre 15 de agosto de 2021, quando os talibãs tomaram o poder, e o fim de junho de 2023

Mais de 200 execuções extrajudiciais de ex-funcionários do governo e das forças de segurança afegãs ocorreram desde que os talibãs assumiram o controlo do país há dois anos, segundo um relatório da ONU

Os grupos mais visados pelos talibãs têm sido antigos membros do exército, da polícia e dos serviços de informação do país, de acordo com a Missão de Assistência das Nações Unidas (UNAMA) no Afeganistão.

A UNAMA documentou pelo menos 800 violações dos direitos humanos contra antigos funcionários do governo afegão e das forças de segurança entre 15 de agosto de 2021, quando os talibãs tomaram o poder, e o fim de junho de 2023.

Os talibãs varreram o Afeganistão quando as tropas dos Estados Unidos e da NATO se encontravam nas últimas semanas da sua retirada do país, após duas décadas de guerra.

As forças afegãs treinadas e apoiadas pelos EUA desmoronaram diante do avanço dos talibãs e o ex-presidente afegão, Ashraf Ghani, fugiu do país.

“Indivíduos foram detidos pelas forças de segurança de facto (talibã) do país, muitas vezes brevemente, antes de serem mortos. Alguns foram levados para centros de detenção e mortos enquanto estavam sob custódia, outros foram levados para locais desconhecidos e mortos, os seus corpos foram abandonados ou entregues a familiares”, afirmou o relatório da ONU.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse, num comunicado de imprensa, que este relatório da ONU “apresenta uma imagem preocupante do tratamento de indivíduos ligados ao antigo governo e às forças de segurança”.

“Ainda mais, dado que lhes foi garantido que não seriam alvo, é uma traição à confiança do povo”, disse Turk.

Turk instou os governantes talibãs do Afeganistão – as “autoridades de facto” do país - a cumprirem as suas “obrigações ao abrigo do Direito internacional dos direitos humanos, evitando novas violações e responsabilizando os perpetradores” de crimes.

Desde a tomada do poder no Afeganistão, os talibãs (que governaram o Afeganistão num outro período na década de 1990) não enfrentaram oposição significativa e evitaram divisões internas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) do Afeganistão rejeitou o relatório, sublinhando que não tinha conhecimento de quaisquer casos de violações dos direitos humanos cometidos por autoridades ou funcionários ligados aos talibãs.

“Assassínios sem julgamento, detenções arbitrárias, prisões, tortura e outros atos contra os direitos humanos cometidos pelos trabalhadores das instituições de segurança do Emirado Islâmico contra funcionários e forças de segurança do governo anterior não foram relatados”, afirmou em comunicado do MNE afegão.

O relatório afirma que os ex-soldados afegãos correm maior risco de sofrer violações dos direitos humanos, seguidos pela polícia e pelos funcionários dos serviços de informação. As violações foram registadas em todas as 34 províncias, com um número maior nas províncias de Cabul, Kandahar e Balkh.

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