O que é a acinetobacter baumannii e por que motivo devemos estar preocupados com "esta ameaça grave"

12 mai 2022, 20:09
Coronavírus

Trata-se de uma bactéria que pode permanecer nas superfícies ao longo de vários meses, passando também para vários equipamentos hospitalares, como ventiladores ou outro tipo de utensílios

Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) alertaram esta quarta-feira para a necessidade de se prevenir surtos do microrganismo acinetobacter baumannii em ambiente hospitalar, considerando que, face ao contexto pandémico, estão criadas condições para uma "tempestade perfeita".

Acácio Rodrigues, que assina o estudo em coautoria com Diogo Duarte, explica à CNN que esta bactéria ganha especial relevância no contexto de covid-19 porque “as unidades de saúde são procuradas de forma avassaladora”, um contexto em que “é natural que os standards de diagnóstico, de limpeza e de desinfeção estejam subótimos”.

A completa lotação das unidades de cuidados intensivos, a falta de tempo e o burnout dos profissionais de saúde, bem como o atraso na deteção da acinetobacter baumannii, são aspetos descritos pelos investigadores - que alertam para “o aparecimento de uma ameaça grave”. "Isto é um problema. Os hospitais têm de ser seguros", sublinha Acácio Rodrigues.

Esta bactéria existe há vários anos mas foi precisamente em dezembro de 2019, altura em que foram identificados os primeiros casos de covid-19, que começou a ganhar maior relevância: “Começou a generalizar-se em 2019, nas vésperas da covid-19”, explica o investigador.

Quem corre mais riscos

O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla original) foi dos organismos que mais publicaram dados sobre a situação. Em 2019, por exemplo, dos 8.500 casos sinalizados em hospitais norte-americanos cerca de 700 pessoas morreram, uma taxa que se aproxima dos 10%.

O CDC destaca que o risco é maior para as pessoas nas seguintes situações:

  • ventiladores;
  • aparelhos como catéteres;
  • feridas abertas ou pessoas a recuperar de cirurgias;
  • cuidados intensivos;
  • estadias hospitalares prolongadas.

É referido ainda que pessoas com patologias como doença pulmonar crónica ou diabetes, por exemplo, também são pacientes de maior risco.

Esta bactéria é especialmente perigosa para doentes frágeis, que tenham outras doenças associadas, nomeadamente aquelas que afetam o sistema imunitário: “Afeta sobretudo doentes que tenham vários dispositivos médicos implantados, como algálias, cateteres, tubos respiratórios”.

“Isso pode causar uma panóplia de infeções, desde infeções urinárias a sepsis, com falência multiorgânica”, acrescenta Acácio Rodrigues.

Além de se instalar com facilidade no ambiente hospitalar, ainda mais quando os serviços estão sob maior pressão, é também muito difícil de erradicar, até porque pode chegar aos prestadores de serviços, desde médicos a auxiliares de limpeza, e assim disseminar-se com maior facilidade pelo resto das instalações hospitalares.

“É sobretudo um agente oportunista, um fator de risco para agravamento do prognóstico do doente, do tempo de internamento”, o que pode resultar em maior morbilidade e, inclusivamente, “numa maior mortalidade”, vinca o investigador, sinalizando que a acinetobacter baumannii pode permanecer nas superfícies ao longo de vários meses, passando também para os vários equipamentos hospitalares, como ventiladores ou outro tipo de utensílios. A transmissão dá-se pelo contacto direto entre doentes e profissionais de saúde infetados, nomeadamente através das mãos. O contágio pode ainda ocorrer pela contaminação de equipamento ou superfícies.

Como prevenir a infeção

Para prevenir surtos, o investigador frisa que em causa não está uma medida única de prevenção, mas sim "uma conjugação de medidas".

O despiste precoce da colonização por este microrganismo, o isolamento de doentes, bem como medidas acrescidas e muito cuidadosas de desinfeção das superfícies dos quartos hospitalares são algumas das recomendações.

As estratégias de prevenção da transmissão desta bactéria podem ainda passar pela inclusão de checklists (lista de verificação de tarefas de uma rotina ou de itens necessários) nos procedimentos hospitalares e educação dos profissionais, com os investigadores a recomendarem "uma boa comunicação".

Sobre a rotatividade dos produtos de limpeza e desinfeção, e de modo a evitar a resistência da bactéria aos desinfetantes, os autores do estudo recomendam a "rotatividade dos compostos a cada três meses".

Para prevenir o contágio, o CDC deixa as seguintes recomendações:

  • manter as mãos limpas para se evitar ficar doente e espalhar bactérias que podem causar infeções (lavagem de mãos com sabão e água ou álcool-gel), nomeadamente antes de tratar de feridas ou de tocar em equipamentos;
  • lembrar os profissionais de saúde de que devem lavar as mãos antes de tocarem nos pacientes ou de lidarem com aparelhos médicos;
  • permitir aos profissionais de saúde que limpem as salas diariamente.

Como tratar a infeção

Uma vez contraída a infeção, a recomendação é que o tratamento seja feito com antibióticos. Para saberem que tipo de antibiótico utilizar, os profissionais de saúde devem enviar uma recolha para um laboratório, determinando depois qual o antibiótico que atua com maior eficácia consoante a situação.

"Infelizmente, muitas bactérias acinetobacter são resistentes a muitos antibióticos, o que dificulta o tratamento", aponta o CDC.

Acácio Rodrigues afirma que já foram registados casos em Portugal no passado e que o mesmo deve estar a acontecer novamente.

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