Quem, onde, como e quando: o retrato dos abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal

13 fev 2023, 12:04

Lisboa e Porto foram os distritos com mais abusos. Quase metade das vítimas nunca tinha falado até ao ano passado

Abusadas mais do que uma vez, católicas e vítimas na própria casa ou em agrupamentos de escuteiros. A realidade dos abusos sexuais de menores registados na Igreja Católica portuguesa é de grande amplitude, tendo ocorrido casos dos mais diferentes géneros e cenários.

O coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, que esta segunda-feira apresentou o relatório iniciado há um ano, explicou que a maior parte das vítimas foi abusada em mais do que uma ocasião, não sendo possível saber ao certo quantas vítimas existiram.

"Não é possível quantificar o número total de crianças vítimas", afirmou Pedro Strecht, lembrando que as denúncias eram de caráter voluntário, pelo que terão ficado por relatar vários casos.

  • O pico de casos sinalizou-se entre as décadas de 1960 e 1990, mas 25% dos casos relatados ocorreram depois de 1991. De todos os testemunhos recolhidos, 43% foram de pessoas que falaram dos abusos pela primeira vez depois de entrarem em contacto com a comissão.

  • Segundo Pedro Strecht, a maior parte das vítimas são do sexo masculino (52%), em 32% dos casos têm grau de literacia ao nível da licenciatura e, à época dos abusos, “eram todos estudantes do primeiro e segundo ciclo”.

  • “Há casos em todos os distritos”, revelou o responsável, especificando que Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria são os distritos com mais casos, por ordem decrescente. Segundo Pedro Strecht, a incidência nestes distritos explica-se, em parte, pela existência de seminários ou outras instituições religiosas. A esmagadora maioria dos abusadores eram padres (77%).

  • Quanto aos locais dos abusos, e havendo uma relação identificada de confiança, medo ou dependência da vítima perante o abusador ocorreu nos mais variados contextos: muitas das vítimas foram abusadas nas suas próprias casas, algumas em carros. Mas também em seminários, colégios internos, na sacristia, na casa do padre ou em agrupamentos de escuteiros.

  • A média de idades das vítimas ronda os 52 anos, sendo que 20,2% dos casos validados são de pessoas que têm hoje 40 ou menos anos. Pedro Strecht nota que se trata de uma média de idades mais baixa que em outros relatórios, destacando que os casos reportados não se extinguem em território português. Com efeito, 11,5% dos relatos surgem de pessoas que vivem fora de Portugal, muitas delas fora da Europa.

  • Num relatório com vários testemunhos elucidativos das consequências deixadas pelos abusos nas vítimas, a socióloga Ana Nunes de Almeida explicou que os meninos sofreram mais e mais diferenciados tipos de abuso. Sexo oral, sexo anal ou masturbação foram algumas das categorias, enquanto as meninas sofreram, sobretudo, de insinuação.

  • Apenas 25 testemunhos seguiram para o Ministério Público, porque todos os outros casos já prescreveram.

 

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