V. Guimarães-Beira Mar, 1-1 (destaques)

22 out 2000, 19:31

Quantas Dolores de cabeça... Autuori e o Guimarães mal sabiam o que os esperava. Na verdade, nem podiam imaginar. Dolores à esquerda, Dolores à direita, Dolores em todo o lado... Os pés de Ricardo Sousa juntaram a porção mais deliciante à trama de predilecções marcadamente contra-ofensivas. Ainda assim, o inevitável Palatsi foi o melhor. Não que tenha sido ele a evitar as melhores oportunidades para desfazer o empate. Disso se encarregaram os seus colegas de equipa, no outro extremo do relvado.

Palatsi

Uma referência obrigatória no Beira Mar, ainda que em Guimarães o destaque não tenha resultado de uma mera solução de recurso ou de um caso de desespero do jornalista, quantas vezes incapaz de detectar alternativas de mérito ou delícia numa equipa que, por hábito, limitação ou estratégia, não faz mais do que entediar. Hoje não foi assim. Palatsi voltou a ser o melhor, mesmo que retirado e distinguido de um quadro genérico de brilhantismo ou algo que se lhe pareça. Voou para todos os remates, para alguns por engano, como no penalty em que deixou que um dos postes que lhe fazem companhia o substituísse, e recompôs-se sempre depessa, como um homem de borracha, movido por uma mola subtilmente oculta, preparado para se lançar novamente ao solo e travar o percurso ameaçador da bola. Só lhe faltou tirar o golo da cabeça de Congo... 

Rui Dolores

Um acelera artístico, que sempre foi descobrindo espaços num arranque súbito e desenhando muitos mais nas curvas e contracurvas do drible. Talvez o mais letal dos venenos que Sousa havia preparado num simples, apesar de agradável, composto de contra-ataque. Mereceu, mais do que ninguém o golo, que nunca conseguiu. Por culpa de Óscar, que quase comeu a bola antes de se engasgar e nunca perceber que, do outro lado, só, a agitar os abraços e ao ponto de desesperar, estava alguém doidinho por trocar as voltas a Tomic, o tal que, muito mais tarde, pareceria batido para chegar à bola uma fracção de segundo antes, justamente a meio da ínfima porção de tempo em que Dolores planeava o método para deixar o guarda-redes alemão a esbarrar na leveza da atmosfera.  

Ricardo Sousa

Combina, como ninguém, pormenores carregados de genialidade e lapsos de um simples e ingénuo aprendiz. Artista, por vezes um sublime criador, deliciou a menor facção da bancada e deixou a parte restante em alvoroço, numa aflição desmedida, que haveria de ser irreversivelmente atenuada numa decisão estranha e precoce do pai e treinador, que o fez sair mais cedo, muito depois de se ter baralhado com a perspectiva de correr, sem companhia, na direcção de Tomic. 

Luís Manuel, Paiva e Soderstrom

Três trincos no espaço de uma enorme circunferência rendiam pernas a mais para um jogo só. Prometiam excesso de batalha, com a fuga implícita de talento. Por sorte, quiseram os treinadores que cada um deles fosse muito mais do que um abominável destruidor. Na verdade, todos têm pés para criar, por mais pequenas que possam ser as doses de genialidade que acompanham a corrida de cada um. Da mistura inevitável, acentuada à primeira ordem do árbitro, distinguiu-se Luís Manuel, que bastou para a parelha de adversários. Muitas vezes só, noutras reclamando o auxílio de Fernando Aguiar. Soube sempre onde colocar a bola, depois de recuparada, fundiu-se no contra-ataque e não esteve muito longe de marcar. 

Maurílio

Os poucos casos de sério perigo vimaranense geravam a seus pés, agarrados à finta e indiferentes ao lado ensaiado ou ao pé predilecto do brasileiro malabarista, que distribuía cruzamentos e passes desenhados espontaneamente, mas rigorosos, e penava pela retribuição, que jamais surgiria da forma sonhada. Um derrube a Paiva depositou-lhe a bola na marca de penalty. Disseram-lhe que desfizesse o empate. Tomou balanço, correu, ameaçou e enganou Palatsi, mas a perfeição do remate pecou por uns míseros centímetros. Acertou no poste. Aquele não era o seu dia. Já havia desconfiado, quando lhe ligaram a cabeça para remediar um choque violento com Vítor Silva, que o tinha deixado por terra.

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