Polícia de Israel suspeita de vigiar figuras públicas com software de hacking "Pegasus"

CNN , Andrew Carey e Amir Tal
8 fev 2022, 22:00
A entrada da filial da empresa cibernética NSO Group no deserto de Arava em Sapir, Israel. Foto: Amir Levy/Getty Images

Em causa estará uma ampla vigilância a figuras públicas de alto nível que não são suspeitas de qualquer irregularidade. O mesmo software esteve relacionado com denúncias de vigilância de jornalistas, ativistas e chefes de estado em todo o mundo

O Governo de Israel está a avaliar a abertura de um inquérito à polícia devido à crescente ira pelo alegado uso por parte das autoridades policiais do software de hacking “Pegasus” contra uma ampla gama de figuras públicas de alto nível.

Este desenvolvimento surge após um novo relatório do site de notícias de negócios Calcalist, que alega que os telefones pertencentes a, entre outros, vários ministros do governo, um importante empresário, um coarguido no julgamento de Benjamin Netanyahu e até mesmo um dos filhos do antigo primeiro-ministro, foram alvo do spyware “Pegasus”.

É o relatório mais recente do site, que está ligado ao principal jornal de Israel, o “Yedioth Ahronoth”, e detalha o alegado uso por parte da polícia do software “Pegasus”, fabricado pela NSO Group. Tal como na anterior reportagem sobre esta história, o site não forneceu nenhuma informação sobre as suas fontes, nem as datas em que a alegada ilegalidade terá acontecido.

Relatórios anteriores do Calcalist já se concentravam no alegado erro da falta de um pedido de autorização para o uso do “Pegasus”, mas as últimas alegações vão muito mais longe, sugerindo uma ampla vigilância a pessoas que não são suspeitas de qualquer irregularidade.

“O Calcalist pode revelar pela primeira vez uma lista de dezenas de cidadãos que foram alvos da polícia de Israel, e que tiveram os seus telefones invadidos por spyware da NSO, levando a que as suas informações pessoais fossem roubadas e arquivadas. A vigilância foi efetuada em busca de informações, mesmo antes de ser aberta qualquer investigação contra os alvos e sem qualquer autorização judicial”, começa o artigo.

Poucas horas após a publicação do relatório, o Ministro da Segurança Pública de Israel, responsável pela polícia, anunciou que ia pedir aos colegas do Governo que aprovassem a criação de uma comissão governamental de inquérito ao uso de spyware e outras tecnologias de espionagem eletrónica, “para investigar em profundidade a violação dos direitos civis e da privacidade, nos anos em questão.”

O primeiro-ministro Naftali Bennett também comentou, dizendo: “Os relatórios sobre o ‘Pegasus’, se forem verdadeiros, são muito graves. Esta ferramenta e outras semelhantes são importantes na luta contra o terrorismo e os crimes graves, mas não se destinavam a ser usadas em campanhas de busca de informações tendo como alvos o público ou as altas figuras de Israel, e é por isso que temos de perceber exatamente o que aconteceu.”

As alegações aumentam ainda mais a pressão sobre a polícia de Israel, que tem sido alvo de críticas desde o primeiro relatório do Calcalist, no mês passado, que referia o uso do “Pegasus”. Na semana passada, numa declaração vaga, a polícia admitiu que certas “descobertas adicionais” de uma investigação interna foram entregues ao gabinete do procurador-geral, que abriu a sua própria investigação sobre como a polícia de Israel monitora as comunicações eletrónicas.

Numa entrevista à rádio de Israel, segunda-feira de manhã, o porta-voz da polícia Eli Levy insistiu que todas as ações policiais investigadas até agora foram realizadas legalmente.

“Até este ponto, não se detetou qualquer irregularidade no trabalho da polícia. Somos transparentes e estamos abertos a qualquer investigação”, disse ele. “Se se verificar que um agente ou um oficial cometeu um crime, essa pessoa será imediatamente acusada.”

Entre aqueles cujos telefones foram alegadamente infetados com o “Pegasus” está Iris Elovitch, coarguida no julgamento por corrupção do antigo primeiro-ministro Netanyahu. O advogado Jack Chen, - que representa o marido de Elovitch, Shaul, que também está a ser julgado, - disse que estas revelações significam que o julgamento deve ser suspenso.

Um dos principais colegas do partido Likud de Netanyahu, Yisrael Katz, ecoou esse sentimento no Twitter.
“À luz do que foi revelado nos últimos dias, bem como esta manhã, exijo a cessação imediata de todos os processos legais contra Benjamin Netanyahu... Foi feita uma tentativa grosseira, por meios ilegais, de derrubar um primeiro-ministro em exercício, e isso representa uma grave ameaça à democracia no Estado de Israel”, publicou Katz no Twitter.

Os procedimentos no julgamento, que decorre no Tribunal Distrital de Jerusalém, continuaram na segunda-feira, como planeado, embora os promotores tenham recebido uma extensão até as 19 horas para dizer se a testemunha atual, Dana Neufeld, assessora jurídica do Ministério das Comunicações no período em questão, estava entre as pessoas sob vigilância.

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