Agora, os clientes da Apple podem usar os mesmos carregadores USB-C para alimentar iPhones, iPads e computadores Mac - já não é preciso procurar o carregador certo para cada aparelho. O carregamento também pode ocorrer entre dispositivos, como ligar um iPhone com pouca bateria a um iPad totalmente carregado, ou de forma semelhante entre marcas diferentes
A Apple disse adeus ao seu carregador Lightning esta terça-feira, exatamente 11 anos após o dia em que foi anunciado pela primeira vez.
O esforço marca um momento importante para a empresa ao finalmente adotar o USB-C, um sistema de carregamento universal. Isto é digno de nota não apenas porque a Apple tem resistido a fazê-lo há anos, mas porque está prestes a tornar o carregamento muito mais fácil para os seus clientes.
Mas, como acontece com a maioria das coisas, há um senão: a mudança para uma norma universal significa que a Apple está a abdicar do controlo do seu ecossistema de carregamento com fios, e identificar os bons carregadores dos maus não será óbvio para muitos consumidores.
O que está a mudar?
No lançamento do iPhone 15, a empresa anunciou que todos os seus smartphones de nova geração serão lançados com carregamento USB-C, assim como a última iteração dos AirPods Pro. Embora a Apple já tenha mudado os iPads e MacBooks para carregamento USB-C, resistia a fazer a mudança no iPhone até agora.
A mudança acabou por ocorrer menos de um ano depois de a União Europeia ter aprovado legislação para exigir que smartphones, tablets, câmaras digitais, altifalantes portáteis e outros pequenos dispositivos suportem carregamento USB-C até 2024. A lei inédita visa reduzir o número de carregadores e cabos com que os consumidores têm de se confrontar quando compram um novo dispositivo e permitir aos utilizadores misturar e combinar dispositivos e carregadores, mesmo que tenham sido produzidos por fabricantes diferentes.
Agora, os clientes da Apple podem usar os mesmos carregadores USB-C para alimentar iPhones, iPads e computadores Mac - já não é preciso procurar o carregador certo para cada aparelho. O carregamento também pode ocorrer entre dispositivos, como ligar um iPhone com pouca bateria a um iPad totalmente carregado, ou de forma semelhante entre marcas diferentes.
"Esta é, sem dúvida, a maior perturbação no design do iPhone desde há vários anos, mas, na realidade, não é uma mudança dramática", afirmou Ben Wood, analista da CCS Insight.
No ano passado, o vice-presidente sénior de marketing mundial da Apple, Greg Joswiak, salientou o valor e a omnipresença do carregador Lightning, concebido para um carregamento mais rápido dos dispositivos, mas referiu que "obviamente" teriam de cumprir a ordem da UE.
"Não temos escolha, como fazemos em todo o mundo, para cumprir as leis locais, mas pensamos que a abordagem teria sido melhor em termos ambientais e melhor para os nossos clientes não ter um governo [a ter] essa perspetiva", disse Joswiak na altura.
A decisão da UE faz parte de um esforço maior para combater o lixo eletrónico em geral, mas poderá gerar mais resíduos a curto prazo, à medida que as pessoas forem retirando os cabos Lightning. Embora a Apple tenha manifestado preocupações ambientais sobre o que acontece com os carregadores Lightning antigos, também tem razões financeiras para insistir na mudança.
A história do carregador Lightning
A Apple introduziu o carregador Lightning juntamente com o iPhone 5 em 2012, substituindo o conetor de base de 30 pinos existente por um que permitia um carregamento mais rápido e tinha um design reversível. Também deu início a um negócio de acessórios relacionados, exigindo que os utilizadores comprassem um adaptador Lightning de 30 dólares para ligar o dispositivo a bases de ligação mais antigas, despertadores e sistemas de altifalantes.
"Para a Apple, tratava-se de controlar o seu próprio ecossistema", afirmou David McQueen, diretor da ABI Research. "A Apple ganha um bom dinheiro com a venda de cabos Lightning e seus muitos acessórios relacionados."
A Apple também recebe uma parte financeira dos acessórios e cabos de terceiros que passam pelo seu programa Made For iPhone. "A mudança para o USB tipo C retiraria este nível de controlo, uma vez que o USB-C é um ecossistema muito mais aberto", afirmou McQueen.
A Apple está agora a vender um novo adaptador USB-C para Lightning de 29 dólares (cerca de 27 euros) para permitir que as pessoas liguem os seus acessórios Lightning existentes a um iPhone ou iPad com USB-C para carregar ou partilhar dados. Da mesma forma, a Apple introduziu um dongle de 29 dólares em 2012 para ligar o iPhone 5 - o primeiro telefone com o seu carregador Lightning - a antigas bases de ligação, rádios despertadores e sistemas de altifalantes.
O que significa isto para os utilizadores do iPhone?
A mudança para USB-C provavelmente não será um incentivo para as pessoas atualizarem, mas pode influenciar alguns consumidores que têm sido resistentes ao iPhone por causa das suas limitações de carregamento, de acordo com Thomas Husson, vice-presidente da Forrester Research.
Tendo em conta que muitos dispositivos móveis já utilizam USB-C, incluindo os próprios iPads e MacBooks, o acesso ao carregamento não deveria ser muito difícil ou dispendioso.
Mas as imitações abundam, e alguns carregadores USB-C são muito mais seguros do que outros. Alguns podem fornecer demasiada energia e outros não a suficiente. Alguns podem regular o fluxo de eletricidade e dados para o seu telemóvel - e outros não. Entre as principais recomendações da CNN Underscored para carregadores USB-C estão as de grandes marcas, incluindo Anker, Belkin, Apple, Amazon e Google.
"Dado o quão amplamente o USB-C tem sido usado em outros dispositivos, é difícil imaginar que os clientes serão totalmente apanhados por essa mudança e, a longo prazo, é provável que os beneficie, com um sistema de carregamento universal tendo algumas vantagens muito óbvias ", disse Wood.
A Apple também disse que um controlador USB-C dedicado permitirá velocidades de transferência até 20 vezes mais rápidas do que com a tecnologia USB-2 para o iPhone 15 Pro.
A retirada do cabo Lightning pode até gerar, a curto prazo, uma onda de lixo eletrónico. Mas a Apple disse à CNN que tem um programa de reciclagem "robusto" onde é possível trazer carregadores e cabos usados. Também é possível procurar um centro de reciclagem de lixo eletrónico local ou uma loja Best Buy para opções amigas do ambiente, no caso dos Estados Unidos.
