"Precisamos de armas, armas, armas", alerta secretário do Conselho de Defesa da Ucrânia

Agência Lusa , DCT
11 fev, 10:02
Oleksiy Danilov (Associated Press)

Até agora, apenas Países Baixos, Dinamarca, Bélgica e Noruega prometeram caças F-16 à Ucrânia dentro da coligação internacional que foi criada e que integra Portugal, que, por sua vez, só se comprometeu com a formação de pilotos, mecânicos e técnicos.

O secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, afirma que as forças ucranianas enfrentam um momento “muito difícil” e precisam de “armas, armas, armas”, alertando que “a espera influencia a situação” do conflito.

“A situação na linha da frente é muito difícil. Nunca foi fácil desde 24 de fevereiro de 2022 [data da invasão russa] e, se alguém pensar que a linha da frente é fácil, são pessoas que não entendem a guerra”, disse o alto responsável ucraniano em entrevista à agência Lusa, destacando que “a Rússia está a receber ajuda da Coreia do Norte e do Irão e isso levou a algumas alterações na situação”.

O secretário da instituição ucraniana advertiu que, neste cenário, se o mundo ocidental não aumentar significativamente as suas remessas de armas e munições, “a situação ficará realmente complicada”, deixando um apelo quando questionado sobre as necessidades imediatas das forças de Kiev: “Precisamos de armas, armas, armas”.

Oleksiy Danilov considera que este é um tema difícil, na medida em que a Ucrânia está a receber apoio dos seus aliados, como aconteceu recentemente com o pacote de 50 mil milhões de euros aprovado pela União Europeia, enquanto outros 60 mil milhões de dólares (56,6 mil milhões de euros) se encontram pendentes para aprovação no Congresso dos Estados Unidos, até agora bloqueados pela ala republicana radical na Câmara dos Representantes.

“É uma questão de tempo e quantidade”, afirma, advertindo que “qualquer espera, obviamente, influencia a situação” ao cabo de quase dois anos de guerra, num fase em que a Rússia parece ter tomado a iniciativa na frente oriental da Ucrânia, embora sem ganhos assinaláveis, e fustiga as cidades ucranianas com bombardeamentos.

“Se nos perguntarem: vamos parar? Não o faremos, defenderemos o nosso país. Não temos outra alternativa, não temos outra opção. E esperamos realmente que os parceiros compreendam que a nossa independência está sob ameaça e também a imagem, autoridade e unidade de todo o Ocidente”, declarou.

A propósito da ajuda europeia, Oleksiy Danilov reconheceu que “qualquer apoio melhora a situação na linha da frente, no país, e aumenta a capacidade de continuar” a guerra contra a agressão russa, mostrando a convicção de que o mesmo acontecerá em Washington: “Estou mais do que certo de que o apoio dos Estados Unidos será votado nos próximos tempos”, afirmou.

“Os Estados Unidos são realmente vitais para nós. E, depois da nossa vitória, estaremos gratos a toda a gente, a todos os que nos estão a ajudar a alcançá-la”, disse o secretário ucraniano, insistindo na necessidade de rápido abastecimento de armamento às forças de Kiev.

A propósito, Danilov, que foi antes governador da província de Lugansk, no leste do país e que se encontra parcialmente sob ocupação russa, referiu-se ao fornecimento de caças norte-americanos F-16, ressalvando que se trata de “uma questão muito sensível” para as forças ucranianas no esforço de guerra.

“Queremos realmente ser mais poderosos do que o inimigo, que tem neste momento vantagem nos céus da Ucrânia, na medida em que tem uma grande quantidade de aviões. Enquanto não tivermos a mesma quantidade, será muito difícil para nós continuar a lutar”, comentou.

Até agora, apenas Países Baixos, Dinamarca, Bélgica e Noruega prometeram caças F-16 à Ucrânia dentro da coligação internacional que foi criada e que integra Portugal, que, por sua vez, só se comprometeu com a formação de pilotos, mecânicos e técnicos.

Este assunto foi levantado durante visita de dois dias que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, realizou à Ucrânia nas passadas segunda e terça-feira, tendo então reafirmado o compromisso de Portugal em relação à coligação internacional.

Logo depois, Ihor Zhovkva, chefe de gabinete adjunto do Presidente ucraniano, disse, em entrevista à Lusa, que a Ucrânia espera que Portugal ceda alguns dos seus aparelhos, à semelhança do que fizera com os tanques modernos alemães Leopard, de modo a aumentar um contributo que considerou “ainda modesto”, tendo Danilov reforçado: “Esperamos por todos os países membros da NATO”.

A respeito de prazos, o secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional limitou-se a mencionar que “se está a cumprir o calendário” para as entregas, que foram apontadas para o primeiro semestre deste ano, mas escusou-se a indicar datas mais precisas: “Não se trata de uma informação que possa comentar”, justificou.

Passados quase dois anos sobre a invasão russa da Ucrânia, o secretário da entidade ucraniana desafiou os aliados a “não mostrar medo” da Rússia, avisando que, se isso suceder, “a guerra será perdida”.

“Nunca se deve ter medo e muitos países têm medo da guerra e medo da Rússia”, observou, num momento em que a entrevista à Lusa foi interrompida por uma chamada inadiável. Era do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Danilov abordou também o estado de espírito das Forças Armadas e da população ucraniana, assumindo que “é muito difícil lutar contra o agressor durante dois anos”, mas a Ucrânia “não tem o direito à derrota”, frisou, apesar da situação atual, da fadiga acumulada e das lições que é urgente aprender.

“Se eu disser que toda a gente está altamente motivada, trata-se de uma afirmação falsa. Cada um tem a sua própria condição, a sua própria situação moral e a sua própria motivação. Mas, se falarmos em geral no futuro, todos terão uma compreensão positiva da situação”, afirmou, usando uma imagem: “Após cada noite escura, a manhã chega e a luz do sol aparece. E espero que nos próximos tempos vejamos o sol nascer”.

O Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia é um órgão de coordenação que funciona sob o comando do Presidente Zelensky.

A instituição coordena e supervisiona as atividades dos órgãos do poder executivo na esfera da segurança e defesa nacional.

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