Euribor já estão a bater no máximo. Agosto pode ser ponto de viragem, mas prestação da casa continua a subir

18 ago 2023, 07:00

Apenas a Euribor 3 meses deverá continuar a subir. Mês de agosto pode trazer primeira descida na Euribor 12 meses e uma estabilização na Euribor 6 meses. Ainda assim, prestações da casa vão continuar a aumentar. Confira as simulações

As taxas Euribor estão a subir de forma ininterrupta desde janeiro do ano passado, mas agosto poderá ser um ponto de viragem, com a média das Euribor a seis e a 12 meses a recuar pela primeira vez desde o início do ano passado.

Se o mês de agosto tivesse terminado esta quinta-feira, essa já seria, aliás, uma realidade. Em julho, a média da Euribor 6 meses fixou-se em 3,942% e a média do mês de agosto, até dia 17, estava em 3,941%, menos 0,001 pontos. Na Euribor 12 meses a diferença é ligeiramente maior: em julho a taxa fixou-se nos 4,149% e em agosto está em 4,070%, menos 0,079 pontos. Se se mantiver esta tendência até ao final do mês, será a primeira vez desde o início do ano passado que se verifica uma descida de taxas, deixando antever que a subida de juros pode já ter atingido o seu ponto máximo.

A Euribor 6 meses e a Euribor 12 meses, recorde-se, são os indexantes utilizados na esmagadora maioria dos contratos de crédito à habitação em Portugal. Segundo dados do Banco de Portugal, 87% dos contratos de crédito à habitação em Portugal estão indexados a taxas Euribor e destas, 40% estão indexados à Euribor 12 meses e 35% à Euribor 6 meses.

No que diz respeito à taxa Euribor 3 meses, que representa 23% dos contratos de crédito à habitação em Portugal a taxas variáveis, ainda não deverá ser em agosto que se irá sentir uma inflexão da subida. Em julho, o valor médio atingiu os 3,672% e nos primeiros 17 dias de agosto o valor está em 3,766%, uma subida de 0,094 pontos que, ainda assim, é a menor subida registada desde junho do ano passado.

“É bastante provável que já tenhamos assistido em julho aos máximos da Euribor 12 meses deste ciclo de subida das taxas de juro. A média da Euribor 12 meses em agosto será provavelmente mais baixa do que a de julho”, salienta o economista Filipe Garcia, da IMF – Informação de Mercados Financeiros. Já no que diz respeito às restantes taxas, Filipe Garcia diz que “a Euribor 6 meses está a estabilizar e a média de agosto devera ser semelhante à de julho” enquanto “a Euribor a 3 meses ainda deverá continuar a subir para convergir com as taxas de referência do Banco Central Europeu (BCE).

A atuação futura do BCE é, aliás, um ponto determinante para avaliar o que vai acontecer às taxas Euribor. O analista da XTB, Vítor Madeira, considera que “será muito prematuro anunciar que as taxas Euribor atingiram o seu ponto máximo” e recorda que na última reunião do BCE, Christine Lagarde enfatizou que embora a taxa de inflação estivesse a descer na zona euro a um bom ritmo, ainda permanecia muito alta. “Assim, a possibilidade de nova subida da taxa de juro continua em cima da mesa. Serão necessários mais dados concretos que mostrem que a inflação continua a cair para os níveis do objetivo”, sublinha Vítor Madeira.

BCE volta a subir taxas este ano?

A grande questão que ainda se coloca é saber se o BCE voltará a subir taxas de juro este ano. “O mercado atribui uma probabilidade de um pouco mais de 50% de uma subida adicional de taxas em setembro”, sublinha Filipe Garcia, recordando, no entanto, que os mercados dão quase como certa “uma subida até ao fim do ano.”

E se os dados dos preços pressionam o BCE a voltar a subir taxas ‑ ­a inflação ainda está num valor superior a 5%, muito acima do objetivo dos 2%  - a desaceleração da economia que se faz sentir nos maiores países da zona euro também é um fator a considerar.

Vítor Madeira concorda com Filipe Garcia e sublinha que neste momento “o mercado ainda coloca a possibilidade de nova subida até ao final do ano”, mas lembra, por outro lado, que “a produção tem diminuído substancialmente nos principais motores europeus (Alemanha e Itália), o que pressiona o banco central. O analista da XTB lembra mesmo que “nesta altura a Alemanha já está em recessão técnica”, uma realidade “que dificulta as ações do BCE”.

Tudo somado, o mercado ainda vê com grande probabilidade de pelo menos mais uma subida de 25 pontos base até ao final do ano por parte do BCE”, conclui Vítor Madeira.

Num inquérito feito pela agência Reuters a 70 economistas, publicado a 11 de agosto, 53% das respostas apontavam para que não houvesse uma subida de taxas de juro pelo BCE na reunião de setembro, mas os mesmos 53% acreditam que as taxas de juro deverão subir mais 0,25 pontos percentuais até ao final do ano.

 

NOTA | O BCE tem três taxas de juro de referência:

- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,25%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;

- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 3,75%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;

- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,50%.

 

Prestação da casa continua a subir

Apesar da expectável travagem na subida das taxas de juro entre julho e agosto, quem tiver o seu crédito à habitação revisto em setembro, irá voltar a sentir uma subida na prestação a pagar ao banco. Uma situação que decorre do facto de termos de comparar a taxa de juro em vigor na última revisão e não a taxa praticada em julho.

A prestação de quem tiver o seu contrato revisto em setembro será feita com base nas Euribor de agosto. E se se levar em conta os dados até dia 17, então, num contrato de 150 mil euros, indexado à Euribor 12 meses, com prazo de 30 anos e um spread (margem do banco) de 1%, a subida será de 238,3 euros, passando de uma prestação ligeiramente acima de 573 euros, praticada há um ano, para uma prestação superior a 811 euros. 

 

Quanto já aumentou e quanto poderá subir em setembro a prestação da casa

Empréstimo a 30 anos, com spread de 1% e valores das taxas Euribor de agosto com dados até dia 17  

EURIBOR 3 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 85,03  
Dezembro de 2022 103,06 18,03
março de 2023 114,22 11,16
Junho de 2023 124,78 10,56
Setembro de 2023 130,65 5,87
Aumento face há um ano   45,62

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 170,05  
Dezembro de 2022 206,11 36,06
março de 2023 228,45 22,34
Junho de 2023 249,55 21,10
Setembro de 2023 261,31 11,76
Aumento face há um ano  

91,26

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 255,08  
Dezembro de 2022 309,17 54,09
março de 2023 342,67 33,50
Junho de 2023 374,33 31,66
Setembro de 2023 391,96 17,63
Aumento face há um ano   136,88

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 340,10  
Dezembro de 2022 412,22 72,12
março de 2023 456,90 44,68
Junho de 2023 499,11 42,21
Setembro de 2023 522,61 23,50
Aumento face há um ano   182,51

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 425,13  
Dezembro de 2022 515,28 90,15
março de 2023 571,12 55,84
Junho de 2023 623,89 52,77
Setembro de 2023 653,27 29,38
Aumento face há um ano   228,14

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 510,16  
Dezembro de 2022 618,34 108,18
março de 2023 685,34 67,00
Junho de 2023 748,66 63,32
Setembro de 2023 783,92 35,26
Aumento face há um ano   273,76

 

EURIBOR 6 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 90,38  
Março de 2023 121,31 30,93
Setembro de 2023 133,31 12
Aumento face há um ano   42,9

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 180,76  
Março de 2023 242,62 61,86
Setembro de 2023 266,61 23,99
Aumento face há um ano   85,9

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 271,14  
Março de 2023 363,92 92,78
Setembro de 2023 399,92 36
Aumento face há um ano   128,8

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 361,52  
Março de 2023 485,23 123,71
Setembro de 2023 533,22 47,99
Aumento face há um ano   171,7

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 451,9  
Março de 2023 606,54 154,64
Setembro de 2023 666,53 59,99
Aumento face há um ano   214,6

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 542,28  
Março de 2023 727,85 185,57
Setembro de 2023 799,83 71,98
Aumento face há um ano   257,6

 

EURIBOR 12 MESES

  Empréstimo de 25 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 95,56  
Setembro de 2023 135,28  
Aumento face há um ano   39,7

 

  Empréstimo de 50 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 191,12  
Setembro de 2023 270,55  
Aumento face há um ano   79,4

 

  Empréstimo de 75 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 286,68  
Setembro de 2023 405,83  
Aumento face há um ano   119,2

 

  Empréstimo de 100 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 382,25  
Setembro de 2023 541,11  
Aumento face há um ano   158,9

 

  Empréstimo de 125 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 477,81  
Setembro de 2023 676,38  
Aumento face há um ano   198,6

 

  Empréstimo de 150 mil euros
  Pagava Aumento
Setembro de 2022 573,37  
Setembro de 2023 811,66  
Aumento face há um ano   238,3

 

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