Vianense, Vilafranquense e Varzim vão receber os grandes na 3ª eliminatória. Todos vão fazer a receita da época, mas o sonho de ser tomba-gigantes também tem espaço nesta história
*Com Pedro CalhauA festa do povo ou a festa do futebol transforma-se, muitas vezes, na festa da tesouraria dos «pequenos». A receita inesperada de receber um grande saiu, desta feita, a três clubes dos escalões inferiores do futebol nacional, mas de patamares bem diferentes.
O profissional Varzim, da II Liga, filial número um do FC Porto, recebe precisamente os dragões. «Uma coincidência feliz, no ano do nosso centenário»
Realidades diferentes, sonhos e objetivos idênticos. Sejam eles mais ou menos assumidos. Para todos, uma certeza: o tal jackpot
Alexandre, antigo central e atual diretor desportivo do Varzim, assume a ideia. «É sempre algo positivo, não há que escamotear. Os clubes pequenos vivem também do que conseguem fazer nestes jogos, mesmo sendo uma receita inesperada. Esperamos ter uma boca casa, depois também poderá haver interesse na transmissão televisiva, o que seria algo mais. É sempre preferível um jogo destes do que ir jogar aos Açores, por exemplo, onde praticamente só temos custos e o risco de ser eliminado é semelhante»
Do lado do Vilafranquese, o presidente não é tão incisivo, embora saliente a importância do encaixe. «Das duas uma: ou queríamos uma equipa com hipóteses de vitória, ou apanhar uma equipa grande, para tirar partido disso. Será um momento único para os jogadores, para a cidade. Em concreto será uma receita fora do contexto, mas ainda não pensámos no valor que será. Dará estabilidade, é uma receita inesperada, mas ainda não fizemos as contas»
Andrés Madrid, treinador do Vianense, acha que, no seu clube, «ninguém pensa»
Um dado importante a analisar será, também, o palco do jogo. Nesta altura, só o Varzim tem a certeza de jogar no seu estádio.
O Vilafranquense sabe que o seu estádio não tem «a nível de iluminação e condições de segurança»
Por fim, o Vianense também ainda tem dúvidas. Ao nosso jornal, Andrés Madrid já tinha dito que «ainda é cedo»
Esta tarde, no Facebook oficial
«Ganhar ao Benfica? A quem trabalha, a sorte acompanha»
Andrés Madrid começou como jogador e agora treina o Vianense
Andrés Madrid é, de longe, o mais experiente elemento do grupo do Vianense. Chegou no início da época, como jogador, assumiu recentemente o cargo de treinador. Estreou-se, precisamente, na anterior eliminatória da Taça, eliminando o Bustelo, do mesmo escalão, nos penáltis.
«Nesta fase já sabíamos que nos podiam calhar tubarões. É normal que estejamos sempre à espera de encontrar uma equipa mais ou menos da nossa capacidade, mas foi o que o sorteio ditou. Vamos jogar contra o Benfica, acho que é bom para clube e para os jogadores é uma novidade»
O argentino não tem dúvida que o nome do rival, por si só, motiva mais do que os jogadores. «Também os adeptos»
«No futebol há sempre pressão, seja em que escalão for. Todos querem ganhar e nós temos esse objetivo. Sabemos que não é um jogo da Taça da Amizade, é uma competição oficial e, como sempre, é para ganhar»
«O que pode fazer o Vianense? O mesmo de sempre. Vamos tentar jogar o nosso futebol e tentar criar dificuldades ao Benfica com o apoio dos nossos adeptos e com a força que, certamente, vão passar para os jogadores. Ganhar? Tudo é possível. Quem trabalha, a sorte acompanha»
«O jogo mais importante da história do Vilafranquense»
Campo de Cevadeiro em Vila Franca de Xira
O Vilafranquense, por seu turno, parece mais resignado. «Todos os cenários são possíveis, mas as nossas possibilidades, em termos de percentagem, são mínimas»
O presidente lembra, contudo, que os jogadores estarão, de certeza, com a motivação nos píncaros. «O que se ganha com este jogo é precisamente isso, a moralização dos jogadores. É uma oportunidade que, certamente, muitos não voltarão a ter. A oportunidade da visibilidade que este jogo vai dar»
Aliás, Rodolfo Frutuoso não tem qualquer dúvida: «Este será, claramente, o jogo mais importante da história do Vilafranquense.»
«Jogámos com o FC Porto há 11 anos, nas Antas. O nosso treinador era o Rui Vitória e o do FC Porto era o Mourinho. Mas foi nas Antas. Agora é em Vila Franca»
A propósito de Rui Vitória, Rodolfo Frutuoso sorri quando questionado sobre a ligação ao clube: «Já cá não está há mais de 10 anos. Não há qualquer ligação, nem me parece que haja pontos de ligação. Mas ele terá achado graça ao sorteio com certeza. Mas não estou a pensar pedir-lhe conselhos.»
O «perfeito» reencontro com o FC Porto e o regresso de André André
A festa da subida do Varzim
No Varzim, o jogo com o FC Porto é visto como um prémio. O clube está, esta época, de volta à II Liga, depois de anos difíceis em escalões mais baixos.
O diretor Alexandre assume que o sonho era receber um grande. O FC Porto, ainda melhor. «Jogar com o FC Porto no ano do centenário sendo nós a filial número um é uma coincidência especial. Acho que não poderia ser mais perfeito. É uma grande alegria para todos nós, sempre houve uma grande proximidade entre os dois clubes»
Para os adeptos, então, o dia será de festa. «O sorteio foi um enorme prémio para a massa associativa que passou um mau bocado nos últimos anos. O clube tem vindo a recuperar prestígio e este jogo funciona quase como uma recompensa»
«Em campo o Varzim vai fazer o que faz sempre: lutar com as armas que tem. Possivelmente o FC Porto poderá fazer alguma rotatividade nesse jogo, por causa da proximidade com um compromisso europeu, mas será, certamente, uma equipa recheada de grandes jogadores, de qualquer forma»
Ele que sabe bem como é bater o pé aos grandes na Póvoa, mesmo estando em Divisões diferentes. «Ainda há não muito tempo, ainda eu jogava e tivemos a felicidade de eliminar o Benfica em condições muito parecidas
Para este jogo que, sublinha Alexandre, «deverá ser no sábado»
«Seria o regresso a casa de um miúdo muito querido por todos. Ninguém aqui está surpreendido com o que tem conseguido porque já o conhecíamos. E para ele será também um jogo especial, certamente, porque passou por todos os nossos escalões de formação, jogou nos seniores, foi capitão de equipa e sempre nos acompanhou. Ainda no ano passado esteve connosco em muitos jogos da nossa campanha. Acredito que, muito ou pouco, irá ser sempre utilizado»