Viagem aos jogos decisivos da 'Prova Rainha' entre águias e dragões, com muitos nomes que fazem parte da nossa memória coletiva. Quem será o décimo futebolista e entrar nesta elite?
Pela décima vez na história do futebol português, a final da Taça de Portugal é disputada entre Benfica e FC Porto. Os velhos rivais jogam em Coimbra e carregam aos ombros o peso de uma relação pesada, mas também recheada de grandes momentos de futebol.
O Maisfutebol faz uma viagem pelos nove duelos anteriores no jogo decisivo da 'Prova Rainha' e recupera o nome dos heróis de cada uma dessa partidas. Os benfiquistas estão em destaque, pois as águias venceram oito desses clássicos.
Uma homenagem à memória e à responsabilidade de defender dois emblemas obrigatórios para quem quer folhear as páginas da enciclopédia do futebol nacional.
HERÓI Nº 1: ARSÉNIO (Benfica)
28 de junho de 1953: Benfica-FC Porto, 5-0
. Golos: Rogério Pipi, Arsénio (3) e José Águas
A primeira final da Taça de Portugal entre Benfica e FC Porto aconteceu há 67 anos. O grande herói do jogo foi Arsénio, autor de um hat trick. Rogério Pipi e José Águas fizeram os outros golos de um Benfica treinado na época por Ribeiro dos Reis.
Do lado do FC Porto, o treinador Cãndido de Oliveira, que substituíra meses antes o argentino Lino Taioli, pouco pôde fazer. Na baliza dos portistas, Barrigana foi sendo batido de forma natural. O FC Porto perdeu a taça e acabou o campeonato (ganho pelo Sporting) no quarto lugar. José Maria Pedroto, contratado ao Belenenses no início da época, fez muita falta aos dragões no Jamor.
Arsénio Duarte começou no Barreirense e jogou no Benfica de 1943 a 1955. Fez ainda mais quatro anos na CUF e deixou de jogar em 1959. Somou duas internacionalizações pela Seleção Nacional, foi três vezes campeão nacional e ganhou seis vezes a Taça de Portugal.
HERÓI Nº 2: HERNÂNI (FC Porto)
15 de junho de 1958: FC Porto-Benfica, 1-0
. Golo: Hernâni
Um pontapé colocadíssimo ao ângulo superior esquerdo da baliza defendida por Bastos deu ao FC Porto a única Taça de Portugal vencida frente ao Benfica no jogo decisivo. O autor do remate foi o extraordinário Hernâni, um dos melhores avançados a vestir o dragão ao peito, eternizado como «Furacão de Águeda».
Hernâni jogou de 1950 a 1964 pelo FC Porto, com uma curta passagem pelo Estoril-Praia na época 1952/53. A cumprir serviço militar na capital, o atacante foi emprestado pelos dragões e ainda reforçou o Sporting numa digressão de final de época pela América do Sul.
Falecido em 2001, Hernâni fez 28 jogos e cinco golos pela Seleção Nacional. Pelo FC Porto foi duas vezes campeão nacional e ganhou duas Taças de Portugal.
VÍDEO: imagens RTP e Canal 11
HERÓI Nº 3: CAVÉM (Benfica)
19 de julho de 1959: Benfica-FC Porto, 1-0
. Golo: Cavém
Logo no primeiro minuto do clássico no Jamor, Cavém aproveitou uma bola devolvida pelo poste direito da baliza de Acúrsio e disparou para o fundo da baliza do FC Porto. A final da Taça de Portugal de 1959 ficava resolvida nesse pontapé.
O segundo tempo foi muito disputado, mas os campeões nacionais portistas – treinados por Béla Guttmann – não conseguiram chegar sequer ao empate. Aos 62 minutos, Artur Santos e Carlos Duarte pegaram-se e receberam ordem de expulsão.
Falta falar do herói da tarde. Domiciano Cavém jogou de 1955 a 1969 no Benfica, depois de passar pelo Lusitano de VRSA e pelo Sp. Covilhã. No final da carreira ainda vestiu a camisola d’Os Nazarenos e do Académico de Viseu.
Fez 18 jogos e cinco golos pela seleção de Portugal. Foi nove vezes campeão nacional, ganhou cinco taças e duas Taças dos Campeões Europeus. Deixou de jogar em 1974 e faleceu em 2005.
VÍDEO: imagens RTP
HERÓI Nº 4: JOSÉ AUGUSTO (Benfica)
5 de julho de 1964: Benfica-FC Porto, 6-2
. Golos: José Augusto (2), Simões, Eusébio, Serafim e Torres; Custódio Pinto e Carlos Batista
Aos 12 minutos, José Augusto já marcara dos golos e agarrara o estatuto de herói do jogo. O primeiro nasceu num cabeceamento e o segundo foi um dos mais simples na carreira do magriço: com Américo fora da baliza, José Augusto recebeu o passe de José Torres e encostou para as redes abandonadas.
É verdade que o FC Porto ainda reagiu com um belo golo de Custódio Pinto, num cabeceamento colocadíssimo, mas depois o jogo foi todo do Benfica. Eusébio e Simões aumentaram para 4-1, Carlos Batista reduziu, Serafim e José Torres colocaram o score no 6-2 final.
Resta lembrar que José Augusto começou a jogar no Barreirense e chegou em 1959 ao Benfica. Fez 11 temporadas na Luz, ganhou oito campeonatos nacionais, três Taças de Portugal e duas Taças dos Campeões Europeus. Fez 45 jogos e 10 golos pela Seleção Nacional.
VÍDEO: imagens RTP
HERÓI Nº 5: CÉSAR (Benfica)
7 de junho de 1980: Benfica-FC Porto, 1-0
. Golo: César
O campeonato nacional de 1980 foi para Alvalade e, numa união raras vezes vista, adeptos do Sporting associaram-se aos vizinhos do Benfica e estiveram no Jamor a torcer contra o FC Porto. Os dragões preparavam-se para o famoso «Verão Quente» e acabaram o jogo em lágrimas – ainda no relvado – e agredidos – já no exterior, segundo diz a reportagem da RTP.
O jogo foi quente (claro) e resolvido por um pontapé muito bem colocado de César. O avançado brasileiro esteve no Benfica de 1979 a 1983 e deixou a Luz com um registo de 23 golos em 86 jogos. Chegou do América e partiu para o Grémio.
César aproveitou bem os anos em Portugal. Foi duas vezes campeão nacional, ganhou três taças e uma vez a Supertaça.
VÍDEO: imagens RTP
HERÓI Nº 6: NENÉ (Benfica)
6 de junho de 1981: Benfica-FC Porto, 3-1
. Golos: Nené (3); Veloso (autogolo)
Três finalizações brilhantes de Nené anularam a boa entrada do FC Porto e o autogolo do infeliz Veloso. O homem que não sujava os calções estava imparável e nunca tremeu na cara do guarda-redes Tibi.
No primeiro golo do Benfica aproveitou um corte defeituoso de Simões, no segundo deu seguimento perfeito a um trabalho magnífico de Shéu e no terceiro capitalizou a sua capacidade de desmarcação nas costas da defesa azul e branca.
Nené fez toda a carreira no Benfica e é detentor do recorde de jogos oficiais pelas águias: 578. Marcou 362 golos e só Eusébio e José Águas foram capazes de mais.
Pela Seleção Nacional, o antigo avançado esteve em 65 jogos e marcou 22 golos. Foi dez vezes campeão nacional, ganhou sete taças e duas supertaças. Deixou de jogar em 1986.
VÍDEO: imagens RTP e Canal 11
HERÓI Nº 7: CARLOS MANUEL (Benfica)
21 de agosto de 1983: FC Porto-Benfica, 0-1
. Golo: Carlos Manuel
Pedroto e Eusébio confraternizaram antes do jogo no relvado das Antas – vale a pena rever essas imagens da RTP -, mas essa foi uma exceção ao ambiente de tensão que rodeou este clássico. A final saiu do Jamor e foi realizada nas Antas, casa do FC Porto, mas o Benfica não se atemorizou e ergueu a taça na casa do rival.
O jogo foi resolvido por uma «bomba» de Carlos Manuel, um pontapé quase premonitório, dois anos antes do «milagre de Estugarda». Zé Beto voou, mas nada pôde fazer para parar o pontapé do médio do Benfica, que assim garantiu a dobradinha para o emblema da Luz.
Carlos Manuel, o herói nas Antas, começou a jogar na CUF, passou pelo Barreirense e chegou em 1979 ao Benfica. Após oito anos e meio na Luz, saiu para o Sion (Suíça) e meia época depois assinou pelo Sporting. Fez dois anos em Alvalade, dois no Boavista, dois no Estoril-Praia e deixou de jogar em 1994.
Pela Seleção Nacional esteve em 42 jogos e marcou oito golos. Em Portugal conquistou quatro campeonatos nacionais, sete vezes a Taça de Portugal e duas supertaças.
VÍDEO: imagens RTP
HERÓI Nº 8: MANNICHE (Benfica)
10 de junho de 1985: Benfica-FC Porto, 3-1
. Golos: Nunes e Manniche (2); Paulo Futre
Um erro enorme do saudoso Zé Beto e um penálti escusado do então inexperiente Mito colocaram Michael Manniche nas primeiras páginas dos jornais. O avançado dinamarquês fez o 2-0 a passe de Diamantino, já com Zé Beto fora do lance, e o 3-0 na marcação de um castigo máximo.
O Benfica vingou-se no Jamor da perda do campeonato nacional para o FC Porto, que nesta fase já se afirmara como grande potência nacional e se preparava para o assalto ao espaço-UEFA. Um ano antes, os dragões haviam perdido contra a Juventus na final da Taça das Taças.
Manniche chegou ao Benfica em 1983 e jogou quatro temporadas de águia ao peito. Após 76 golos em 132 jogos, o ponta-de-lança regressou à Dinamarca e despediu-se dos relvados em 1996, ao serviço do FC Copenhaga.
Em Portugal foi duas vezes campeão nacional, ganhou três Taças de Portugal e uma Supertaça. Pela seleção da Dinamarca fez dois jogos.
VÍDEO: imagens RTP
HERÓI Nº 9: SIMÃO SABROSA (Benfica)
16 de maio de 2004: Benfica-FC Porto, 2-1 (após prolongamento)
. Golos: Fyssas e Simão; Derlei
Dez dias antes de o FC Porto se sagrar campeão da Europa pela segunda vez na sua história, o Benfica impôs-lhe uma derrota cruel no Jamor. O dia começou mal, com escaramuças e alguma violência na mata do Jamor, já depois de se saber do falecimento de Bruno Baião, um jovem que na altura era júnior do Benfica e tinha um contrato profissional à sua espera.
Na final, a oitava perdida pelos portuenses em nove possíveis contra as águias, tudo acabou por ser resolvido no prolongamento por Simão Sabrosa. Após bom envolvimento ofensivo, Zahovic cruzou na direita e Simão, aproveitando a ausência pontual de Nuno Espírito Santo debaixo dos postes, cabeceou para a baliza deserta.
Simão, o ultimo herói desta lista, dividiu a formação entre a Escola Diogo Cão e o Sporting. Fez duas temporadas completas em Alvalade e em 1999 mudou-se para o Barcelona. Após dois anos na Catalunha, assinou pelo Benfica e em seis temporadas tornou-se figura importante e capitão de equipa. Ainda jogou no Atlético Madrid, no Besiktas, no Espanhol e nos indianos do North East United.
Fez 85 jogos pela Seleção Nacional e marcou 22 golos. Em Portugal foi uma vez campeão nacional (2005, Benfica), ganhou uma Supertaça (2005) e ganhou esta Taça de Portugal (2004).
VÍDEO: imagens RTP
FOTO DE CAPA: Nené recebe a taça no Jamor, com a camisola do FC Porto vestida (LUSA / Luís Vasconcelos)