Amnistia Internacional considera escandalosos os lucros da Saudi Aramco

Agência Lusa , MM
12 mar 2023, 09:52
Extração de petróleo em Nefteyugansk, Rússia (Reuters)

Petrolífera estatal saudita teve 151 mil milhões de euros em 2022, o maior luro alguma vez obtido por uma empresa pela venda de combustíveis

A Amnistia Internacional (AI) considerou, este domingo, "escandaloso" o lucro da maior petrolífera do mundo, a estatal saudita Aramco, de 151.000 milhões de euros em 2022, o maior alguma vez obtido por uma empresa pela venda de combustíveis fósseis.

“É escandaloso que uma empresa obtenha lucro de mais de 151.000 milhões de euros num único ano com a venda de combustíveis fósseis, o principal fator da crise climática”, disse a secretária-geral da AI, Agnès Callamard, num comunicado.

Para Callamard, “mais chocante" é o facto de o lucro ter sido acumulado “durante uma crise global do custo de vida e ajudado pelo aumento dos preços da energia decorrente da guerra iniciada pela Rússia com a invasão da Ucrânia”, em 24 de fevereiro de 2023.

A gigante petrolífera Saudi Aramco anunciou hoje ter registado lucros de 161.000 milhões de dólares (cerca de 151.000 milhões de euros) em 2022, obtidos graças à alta dos preços do crude, resultado recorde para uma empresa crucial para a economia saudita.

No relatório anual, a empresa, conhecida formalmente por Saudi Arabian Oil Co., sublinhou que o lucro representava "o maior de sempre”, devendo-se ao aumento dos preços da energia registado na sequência da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, que trouxe sanções e a limitação da venda de petróleo e gás russo nos mercados ocidentais.

A esse respeito, Callamard disse ter chegado a altura de a Arábia Saudita “agir no interesse da humanidade e apoiar a eliminação gradual da indústria de combustíveis fósseis, que é essencial para evitar mais danos climáticos".

Estima-se que o petróleo e o gás produzidos pela Aramco sejam responsáveis por mais de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa desde 1965 e, de acordo com um estudo, foram responsáveis por cerca de 4,8% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa, a maior percentagem de qualquer empresa de petróleo e gás, disse a AI.

A Aramco afirma frequentemente que as emissões operacionais são "baixas" em comparação com outros grandes produtores de petróleo.

“Mas isso é insignificante quando os milhões de barris por dia que [a Aramco] produz continuam a ser consumidos", defendeu a AI.

Por esta razão, Callamard pediu que os lucros da Aramco sejam canalizados para “o benefício do planeta e das suas populações”, pois poderiam financiar uma "transição justa e baseada nos direitos humanos para a energia renovável".

O Governo saudita e o Fundo de Investimento Público (PIF), fundo soberano, possuem mais de 98% da Aramco, tornando a empresa, por meio dos dividendos e impostos que paga, uma importante fonte de receitas, riqueza e influência do reino.

“Dado que prevemos que o petróleo e o gás continuarão a ser essenciais no futuro próximo, os riscos de subinvestimento no nosso setor são reais – inclusive contribuindo para preços mais altos de energia”, disse o presidente executivo da Saudi Aramco, Amin H. Nasser, num comunicado.

Os lucros aumentaram 46,5% quando comparados aos resultados da empresa em 2021, de 110.000 milhões de dólares (103.200 milhões de euros).

A Aramco faturou 49.000 milhões de dólares (46 milhões de euros) em 2020, quando o mundo enfrentou o pior do bloqueio da pandemia de covid-19, interrupções de viagens e preços do petróleo temporariamente negativos.

A Aramco colocou a sua produção de petróleo em cerca de 11,5 milhões de barris por dia em 2022 e indicou que espera atingir os 13 milhões de barris por dia até 2027.

Para aumentar essa produção, prevê gastar até 55.000 milhões de dólares (51.600 milhões de euros) este ano em projetos de capital.

A Aramco também declarou um dividendo de 19.500 milhões de dólares (18.300 milhões de euros) para o quarto trimestre de 2022, a ser pago no primeiro trimestre deste ano.

O petróleo bruto Brent de referência é agora negociado em torno de 82 dólares (76,94 euros) o barril, embora os preços tenham atingido mais de 120 dólares (112,60 euros) o barril em junho. 

A Aramco, cujas fortunas dependem dos preços globais da energia, anunciou também um lucro recorde de 42.400 milhões de dólares (39.780 milhões de euros) no terceiro trimestre de 2022 devido a esse aumento de preço.

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