Salman Rushdie esfaqueado em Nova Iorque. Escritor está ligado a ventilador

António Guimarães , Notícia Atualizada às 00:25
12 ago 2022, 16:27

Agente de Rushdie afirma que o escritor "provavelmente perderá um olho"

Salman Rushdie foi atacado em palco esta sexta-feira, em Nova Iorque. O escritor já tinha sido alvo de ameaças de morte por causa dos seus livros, nomeadamente por causa do livro "Os Versículos Satânicos".

Segundo o agente do escritor, Andrew Wylie, citado pelo jornal The New York Times, o escritor está a ser auxiliado por um ventilador e não consegue falar. "As notícias não são boas. Salman provavelmente perderá um olho; os nervos de seu braço foram cortados; e o seu fígado foi esfaqueado e está danificado", afirmou em declarações ao jornal norte-americano.

Segundo um jornalista da agência Associated Press que estava no local, o escritor preparava-se para dar uma palestra quando um homem irrompeu pelo palco, no Instituto Chautauqua.

Um comunicado da polícia de Nova Iorque confirma uma investigação ao ataque, sendo que mais tarde as autoridades revelaram que o autor foi esfaqueado por duas vezes, uma no pescoço e outra no abdómen. Salman Rushdie foi transportado de helicóptero para um hospital próximo, onde está a ser operado.. O apresentador do evento também foi atacado durante a situação.

A governadora do estado de Nova Iorque afirma que Salman Rushdie está vivo e a receber tratamento, garantindo que o escritor "está a receber os cuidados que precisa".

O suspeito foi intercetado já depois de ter agredido Salman Rushdie. A polícia confirmou ainda que o suspeito sofreu ferimentos ligeiros, tendo sido detido na sequência do caso. Várias horas após o caso a polícia revelou o nome do suspeito: Hadi Matar, um jovem de 24 anos natural de Nova Jérsia. Ainda assim, e de acordo com o agente James O'Callaghan, "não há indicação de um motivo" para o crime.

Salman Rushdie (Grant Pollard/AP)

O escritor, de 75 anos, tem a cabeça a prémio num valor de cerca de três milhões de euros para quem o mate, depois de o seu livro "Os Versículos Satânicos" ter sido banido do Irão, em 1989, ano em que o Aiatola Ruhollah Khomeini declarou-o blasfemo e emitiu uma fátua a pedir a morte do autor, afirmando que as palavras ali escritas eram um insulto ao Islão e ao profeta Maomé.

Salman Rushdie passou uma década sob proteção do Reino Unido antes de o governo iraniano anunciar que a fátua tinha terminado, em 1998. Apesar de se ter distanciado dessa posição, o governo do Irão acabou por aumentar o prémio pela morte do escritor para os atuais três milhões de euros em 2012.

O escritor desvalorizou toda a situação, dizendo que não existiam "provas" de que pessoas estivessem interessadas na recompensa. O escritor veio mesmo a escrever um livro, intitulado "Joseph Anton-Uma Memória", sobre a fátua.

Filho de um muçulmano de nacionalidade indiana, Salman Rushdie foi criado em Inglaterra, onde se graduou na Universidade de Cambridge. Foi precisamente em Londres que publicou o seu primeiro romance, lançando "Grimus" em 1975.

Autor de cerca de duas dezenas de títulos, recebeu o prémio Booker em 1981 com o livro "Os Filhos da Meia-Noite", também distinguido com o Booker of Bookers, em 1993, e, em 2008, com o Best of the Booker. "O Último Suspiro do Mouro" valeu-lhe o prémio Withbread, em 1995, e o Prémio Literatura da União Europeia, em 1996.

Salman Rushdie é publicado em Portugal pela Dom Quixote.

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