Inflação e escassez de profissionais estão a pressionar empresas a subir os salários e há abertura para isso, mas 38% dos empregadores avisam que expectativa dos trabalhadores está "pouco alinhada"
Os salários dos portugueses deverão voltar a subir este ano, mas há um desalinhamento considerável entre as expectativas dos empregadores e as dos trabalhadores. De um lado, as empresas queixam-se de “exigências irrealistas“. Do outro, os trabalhadores mostram-se insatisfeitos com os seus ordenados e acreditam, na sua maioria, que os vencimentos não estão em linha com os níveis de responsabilidade assumidos.
O retrato é traçado pela empresa de recursos humanos Hays, num novo guia que teve por base as respostas de mais de 800 empregadores e 3.400 profissionais.
Em jeito de balanço de 2023, a maioria das empresas ouvidas indica que existe “uma clara escassez de profissionais qualificados no mercado, bem como uma escassez global de candidatos (com ou sem qualificações)”, sendo esta uma das razões por detrás dos aumentos salariais aplicados no último ano (entre 2,5% e 9,9%).
Em 2024, antecipando-se que continuarão a faltar trabalhadores, os empregadores estão dispostos a voltar a reforçar os salários. “A maioria dos empregadores planeia efetuar aumentos salariais entre 5% e 15%“, estima a Hays.
Apesar dessa abertura, 38% dos empregados deixa claro que as exigências dos trabalhadores, ao nível salarial, são “irrealistas”. “Têm expectativas salariais pouco alinhadas com a realidade do mercado”, refere o guia divulgado esta quinta-feira.
Em contraste, 60% dos trabalhadores dizem-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o seu salário atual. E 73% dos profissionais acreditam que o seu ordenado não está em linha com o seu nível de responsabilidade.
Aliás, entre os motivos de insatisfação com o emprego atual, o salário é dos mais apontados pelos trabalhadores portugueses. Ainda assim, face a 2023, esse peso diminuiu, o que poderá ser um “reflexo do esforço de atualização salarial feito pelos empregadores”, justifica a referida empresa de recursos humanos.
Mais relevante do que os salários para a insatisfação dos trabalhadores, são, neste momento, as perspetivas de progressão: 73% dos trabalhadores indicam esse motivo. Além disso, pesam os prémios de desempenho (71%) e a comunicação interna (63%).
Ainda que tenha havido um aumento generalizado da insatisfação por parte dos profissionais, “nem sempre tal é suficiente para motivar uma mudança efetiva de emprego“, destaca a Hays.
A propósito, 55% dos profissionais qualificados revelam que recusaram ofertas de emprego (duas ou mais) ao longo do último ano. A justificar essa rejeição está, sobretudo, uma oferta salarial insuficiente (mais de metade dos ouvidos refere-o).
“No entanto, as condições contratuais oferecidas e a falta de interesse no projeto apresentado também surgem em destaque, reunindo 31% e 23% das respostas, respetivamente”, segundo o estudo que será apresentado esta quinta-feira.
Apesar de crise política, empresas estão abertas a contratar
Ainda que o país esteja a atravessar um período de crise política, os empregadores portugueses têm perspetivas positivas quanto às contratações que pretendem fazer em 2024. Cerca de 82% revelam que querem recrutar ao longo deste ano, fatia semelhante à registada em 2023.
Quanto aos perfis mais procurados, a Hays avança que os comerciais deverão ser os mais procurados em 2024. “Mais de três em cada dez empresas em Portugal estarão a recrutar este tipo de profissionais este ano”, é detalhado. E estes profissionais superam mesmo as vagas para perfis de engenharia e tecnologias de informação.
Convém indicar ainda que as contratações pretendidas são maioritariamente para funções permanentes (74%). Em comparação, 23% das empresas querem recrutar para funções temporárias e 8% pretendem contar com o suporte de freelancers em 2024.
Já do lado dos trabalhadores, pela primeira vez desde 2021, cresceu a disponibilidade para as mudanças de emprego. Em concreto, 77% dos profissionais qualificados querem abraçar novos desafios em 2024, acima dos 70% registados no último ano.
Entre os vários setores de atividade, é na área de serviço ao cliente que se encontram mais trabalhadores dispostos a mudar de emprego (85%), seguindo-se a área de retalho (84%) e, logo depois, contabilidade e finanças (83%). E o salário é, novamente, um dos principais motivos para essa vontade.
Já os profissionais de turismo, energia, recursos humanos e tecnologias de informação estão entre os que menos planeiam uma mudança.