Entre as ameaças ocidentais e a amizade com Putin, a China continuará a fazer equilibrismo?

14 mar 2022, 06:57
Xi Jinping e Vladimir Putin

EUA e China reúnem-se hoje para discutir a invasão da Ucrânia. A China continua sem condenar a guerra ordenada por Putin, e garante que a amizade com a Rússia está “sólida como uma rocha”. Em contrapartida, tem criticado a NATO e as sanções ocidentais contra Moscovo. Há notícias de que Putin já pediu ajuda militar a Xi Jinping. E os EUA ameaçam retaliar se a China ajudar a Rússia a safar-se das sanções

 


Altos representantes diplomáticos chineses e norte-americanos reúnem-se esta segunda-feira em Roma, para discutirem a invasão russa da Ucrânia e as suas consequências. Uma invasão que a China até hoje ainda não condenou, e à qual raramente se referiu como uma “guerra”. Nas votações já feitas nas Nações Unidas sobre o conflito - primeiro, no Conselho de Segurança, e depois na Assembleia Geral -, a China desalinhou das maiorias expressivas que condenaram a agressão russa, optando por se abster. 

Pequim mantém um discurso ambíguo sobre o conflito, mas não é ambígua quando quando imputa responsabilidades à NATO pelo desencadear da guerra, ou quando critica as sanções económicas lançadas contra a Rússia. Neste contexto, o isolamento do regime de Vladimir Putin será um dos tópicos sobre a mesa nas conversações de hoje entre norte-americanos e chineses. Washington teme que a proximidade de Xi jinping a Putin o leve a ajudar o líder russo a contornar, pelo menos em parte, as sanções económicas decretadas pelos EUA, UE e muitos aliados, como o Reino Unido, o Canadá, o Japão, a Austrália ou a Coreia do Sul. 

"Vamos assegurar que nem a China, nem mais ninguém, possa compensar a Rússia por estas perdas", disse este domingo o conselheiro de Segurança Nacional de Joe Biden, Jake Sullivan, que irá liderar a delegação norte-americana nas conversações de Roma. Sullivan não detalhou de que forma os EUA poderão assegurar que a China não se comporta como tábua de salvação de Putin - "Quanto aos meios específicos para o fazer, mais uma vez, não vou expor tudo isso em público, mas vamos comunicar isso em privado à China, como já fizemos e vamos continuar a fazer".

Mas o recurso a sanções económicas contra a China é uma das formas de pressão que os EUA não descartam, caso Pequim permita aos russos diminuir o impacto das sanções, seja no plano financeiro (a Rússia precisa de liquidez, num momento em que ninguém se disponibiliza para emprestar dinheiro ao país), seja comercial (tanto comprando exportações russas como vendendo produtos que as economias ocidentais deixaram de vender), seja até no plano militar. “Sem dúvida”que haverá consequências para a China caso tente curto-circuitar o isolamento da Rússia, afirmou Sullivan.

"Estamos a comunicar directamente, em privado, a Pequim, que haverá sem dúvida consequências” caso faça esforços para a Rússia contornar as sanções em grande escala, ou para a Rússia para as compensar, garantiu Sullivan. "Não permitiremos que isso avance e que qualquer país, em qualquer parte do mundo, dê uma linha de salvação para a Rússia em relação a estas sanções económicas".

Na semana passada, o Departamento de Comércio dos EUA já tinha ameaçado lançar sanções “devastadoras” contra empresas chinesas que estejam a ajudar ativamente a Rússia a contornar o bloqueio ocidental, nomeadamente enviando equipamentos, componentes, software e outras tecnologias de ponta de que os russos precisam tanto para o esforço de guerra como para manter operacional o seu tecido industrial. Um dos setores visados é o dos semi-condutores. Agora, a ameaça parece subir mais um patamar, visando o Estado Chinês.

 

Kremlin pede ajuda militar?

 

Nas últimas horas, dois órgãos de comunicação social de referência noticiaram que a Rússia pediu à China outro tipo de apoio: ajuda militar. A notícia foi publicada pelo jornal britânico Financial Times e pelo norte-americano New York Times. Ambas as publicações citam fontes da administração norte-americana, segundo as quais a Rússia solicitou à China equipamento e outros meios de assistência militar. O pedido terá sido feito já após o início da guerra contra a Ucrânia. 

Não há pormenores sobre que tipo de material ou ajuda adicional Moscovo terá solicitado, mas segundo outros responsáveis da Administração Biden citados pelos dois jornais, este poderá ser um indício de que a Rússia estará a ficar sem algum tipo de armamento, tendo em conta que a invasão da Ucrânia está a revelar-se muito diferente da guerra rápida e sem resistência que o Kremlin terá inicialmente imaginado.

Ainda de acordo com outra fonte familiarizada com a situação, citada pelo FT, os EUA já estarão a avisar os seus aliados sobre o eventual apoio militar da China à Rússia. No governo dos EUA, mas também da Europa, da Austrália ou do Japão, há a preocupação de que Pequim possa vir a assumir o apoio a Putin, o que representaria uma escalada no conflito.

O assunto será um dos pontos da conversa em Roma entre Jake Sullivan e o líder da delegação chinesa, Yang Jiechi, um dos mais prestigiados diplomatas do país. Yang foi ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China e embaixador em Washington, e atualmente é o Director do Gabinete Geral da Comissão Central dos Negócios Estrangeiros, o que faz dele o diplomata mais graduado do país, apenas atrás do atual MNE, Wang Yi.

"Esta reunião acontece no contexto da guerra injustificada e brutal da Rússia contra a Ucrânia, e de como a China alinhou com a Rússia para fazer avançar a sua própria visão da ordem mundial, e por isso espera-se que os dois discutam o impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia na segurança regional e global", disse uma fonte da administração norte-americana.

 

O que sabia a China?

 

Uma das questões sobre o papel da China em relação a esta guerra é o que Pequim sabia  ou não sabia sobre os planos de Putin. Numa entrevista ontem à CNN, Sullivan disse que a China "estava ciente" de que Putin estava "a planear algo", mas admitiu que Pequim "pode não ter compreendido toda a sua extensão". Ele acrescentou: "É muito possível que Putin lhes tenha mentido, da mesma forma que mentiu aos europeus e a outros".

Se sabia o que aí vinha e nada fez para o travar, Xi optou por um lado e podem resultar daí consequências; se não sabia ou se tinha informação deficiente, pode fazer-se daí uma leitura. Como disse ao Financial Times Jude Blanchette, um especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, se Xi não sabia dos planos de invasão de Putin, com quem esteve poucos dias antes do início da guerra, então "foi enganado, mostra menos sofisticação na sua visão da Rússia e potencialmente [supervisionou] um fracasso catastrófico da inteligência chinesa". Ora, isto "não dá uma aparência particularmente boa para um líder que está a tentar posicionar-se como omnisciente, omnisciente e no comando". Ao invés, se Xi conhecia os planos de Putin, poderá ser acusado de cumplicidade no conflito mais sangrento do continente europeu desde a II Guerra Mundial.

Xi Jinping sabia, pelo menos, aquilo que os EUA comunicaram à China ainda antes da invasão. Segundo notíciou há dias o New York Times, as autoridades norte-americanas transmitiram a Pequim alguma da informação que recolheram através dos serviços secretos sobre os planos de invasão da Ucrânia, tendo pedido a Xi Jinping que usasse da sua influência sobre Vladimir Putin para travar a guerra. De acordo com as mesmas notícias, que citavam fontes da Casa Branca, a China não só nada fez para travar o ataque como terá transmitido à Rússia os dados de intelligence que recebeu dos EUA. 

 

Xi ficou “perturbado” com a invasão, diz a CIA

 

Uma atitude que os Estados Unidos leram como de apoio chinês a Moscovo, embora isso possa ter sido ditado por uma deficiente compreensão da extensão da guerra que Putin estava a planear. Na semana passada, o diretor da CIA, William Burns, afirmou perante o Congresso dos EUA que Xi terá ficado “perturbado” com o ataque russo à Ucrânia. Por um lado, disse Burns, os serviços secretos chineses “parece que não terão dito [a Xi] o que ia acontecer”; por outro lado, terão subestimado a capacidade de resistência ucraniana, apostando numa ofensiva rápida. Nada disso aconteceu. 

Mais: "Não creio que [os chineses] tenham antecipado que os militares russos se iriam revelar largamente ineficazes até agora. Não creio que tenham antecipado que o Ocidente iria reagir com tal determinação", declarou o chefe da CIA. Ainda de acordo com o responsável da agência de espionagem norte-americana, os dirigentes chineses estão igualmente perturbados pelos "danos de reputação" que poderiam advir da estreita associação de Pequim com Vladimir Putin, e das consequências económicas da invasão da Ucrânia.

Não é um acaso que, na semana passada, após uma video-conferência com o presidente francês e o chanceler alemão, Xi pediu “máxima contenção”, redobrou os apelos à negociação entre as partes, e criticou mais uma vez as sanções ocidentais, que irão "arrastar a economia mundial, que já está sob o pesado fardo da pandemia".

 

A China tem problema económico

 

Com um crescimento económico essencialmente baseado no comércio internacional, e muito dependente das cadeias logísticas que já estavam em dificuldades por causa da pandemia e estão ainda mais com a perturbação imposta pela guerra, a China vê a sua economia perante o momento mais delicado em muitos anos. No início do mês, o primeiro-ministro chinês anunciou que o PIB do país crescerá 5,5% este ano, o que significa o crescimento mais fraco em três décadas. Quando esperava uma recuperação a todo o fôlego pós-pandemia, a China depara-se com problemas internos - A indústria sofre com falhas na rede de energia, e a covid não dá tréguas, e a política de “covid zero” deixou o país pior preparado para “viver com o vírus” do que a generalidade das outras grandes economias - e sofrerá o impacto da crise global devido à guerra russa.

E há componentes desta potencial crise económica chinesa especificamente relacionadas com a invasão à Ucrânia: a China é o maior importador global de energia, em particular de petróleo, cujo preço disparou nas últimas semanas; e a China também é muito dependente da importação de alimentos, em particular de trigo e outros cereais, cuja cotação também tem subido muito desde o início da guerra.

Pode a China compensar essas falhas com uma maior ligação comercial à Rússia? Pode, em parte. 30% do petróleo exportado pela Rússia e 5% do gás vendido a outros países vai para a China, esse valor pode subir, se Moscovo desviar para Pequim parte das suas exportações de petróleo - mas, se o fizer, não é provável que Putin, muito carecido de divisas, venda mais barato à China o que está a vender muito caro aos países ocidentais. Também pode haver uma venda mais intensa dos cereais russos à China - e os chineses bem precisarão de importar cereais: segundo o governo de Pequim, a colheita deste inverno na China foi a pior de que há registo. Mas a guerra pode por em causa a importante exportação de trigo da Ucrânia.

Aliás, uma colagem da China à Rússia porá provavelmente em causa as relações comerciais entre Pequim e Kiev - e a convém lembrar que antes da guerra a China era o principal parceiro comercial da Ucrânia, país que era igualmente um dos principais parceiros europeus da China na iniciativa Belt and Road, um grande projeto chinês de investimento em infraestruturas por todo o mundo.

Mais importante para os cálculos chineses: os seus principais parceiros comerciais são a União Europeia e os Estados Unidos; em comparação, a Rússia vale muito pouco. O comércio da China com a Rússia atingiu o valor de 147 mil milhões de dólares no ano passado, de acordo com dados chineses, valor que compara com 828 mil milhões de dólares com a UE e 756 mil milhões com os EUA. Ou seja, o valor combinado das trocas comerciais chinesas com os EUA e a UE representa dez vezes mais do que o comércio com a Rússia. Por muito que a relação com a Rússia possa estreitar-se, nunca compensará os mercados europeus e norte-americanos. Com o problema acrescido de a Rússia poder estar à beira de um default.

Para além disso, uma colagem evidente da China à Rússia pode desencadear uma avalanche de sanções económicas, que poderiam, neste caso, ser impostas por americanos e também por europeus. A guerra comercial lançada por Donald Trump contra Pequim continua bem viva sob a nova administração, mas a afirmação de um eixo Pequim-Moscovo, neste contexto, poderia alargar esse conflito à Europa. Já com a pandemia os países europeus perceberam a necessidade de se tornarem menos dependentes das importações chinesas, e um alinhamento de Xi com Putin poderia acelerar esse distanciamento.

 

“Amizade sem limites”

 

Apesar destas ponderações, o alinhamento diplomático de Pequim com Moscovo é claro. Pouco antes do início guerra, a capital chinesa foi a última cidade estrangeira visitada por Putin - foi assistir ao início dos Jogos Olímpicos de Inverno, ao lado de Xi Jinping, e o momento serviu para os dois países declararem ao mundo a sua “amizade sem limites”. Se a frequência com que os dois líderes se encontram for prova de alguma coisa, prova que as relações entre os dois países nunca foram tão intensas - o encontro de fevereiro foi a 38ª vez que Xi e Putin se encontraram desde 2013. O principal cimento deste “bromance” parece ser o interesse comum em desafiar a hegemonia norte-americana e a ordem global ditada por Washington desde o fim da Guerra Fria.

O comunicado conjunto emitido após a cimeira de fevereiro anunciava uma “nova era” em substituição da ordem mundial liderada pelos EUA – uma era na qual a cooperação entre a China e a Rússia “não teria limites”. “A humanidade está a entrar numa nova era” de “multipolaridade” , em alternativa a “alguns atores” que “defendem abordagens unilaterais” e “interferem nos assuntos internos de outros estados” - a referência aos EUA, sem os mencionar, era clara.

A cereja no topo do bolo foram as declarações cruzadas visando a situação de Taiwan e da Ucrânia. Putin declarou-se contra “qualquer forma de independência de Taiwan”; Xi, declarou-se contra o alargamento da NATO para o Leste, englobando as democracias pró-ocidentais que faziam parte da antiga União Soviética. 

Mas Pequim não foi ao ponto de dar luz verde às pretensões territoriais de Moscovo sobre o país vizinho, nem nunca cruzou essa linha vermelha desde o início da invasão. Em todas as suas declarações, a China tem-se mantido fiel ao princípio de intangibilidade das fronteiras - já havia sido assim em 2008, quando a Rússia atacou a Geórgia, e voltou a ser em 2014, na Crimeia. 

Porém, já depois do início da guerra, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês repetiu o estribilho sobre a amizade “sem limites” com a Rússia, ao mesmo tempo que voltava a apontar o dedo aos EUA como causadores de toda a tensão geoestratégica, da Europa à Ásia-Pacífico. Na semana passada, já contadas duas semanas de guerra, Wang Yi declarou, à margem a sessão do Congresso Nacional Popular (o evento mais importante do calendário político anual chinês), que a parceria entre a China e a Rússia estava “sólida como uma rocha”, e condenou a “interferência de terceiros” (leia-se: os EUA).

“Como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, China e Rússia são os mais importantes vizinhos próximos e parceiros estratégicos um do outro. Os laços China-Rússia são uma das relações bilaterais mais cruciais do mundo, e nossa cooperação não só traz benefícios e bem-estar aos nossos povos, mas também contribui para a paz mundial, estabilidade e desenvolvimento", disse o responsável pela diplomacia chinesa. “Apesar da situação internacional ser precária e desafiadora, a China e a Rússia vão manter o seu foco estratégico e avançar firmemente na nossa ampla parceria estratégica coordenada, para uma nova era”, afirmou Wang.

 

Media e redes sociais reproduzem discurso do Kremlin

 

Aqui e ali são notórios sintomas desta proximidade entre Moscovo e Pequim. Logo no início da guerra, a China foi dos poucos países que não apelaram aos seus cidadãos para que deixassem a Ucrânia. Pelo contrário: os chineses foram incentivados a ficar na Ucrânia e fazer a sua vida normal, e até a colocarem uma bandeira chinesa nas suas viaturas - seria a garantia de que ninguém os incomodaria. Mas a posição dúplice na China neste conflito fez com que os chineses começassem a ser olhados de lado pelos ucranianos. Dois dias depois, o MNE chinês disse aos seus cidadãos em território ucraniano que ficassem em casa e optassem pela discrição (sem bandeirinhas). Por fim, a China recomendou que todos saíssem de solo ucraniano, organizando uma gigantesca operação de retirada dos seus nacionais. Esta inconsistência indicia que Pequim não teria qualquer ideia do alcance e da intensidade que Putin daria à guerra.

Por outro lado, Pequim apoiou recentemente o apelo da Rússia para que a ONU investigue a suposta utilização de armas químicas e/ou biológicas por parte dos militares ucranianos ou dos seus aliados ocidentais. Uma alegação que os EUA consideraram “ridícula” e sem qualquer sustentação, mas a que a China deu respaldo diplomático.

Mas onde é mais notória a repetição dos argumentos russos pelos chineses é na comunicação social e nas redes sociais. Enquanto o discurso oficial das autoridades de Pequim é de apelos à paz, à desescalada militar e às negociações diplomáticas (admitindo até mediar essas conversações, embora sem nunca dar passos concretos nesse sentido), na comunicação social e nas redes sociais chinesas o discurso é de completa colagem à narrativa do Kremlin. Nas televisões, jornais e sites informativos fortemente controlados e vigiados por Pequim, não se fala em guerra na Ucrânia, mas em “operação militar especial”, tal como dita o Kremlin. A Ucrânia é retratada como um covil de fascistas e o presidente Zelensky como um incendiário cobarde, cuja fuga da Ucrânia já foi noticiada mais do que uma vez pelos meios de comunicação social chineses. 

Dois dias antes do início da guerra, a publicação estatal Beijing News chegou a divulgar publicamente, por engano, um memorando interno em que os respetivos jornalistas eram proibidos de dar notícias desfavoráveis à Rússia, ou favoráveis ao Ocidente.

Nas redes sociais, onde tudo é controlado pelos censores políticos, há indícios claros de censura em relação a pontos de vista pró-ucranianos, apesar de a esmagadora maioria dos utilizadores adotar uma linguagem e uma narrativa decalcada do que é dito pelo Kremlin. A republicação de tudo o que chega da Russian Television ou da agência Sputnik (ambas proibidas agora na UE) é regra.

Segundo uma análise da CNN Internacional à Weibo - o equivalente chinês à rede Twitter - entre 24 fevereiro e 3 de março, dos posts mais republicados, quase 50% eram comentários pró-Rússia; menos de 5% eram favoráveis à Ucrânia. Diversos meios de comunicação social ocidentais que têm analisado o conteúdo dos media e das redes sociais chinesas confirma este viés totalmente sintonizado com o Kremlin.

 

“Raínhas do drama sem dentes”

 

No jornal online Global Times, ligado ao Partido Comunista Chinês, apresenta a ambiguidade de Pequim como uma prova da responsabilidade e superioridade da sua diplomacia, e refere-se a Xi e Putin como “dois importantes líderes mundiais”. Neste jornal, sucedem-se os editoriais e outros textos de opinião, umas vezes a condenar as sanções, porque terão consequências arrasadoras para partes inocentes, outras a ridicularizá-las, por serem inconsequentes. Um editorial do Global Times referiu-se às democracias ocidentais como “raínhas do drama sem dentes”, que gritam muito mas não mordem. 

Num texto de opinião, a vitória rápida de Putin era apresentada como o melhor desfecho possível deste episódio: não terá grandes consequências para o futuro, a não ser garantir a segurança nacional da Rússia e travar o sonho americano de hegemonia na Europa. Por outro lado, garantia o articulista, não há risco de Putin atacar outro alvo para além da Ucrânia, pois apenas garantir a neutralidade deste país. O risco para a China, defendia esse texto, seria o prolongar da guerra, sem uma vitória rápida e clara da Rússia: isso significaria um reforço da NATO e dos EUA, possível instabilidade na Rússia - que faz fronteira com a China, e um reforço da aliança entre os Estados Unidos e a UE. Ou seja, tudo o que Pequim não deseja.

Tudo pesado, o que pode, afinal, Putin esperar da China? "Ele pode estar a sobrestimar a medida em que a liderança chinesa está disposta ou capaz de ajudar na sua invasão da Ucrânia", alertou William Burns, o atual chefe da CIA, que foi durante anos embaixador dos EUA na Rússia.

Para já, há poucos dias surgiu a notícia de que as companhias de aviação comercial russas tentaram comprar à China peças e material para manutenção dos aviões, que o Ocidente deixou de vender à Rússia. Mas a China recusou, o que terá apanhado de surpresa o lado russo. Haverá mais surpresas destas?

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