Rolling Stones têm um novo disco com raiva, blues e canções de amor: "Não queríamos que soasse como um disco de há 40 anos - e é claro que não soa"

19 out 2023, 22:00

"Hackney Diamonds", que estará à venda na sexta-feira, é o primeiro disco de originais dos Stones desde 2005. O grupo teve que vencer a preguiça para ir para estúdio e convidou amigos como Paul McCartney, Elton John e Lady Gaga para darem uma ajuda

A ideia de fazer um disco foi de Mick Jagger. Foi ele que teve o ímpeto de dizer a Keith Richards e Ronnie Wood, companheiros de há mais de 60 anos: “Devíamos gravar um novo disco. Pode ficar horrível, mas vamos fazê-lo”. O vocalista dos Rolling Stones explicou isso mesmo no evento de apresentação do álbum, no mês passado: “Sempre fizemos álbuns para lançar as digressões, mas a verdade é que os concertos estavam lotados mesmo sem um álbum novo, então ficámos preguiçosos.”

Preguiçosos e cansados. Em 2019, Mick Jagger foi sujeito a uma operação ao coração; pouco depois, o baterista Charlie Watts, morreu aos 80 anos, devido a um cancro; e, depois de um susto, os médicos aconselharam Keith Richards a deixar de fumar. Os Rolling Stones não são feitos de pedra e os músicos perceberam que só voltariam a gravar se se impusessem um prazo. E assim fizeram.

Para o regresso ao estúdio para gravarem o primeiro álbum com material original da banda em 18 anos, os Rolling Stones convidaram alguns dos músicos seus amigos de longa data - Paul McCartney, Elton John, Stevie Wonder e até Bill Wyman, que foi o baixista do grupo de 1963 a 1993 e participou em 19 álbuns. A estes juntaram-lhes a voz de Lady Gaga e a visão do produtor Andrew Watt, que tem no seu currículo discos de Miley Cyrus, Justin Bieber e Iggy Pop. O resultado é “Hackney Diamonds”, o novo disco dos Stones que que estará à venda esta sexta-feira.   

A gravação correu bem: completaram 23 faixas e escolheram 12 para este álbum. “Hackney Diamonds” é uma expressão do calão de Hackney, bairro da zona este de Londres, que se refere aos estilhaços de vidro deixados no chão depois do assalto a um carro. A imagem poderá servir também para perceber o espírito do grupo neste momento. À raiva do título do primeiro single, “Angry”, juntam-se os blues que sempre fizeram parte da história dos Stones, e até, como sublinhou Jagger, canções de amor e baladas.

“Let the old still believe that they’re young” (“Deixem os velhos ainda acreditarem que são jovens”), canta Jagger, ao lado de Lady Gaga, em “Sweet Sounds of Heaven”, uma das músicas já reveladas. Embora o grupo esteja ativo desde 1962 e os elementos da banda tenham entre 76 (Ronnie Wood) e 80 anos (Mick Jagger), a banda não queria que as músicas novas fossem consideradas “antigas”: “Eu disse [ao produtor Andrew Watt]: 'Andy, quero que sejas fiel ao nosso estilo. Quero que seja como um disco dos Rolling Stones, mas tem que soar como se tivesse sido gravado este ano'”, contou Jagger numa das entrevistas. "Não queríamos que soasse como um disco de há 40 anos, e é claro que não soa. Se o compararmos com um disco antigo dos Rolling Stones, é muito, muito diferente”, garante. “Não teríamos lançado este álbum se não tivéssemos gostado muito dele. Dissemos que tínhamos que fazer um disco de que realmente gostamos”, disse Mick Jagger. 

Até agora, as reações têm sido positivas. Neil McCormick do Telegraph deu cinco estrelas ao primeiro single, “Angry”, considerando-o  "uma explosão absoluta" e descrevendo-o como o melhor single da banda em 40 anos. Mark Beaumont, do The Independent, deu ao disco uma classificação de quatro estrelas. E o crítico Davide Brown, da Rolling Stone, escreveu:  “Não é apenas mais um novo álbum dos Stones, mas um disco vibrante e coeso – o primeiro álbum dos Stones em anos que vocês vão querer ouvir mais de uma vez antes de o porem de lado”. Alex Flood, na NME, também lhes dá quatro estrelas e garante: "They’ve still got it" (qualquer coisa como: "eles ainda conseguem").

"The streets I used to walk on are full of broken glass/And everywhere I’m looking, there’s memories of the past" ("As ruas onde eu costumava andar estão cheias de vidros partidos/ E para onde quer que olhe há memórias do passado") canta Mick Jagger em "Whole Wide World". Olhando para trás, o cantor tem boas memórias, mas recusa ficar atolado na nostalgia. Refletindo sobre os últimos 61 anos com os Stones, acredita que um dos segredos do sucesso foi manter-se "atualizado sobre o que está a acontecer”. “Não digo que esteja a tentar estar na vanguarda de tudo, mas é preciso entender como as coisas funcionam no mundo atual”, diz. “E isso não se aplica apenas à indústria musical, mas a muitas outras coisas. Quer dizer, conduzir hoje um carro é uma experiência diferente de conduzir um carro em 1960. E o negócio da música, como todos os negócios, mudou muito. Sendo um negócio de tecnologia, nunca permanece igual."

Quando os Stones começaram, diz ele, faziam apenas singles. Ao longo das décadas, Jagger testemunhou a transição do vinil para o formato de oito faixas, para cassetes, CDs e agora streaming e distribuição digital. “O streaming é muito difamado, mas o interessante é que pessoas de todas as gerações podem aceder a músicas de todos os períodos”, diz. “Antes, se eu quisesse comprar um disco antigo de blues de 1955 era muito difícil.”

“Hackney Diamonds” não é apenas o primeiro de disco de originais dos Stones desde o lançamento de “A Bigger Bang” em 2005, mas também o primeiro desde a morte do baterista Charlie Watts em 2021. E será o último álbum da banda com a sua participação: usando gravações de 2019, será possível ouvir a bateria de Watts em dois temas novos.

“Eu conhecia-o desde os 19 anos, fomos amigos a vida toda”, diz Jagger sobre o seu falecido amigo e colega de banda. "Charlie e eu tínhamos muitos interesses em comum além do grupo. Ambos gostamos de desporto, como futebol e críquete. Conversávamos muito sobre muitas coisas.” "Desde que Charlie se foi, tem sido diferente, ele é o número quatro. É claro que sentimos a sua falta”, confirmou o guitarrista Keith Richards. O novo álbum conta com Steve Jordan, um baterista que foi aconselhado por Watts, e que, entretanto, começou a tocar com a banda nas digressões. “Teria sido muito mais difícil sem a bênção de Charlie”, disse Richards.

Todas as músicas são assinadas pela dupla Jagger e Richards exceto a última. A fechar o disco, interpretam "Rollin’ Stone" de Muddy Waters, de 1950, tema aonde eles foram buscar o seu nome e que aqui se chama "Rolling Stone Blues". É inevitável a sensação de que, de alguma forma, estamos perante o encerramento de um ciclo. Mas Keith Richards garantiu que não se trata de uma despedida, apenas de uma homenagem e um agradecimento "a todos os homens do blues" com quem tanto aprenderam. O guitarrista Ronnie Wood disse mesmo que o grupo tinha ficado com material suficiente para um novo álbum. E, desmentindo as notícias sobre o cansaço do grupo de "velhotes", até deixaram no ar a hipótese de uma nova digressão.

Alinhamento de "Hackney Diamonds":

1. Angry

2. Get Close

3. Depending On You

4. Bite My Head Off

5. Whole Wide World

6. Dreamy Skies

7. Mess It Up

8. Live By The Sword

9. Driving Me Too Hard

10. Tell Me Straight

11. Sweet Sounds Of Heaven

12. Rolling Stone Blues

 

 

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