30 horas com a “Madame Europa”: a CNN Portugal em exclusivo com Roberta Metsola

4 jul 2023, 22:00

Roberta Metsola é, hoje em dia, uma das políticas mais respeitadas a nível europeu. O apoio à Ucrânia transformou a presidente do Parlamento Europeu numa referência. Durante a sua visita a Portugal, a TVI e a CNN Portugal tiveram acesso exclusivo ao círculo próximo da política europeia, que aceitou falar dos principais políticos portugueses e também de algumas questões de foro mais pessoal

A visita começou às 15:50 de 15 de junho. A comitiva aterra no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, proveniente de Estrasburgo, tendo feito escala em Frankfurt. Roberta Metsola é recebida na sala VIP pela vice-Presidente da Assembleia da República, Edite Estrela. A agenda é extremamente carregada e conta com encontros com as principais figuras do Estado: o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, para além do líder da oposição, Luís Montenegro, e o Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.

“Portugal é um país especial. É um país onde passei muito tempo  como ativista política pró-europeia na juventude. Mas agora, na qualidade de Presidente do Parlamento, venho visitar não só os governantes, mas também os jovens, a fim de encorajar o maior número possível deles a olhar para a União Europeia e para o Parlamento Europeu com a possibilidade de poderem fazer a diferença no tipo de decisões que eu e os meus colegas a nível europeu podemos tomar”, conta a Presidente do Parlamento Europeu.

A rotina do cargo e a agenda apertada leva a que o ritmo de trabalho seja sobretudo acelerado. Pouco depois de chegar ao hotel, na zona das Amoreiras, pede para ir a um cabeleireiro arranjar o cabelo. No local é reconhecida por uma portuguesa que não esconde a admiração pelo trajeto profissional da maltesa de 44 anos. Oferece-lhe uma caixa de cerejas da Gardunha. Metsola agradece e segue para o próximo tópico da agenda, o encontro com António Costa na residência oficial do Primeiro-Ministro.

Qual é a sua opinião sobre António Costa? “Bem, conheci-o como Primeiro-Ministro, mas agora também como amigo, membro do Conselho Europeu, um dos Primeiros-Ministros veteranos que se junta à mesa e tenta realmente encontrar soluções da forma mais pró-europeia, social e humana. Pela minha experiência, e já estou na política há muito tempo, há poucas pessoas com quem nos possamos sentar à mesa e falar sobre tudo. O António é uma delas”.

Roberta Metsola com António Costa (Foto: Manuel de Almeida/Lusa)

O encontro oficial com Costa é rápido, mas prolonga-se durante o jantar num restaurante junto ao rio Tejo. O Primeiro-Ministro não aceita que sejam retiradas imagens do encontro que dura várias horas.

Falar com os cidadãos

O segundo dia tem início às 9:00, na Assembleia da República. Pela primeira vez, um Presidente de uma instituição europeia discursa no Parlamento e aceita responder aos deputados em sessão plenária.

“A razão pela qual me desloco  aos Estados-Membros é que não vejo o Parlamento Europeu apenas em Bruxelas ou em Estrasburgo. É aqui, neste momento, em Lisboa, e é esse o objetivo da minha visita, quer fale com o Primeiro-Ministro, ou com o Presidente, ou com o Parlamento, ou com os líderes partidários, ou com os jovens. E isso significa que quanto mais tempo passo numa cidade, mais tempo se fica a conhecê-la e mais tempo se fica a conhecer o tecido da cidade. E, para mim, não há nada melhor do que poder ter conversas frente-a frente, voltar atrás, falar da experiência, falar dos êxitos, falar das desilusões, falar do futuro. É algo que procuro ter, não só com os primeiros-ministros, mas também com os deputados do Parlamento Europeu, que tenho o prazer, mas também a grande responsabilidade e a honra de servir”, refere, acrescentando:

“O programa também foi construído em torno deste evento sem precedentes, sendo a primeira de uma instituição da UE a poder fazer isto. E é importante que não seja apenas de um discurso meu, mas que os representantes de todos os grupos políticos me façam perguntas. Estou habituada a isso. Venho de um meio político em que a política tem a ver com a discussão, quer se concorde ou discorde, mas tem de haver respeito, tolerância e compreensão”.

Roberta Metsola e Augusto Santos Silva (Horacio Villalobos/Corbis via Getty Images)

O discurso salientou o papel da Europa na vida dos cidadãos e a importância da mobilização para o voto nas eleições de junho de 2024. Metsola foi confrontada com a posição do PCP sobre a guerra na Ucrânia e sugeriu à deputada Paula Santos deslocar-se a Kiev para apresentar essa visão aos deputados ucranianos.

A visita continuou na baixa lisboeta. Um café e um pastel de nata com Carlos Moedas, ex-Comissário Europeu e membro da mesma família europeia, o Partido Popular Europeu. “Durante demasiado tempo, a Europa foi vista como uma entidade longínqua onde se usam palavras difíceis. No fim de contas, trata-se de comunicação, trata-se de compreensão, trata-se de ouvir mais do que falar. E quando ouvimos, levamos isso para o nosso programa e, como estamos agora na última fase de um mandato muito difícil, ou seja, a um ano das eleições europeias, temos de dizer que agimos nos casos em que era necessário agir, e que tomámos decisões difíceis, por muito difíceis que fossem, tomámo-las, mas também quando precisámos de dar um passo extra, porque os cidadãos nos pediram que o fizéssemos, por exemplo, durante a pandemia, durante a guerra, agora em matéria de energia, clima, digital, Inteligência Artificial, fazemo-lo, porque temos um mandato político e democrático, mas também porque ouvimos e cumprimos”, explica Metsola, que encontrou uma centena de jovens europeus no Largo de S. Carlos antes de um almoço rápido com Luís Montenegro e da participação no Conselho de Estado:

“A ideia surgiu após longas conversas com o Presidente Marcelo e chegou-se a um entendimento sobre o que poderíamos fazer. Já estive em Portugal uma vez, em visita oficial, e esta será a possibilidade de partilhar as minhas ideias em nome do Parlamento Europeu, mas também de ser questionada pelo órgão máximo, o Conselho de Estado. Mas, no fim de contas, trata-se também de uma questão de mensagem, e como é que vamos fazer chegar a mensagem, não apenas dizendo às pessoas que têm de votar, mas dizendo-lhes, no que respeita à migração, como é que se sentem? Como é que acham que abordámos as vossas preocupações sobre o aumento da inflação, a dívida, as preocupações sociais, a pobreza, a marginalização de partes da sociedade”.

Mãe de quatro filhos

Para além de Presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola está sempre preocupada com a sua estabilidade familiar. Mãe de quatro filhos, sabe que essa gestão é extremamente delicada: “Posso dizer que preciso de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Por isso, enquanto me preparava para esta entrevista, recebia mensagens do meu segundo filho sobre o facto de ele fazer anos amanhã e de eu estar de regresso a casa a tempo, e de ter de organizar a festa dele. O meu filho mais velho, que não conseguia encontrar a mochila antes de ir para a escola. O meu terceiro filho, que estava a discutir com o irmão mais novo, e o irmão mais novo ainda não tem telefone, por isso ainda não me estava a enviar uma mensagem sobre qualquer coisa. Por isso, faço tudo ao mesmo tempo.  É preciso muito planeamento. Não é fácil, mas aqui estou eu e amanhã estarei em casa”.

O dia termina com uma viagem até ao Porto, de avião (atrasado mais de uma hora), e rapidamente para Braga, onde participa no encerramento do Congresso da Juventude do Partido Popular Europeia. Foi precisamente num evento deste género, na altura realizado em Cascais, que conheceu o seu marido.

Aqui encontra a deputada Lídia Pereira, para além de Paulo Rangel, Luís Montenegro e o Presidente da Câmara de Braga. Emociona-se com o hino da Ucrânia e deixa-se levar pelos repetidos pedidos para selfie dos jovens presentes no local. Roberta Metsola tornou-se numa figura europeia.

O que é a Europa para si?  “É tudo. É o que somos, onde estamos, o que fazemos e como o fazemos. E nunca nos devemos esquecer disso”. A viagem termina às 22h de 16 de junho. Descanso de poucas horas e regresso a casa.

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