Acontece há 14 edições e congratula-se com uma taxa de empregabilidade elevada. Este ano há mais 27 jogadores a trabalhar com o SJPF, sob as ordens de Luís Boa Morte, com vista a manter a forma e a arranjar um novo clube. Miguel Garcia é um caso de sucesso que já esteve na mesma situação
Está em curso mais um Estágio do Jogador organizado pelo sindicato (SJPF), uma espécie de equipa para jogadores que não têm atualmente clube e que pretendem continuar a jogar. É ali que futebolistas desempregados têm a oportunidade de recuperar ou manter a forma física e de se mostrar a empresários e olheiros.
Por lá já passou, por exemplo, Miguel Garcia que esteve na caminhada quase vitoriosa do Sporting na Taça UEFA em 2004/2005. Quem não se lembra daquele golo de cabeça, aos 120 minutos, na Holanda, em casa do AZ Alkmaar e que garantiu aos leões a final da prova no próprio estádio?
Miguel Garcia foi herói, mas em pouco tempo tudo mudou: em 2007 o defesa lesionou-se, foi operado ao tendão rotuliano e a transferência de Alvalade para Itália não correu bem. O ex-internacional de sub-21 não fez nenhum jogo pelo Reggina e esteve dois anos sem jogar.
Depois disso, no verão de 2009, participou no estágio do sindicato e foi aí que o Olhanense percebeu que Miguel Garcia tinha mais para dar: contratou-o e logo em janeiro transferiu-o para o Sp. Braga onde teve a oportunidade de jogar outra vez nas competições europeias e chegar a mais uma final da Liga Europa.
Neca decidiu participar no Estágio do Jogador pelo segundo ano consecutivo por várias razões: «Tal como aconteceu no ano passado, terminei o contrato e em vez de treinar sozinho vim para aqui. É um excelente estágio não só para ganhar forma física, como puder jogar com outras equipas e fazer contratos.»
O ex-internacional português e símbolo do Belenenses sabe que é difícil regressar à Liga, «por que é normal os clubes terem alguma dificuldade em apostar em jogadores ditos velhos», mas diz que se sente em forma para continuar a jogar.
«Enquanto chegar ao final da época e me sentir em condições de fazer o próximo ano é isso que vou fazer. Sinto-me bem mental e fisicamente e decidi que gostava de fazer mais um ano, por isso estou disponível para qualquer projeto», acrescentou.
O mesmo acontece com João Coimbra, Campeão Europeu de sub-17, em 2003, que chegou a jogar com o Benfica na Liga Europa e esteve nos convocados para um jogo da Liga dos Campeões. O médio teve um percurso de destaque, admite que não foi mais além «por culpa própria», mas não se preocupa com o passado.
«Agora preocupo-me em arranjar um novo desafio, o passado já não conta», disse para acrescentar que tão pouco se deve ter vergonha em assumir que não se tem clube e se precise de recorrer a este estágio: «Eu não tenho, mas acredito que haja quem tenha. Já é o segundo ano que estou aqui. É uma excelente oportunidade, por que não aproveitar?»
Por isso, neste momento, o médio que está sem jogar desde janeiro, quando saiu do Kerala Blasters da Índia, só pensa em «manter a forma» e em «mostrar-se», para que um novo desafio apareça.
Já Manu, que não joga há um ano, depois de deixar o Ermir Aradippou do Chipre, estreou-se no Estágio do Sindicato com o objetivo de voltar à forma e estar preparado fisicamente para quando a oportunidade aparecer.
O ex-jogador do Benfica tem 33 anos, mas sente-se ainda capaz de jogar e o desemprego não lhe tem retirado o sonho: «Tem de se encarar a situação com naturalidade. Há que acreditar sempre, não baixar os braços e continuar a treinar para, se acontecer, estar preparado e mostrar valor.»
Por sua vez, Boa Morte está neste desafio por outras razões, mas tem noção daquilo que o estágio representa para os jogadores por isso, dizendo que estar desempregado «não é o fim do mundo», tenta ajudar com a sua experiência.
«Não é que eu saiba mais ou menos do que eles, mas de certeza que tenho mais experiência do que eles. Passo alguns métodos conhecedores e tento ajudá-los. Tento puxar por eles e ser exigente», disse.
A experiência acaba por ser diferente também para o treinador, que no estágio acaba por perder jogadores em vez de ter cada vez mais para trabalhar, mas neste caso esse facto «é positivo» e «o objetivo»: despachar jogadores.
Tem sido assim desde 2002, quando o estágio arrancou. Uns anos com edições a Norte e a Sul, mas sempre com o mesmo sucesso: uma taxa de empregabilidade, que é quase sempre acima dos 50 por cento e que em 2004 e 2006 foi de 90.
[Fotografias cedidas pelo SJPF]