Airbus UK Broughton FC: esta equipa não paga para voar na Europa

8 set 2014, 10:00

Reportagem-Maisfutebol: uma empresa, um aeroporto, um clube de futebol no País de Gales. «Nascemos para jogar as provas da UEFA»

Nas asas do desejo europeu. Sem pagar bilhete. Uma empresa de aeronáutica, um aeroporto e um clube de futebol do País de Gales: deram as mãos, decolaram e já veem o chão a uma distância considerável.

A história do Airbus UK Broughton FC faz lembrar a empreitada de Willy Fogg. As viagens são, em ambos os casos, a parte mais visível de um feito com tanto de heroico como de improvável.

Fogg viu o mundo em 80 dias, o clube galês quer (continuar a) visitar a UEFA sem saber sequer o que é o profissionalismo. Para já, soma quatro jogos internacionais, todos nas pré-eliminatórias da Liga Europa: três empates e uma derrota, divididos pelos verões de 2013 e 2014.

A aventura ainda agora começou.

«Terminámos os últimos dois anos no segundo lugar da Premier League galesa. O nosso objetivo é claro: destronar o The New Saints do trono do campeonato. Eles são o único clube profissional do campeonato»
, diz ao Maisfutebol o vice-presidente do Airbus FC, Andrew Lincoln.


Nestas contas não entram o Swansea e o Cardiff. Os dois maiores emblemas do País de Gales competem nas ligas profissionais de Inglaterra.

Um jogo no The Airfield (por trás, a pista do aeroporto):




Aeroporto de Hawarden, Broughton, País de Gales. A pouco mais de três quilómetros fica Chester, a primeira cidade de Inglaterra depois da fronteira.

Mais perto, muito mais, fica o The Airfield
. Este é o nome do estádio do Airbus UK Broughton FC. Fica tão perto da pista do aeroporto que há jogos interrompidos pelo ensurdecedor barulho das aeronaves.

«Em bom rigor, o estádio está integrado no complexo da fábrica da Airbus e do aeroporto»
, corrige Andrew Lincoln.

Será seguro jogar futebol num relvado colocado a 100 metros da pista de aviação?

«Sim, totalmente seguro, só temos de seguir algumas normas impostas pelo Controlo de Tráfego Aéreo do aeroporto. Quais? Três dos postes de iluminação são retrácteis. Sempre que um avião aterra ou decola, esses postes são baixados. É um dos exemplos»
.

E nos jogos noturnos?
«Não há problema. Há noite não há voos»
.

400 pessoas nas bancadas e uma academia que orgulha

Fundado em 1946, o clube de futebol passou pelas mãos de várias companhias e mudou vezes sem conta de designação:
«Vickers-Armstrong, Havilands, Hawker Siddeley, British Aerospace, BAe Systems e, finalmente, Airbus UK»
.

«A ligação já tem uma década e está completamente estabilizada»
, explica-nos Andrew Lincoln.

E qual é, exatamente, a relação entre essa santa trindade: clube, empresa e aeroporto?

«O clube de futebol pertence ao departamento social de desporto da Airbus: Broughton Wings. É, em parte, subsidiado pela empresa, mas gere de forma independente todo o seu orçamento. Em relação ao aeroporto… bem, é nosso vizinho e é daí que partimos para os nossos jogos na UEFA»
.

O Airbus FC não tem, presentemente, nenhum funcionário da companhia no plantel sénior, embora no passado isso fosse frequente.

«Orgulhamo-nos do que estamos a fazer. Temos uma média de 400 espetadores por jogo e uma academia com centenas de jovens entre os sete e os 19 anos. A cidade de Broughton tem sete mil habitantes, a maioria trabalha na Airbus e estamos a tentar puxá-los para o futebol»
.

Um avião a decolar ao lado do relvado:




Andy Preece é o treinador do Airbus UK Broughton FC.
Depois de um passado ligado ao futebol inglês, Preece cedeu aos encantos do projeto deste clube do País de Gales. Foi com ele que a equipa se qualificou duas vezes seguidas para a Liga Europa.

«O clube é tão jovem que a história está ainda por escrever. Digo sempre isto: somos responsáveis por dar a estas primeiras páginas brilho e interesse»
, diz Preece ao nosso jornal, antes de uma partida muito importante contra o Bangor City.

«Nunca tínhamos ficado nos seis primeiros classificados sequer. O presidente pediu-me o segundo lugar, para chegar à Liga Europa, e conseguimos isso duas vezes já. É demasiado bom»
.

O plantel treina três vezes por semana, sempre ao final do dia, e não tem um orçamento luxuoso, ao contrário do que se poderia pensar, devido à ligação à Airbus.

«Não, o orçamento é limitado. Conheço bem as ligas inferiores inglesas e temos ido por aí na altura de escolher jogadores. Há atletas bons e baratos, muito baratos. Portugueses? Nós não temos, mas jogam dois no Cefn Druids, um adversário nosso: o Bruno Fernandes (ex-Amora e Aves) e o Cadu (formado no Belenenses)»
.

O Airbus UK FC a jogar na Noruega:




Verão de 2013: dois jogos contra o Ventspils, da Letónia, dois empates. Eliminação imposta pelo golo fora marcado pelos bálticos.

Verão de 2014: empate 1-1 na receção ao FK Haugesund (Noruega) e derrota por 2-1 na visita à Escandinávia.

Voltemos à primeira linha da reportagem: sem pagar bilhete
. Foi mesmo assim? Claro!

«A Airbus tem vários aviões e transportou-nos de forma gratuita para a Letónia e a Noruega. Partimos do Aeroporto Hawarden num aparelho da British Midland Embrair RJ145»
, responde o dirigente do Airbus FC, Andrew Lincoln.

«Costumamos dizer, a brincar: a nossa equipa nasceu para jogar nas competições europeias».

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