A história do português que aos 16 anos vai estrear nas Le Mans Series

28 mar, 18:24
André Vieira (Arquivo pessoal)

André Vieira ainda é só um adolescente, a frequentar o 11.º ano em Amares, Braga, que nem sequer tem a carta de condução. A partir de abril, porém, vai acelerar a sério num monolugar da Ligier. Porque, como ele diz, só está autorizado a conduzir a altas velocidades.

Chama-se André Vieira, tem 16 anos, é natural de Amares e prepara-se para se estrear nas provas de Le Mans. O jovem foi esta quinta-feira, aliás, anunciado como piloto da equipa espanhola Ligier JS P4 e em abril vai estrear-se no European Le Mans Series.

Mas como é possível, aos 16 anos?

«É curioso, ainda não tenho carta de condução. Eu costumo dizer que posso conduzir a altas velocidades, mas não posso conduzir a baixas velocidades», sorri ao Maisfutebol.

«Ou seja, eu posso tirar carta daqueles microcarros, que por acaso são da marca Ligier, e que só atingem os 60 quilómetros por hora. São carros que só podem andar na cidade. Aos 16 anos posso tirar carta de condução desses carros e conduzir até 60 quilómetros por hora.»

Ter carta de condução e conduzir na estrada nunca foi importante para um miúdo que começou muito novo a experimentar as emoções da velocidade: uma paixão que herdou do pai, conta. Até porque em Braga, perto de onde virava, há um autódromo internacional.

«Eu quando tinha 9 anos gostava de ir ao karts de aluguer aqui em Braga, com o meu pai. Ao fim de semana pedia-lhe para irmos. Nessa altura encontrámos um senhor chamado Pedro Loures, que já tinha ficado em segundo lugar na competição de karts, e então comecei a treinar com ele, mas nunca pensei fazer disso a sério», revela.

«Mais tarde encontrei o Miguel Abreu, que ainda é o meu treinador e que tem um simulador profissional igual aos da Fórmula 2. Com ele comecei a treinar mais a sério e a treinar três ou quatro vezes por semana no simulador. Foi ele quem me introduziu na Fórmula Renault e que com os seus contactos me ajudou a ir subindo, a passar dos Karts para os monolugares.»

André Vieira

Pelo meio, em 2023, o miúdo esteve na Campos Racing, em Espanha, uma academia por onde passar por exemplo Fernando Alonso e Sergio Perez. Mais uma vez teve a ajuda dos conhecimentos do treinador Miguel Abreu e diz que foi essencial no crescimento na carreira.

«Foi fantástico. Fazíamos ginásio, acompanhámos o trabalho na fábrica deles e andámos no circuito de Valencia de Fórmula 2. Foi muito intenso, saí de lá exausto. Era das 8 horas às 16 horas sempre a treinar, chegava a treinar três horas de ginásio e três horas de simulador todos os dias. Andava muito cansado, mas gostei muito de estar lá e aprendi imenso», conta.

«Depois disso comprámos o nosso carro de Fórmula 4 e fui praticando no Estoril e no Autódromo de Braga. Fui fazer o primeiro teste na GRS, uma equipa espanhola, estive dois dias num circuito em França e foi aí que senti pela primeira vez que podia ter algum jeito. Obtive resultados muitos bons, fiz tempos fantásticos. Quando voltei, pensei que podia entrar na Fórmula 4, mas infelizmente não tínhamos dinheiro para isso. Foi então que apareceu a Legier JS P4 e decidimos entrar.»

Esta quinta-feira foi anunciado como piloto da equipa espanhola e em abril começa a competir numa prova que é está integrada nos European Le Mans Series: trata-se de um protótipo, que para depois permite entrar nas provas de endurance de Le Mans.

Aos 16 anos, e ainda adolescente, André Vieira tem um longo caminho pela frente, mas promete não desistir. Até porque tem de abdicar de muita coisa para continuar a correr.

«Tenho de abdicar de coisas mais pequenas, para poder estar nas grandes: as corridas e os estudos, que são a minha prioridade. Costumo dizer que é o valor a pagar por uma coisa melhor. Como os meus pais me dizem sempre: se não tirar boas notas, as corridas acabam-se. Por isso ando no 11º ano e sei que não posso facilitar, para poder continuar a correr.»

De Amares para o mundo, aos 16 anos todos os sonhos são possíveis.

André Vieira

 

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