Estes sinais de alerta antecipam a probabilidade de um parceiro se tornar abusivo

CNN , Kristen Rogers
17 dez 2023, 19:00
Violência no namoro (Pexels)

Nos primeiros tempos de uma relação, estar no auge da paixão pode fazer com que alguém atribua o comportamento questionável do seu novo parceiro a um dia mau. E, com demasiada frequência, o que uma pessoa considera insignificante pode transformar-se num tratamento abusivo que a faz sentir-se desesperada por sair da relação - mas presa porque investiu muito.

É por esta razão que os investigadores da Universidade de Western Ontario, no Canadá, procuraram descobrir se existem indicadores que precedem e preveem de forma fiável a violência entre parceiros íntimos - violência física, sexual ou psicológica exercida por pessoas contra os seus parceiros românticos, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira na revista Social Psychological and Personality Science.

"Este é um dos primeiros estudos a identificar comportamentos que estão a prever o abuso, mas que não são em si mesmos abusivos", afirma a autora principal do estudo, Nicolyn Charlot, uma investigadora associada ao departamento de psicologia da Universidade de Western Ontario. "A violência normalmente não aparece muito cedo. É raro sairmos num primeiro encontro e sofrermos violência por parte do parceiro íntimo".

"Na altura em que a violência está a acontecer, as pessoas estão muitas vezes investidas nas suas relações", acrescenta Charlot. "Sair pode ser difícil. Por isso, a minha ideia com este estudo era que se as pessoas conseguissem ver sinais de alerta, sinais de aviso, antes de se envolverem, de se mudarem, do que quer que seja - isso poderia permitir-lhes tirar um minuto para reavaliar a relação, para proceder com mais cautela, antes que a violência ocorra."

A partir de uma revisão da investigação existente, os autores elaboraram uma lista de 200 pensamentos, sentimentos e comportamentos não abusivos e abusivos. Num estudo com 355 participantes, os autores reduziram a sua lista a 16 sinais de alerta que previam a ocorrência de violência no prazo de seis meses - muitos deles relacionados com a arrogância, o controlo e a imaturidade emocional.

"Muitas vezes, quando estamos nestes padrões e dinâmicas de relacionamento, parece que somos os únicos a passar por isso, como se houvesse algo de errado connosco", diz o Duygu Balan, um psicoterapeuta especializado em traumas e consequências emocionais. Balan não esteve envolvido neste estudo. "Uma das conclusões (deste estudo) e porque é que é importante, é que o normaliza".

Sinais de alerta precoce de violência doméstica

Se notar algum dos seguintes comportamentos que o estudo identificou, pode correr o risco de ser maltratado/a mais tarde - especialmente se algum deles for repetido, ou se estiver frequentemente com mais do que alguns de cada vez:

1. Tem relações sexuais com o seu parceiro mesmo quando não estão com vontade;
2. Sente que não consegue dizer não ao seu parceiro;
3. O seu parceiro/a não admite quando está errado;
4. O seu parceiro/a compara-o com outras pessoas;
5. O seu parceiro/a reage negativamente quando diz que não a algo que ele/a quer;
6. O seu parceiro(a ignora o seu raciocínio ou lógica quando não está de acordo com o dele/a.
7. Tem dificuldade em concentrar-se no trabalho porque os pensamentos sobre o seu parceiro o consomem.
8. O seu parceiro/a cria situações incómodas em público.
9. O seu parceiro/ age de forma arrogante ou com direitos.
10. O seu parceir/ tenta mudá-lo/a.
11. O seu parceiro/a não o/a apoia.
12. O seu parceiro/a critica-o/a.
13. O seu parceiro/a tem expectativas irrealistas em relação à vossa relação.
14. O seu parceiro/a evita-o/a.
15. O seu parceiro/a faz algo que lhe pediu para não fazer.
16. O seu parceiro/a ameaça deixá-lo/a.

"Os sinais de alerta que vê nas nossas listas foram os mais importantes em cada estudo, mas isso não significa que não existam outros sinais de alerta que também sejam importantes", refere Charlot.

Outros sinais de alerta comuns incluem um parceiro que diz que todos os seus ex-namorados são loucos, que é rude com os empregados de mesa, que faz mal aos animais ou que resiste a conhecer os seus entes queridos, diz Balan. Vir de famílias abusivas, desencorajar passatempos que o cultivem, ser incapaz de acalmar as próprias emoções ou seguir de perto o que está a fazer online são outros sinais.

Charlot e a sua equipa não estudaram o que pode causar comportamentos iniciais que podem parecer inofensivos e culminar em abuso. Mas os parceiros podem simplesmente dar o seu melhor no início, dizem os especialistas, e o grau de poder ou controlo que alguém deseja pode aumentar com o tempo.

Um parceiro que se sinta com direito a si ou que o desvalorize pode indicar uma personalidade narcísica, explica Balan. Outros podem estar a lidar com os seus próprios traumas ou inseguranças, tornando-os incapazes de considerar os sentimentos de outra pessoa.

Mas "com tudo isto dito, [nenhuma vítima] é culpada pelo seu abuso", sublinha Charlot. "Estes sinais de alerta destinam-se a informar as pessoas e a prestar-lhes ajuda, mas não se destinam a atribuir culpas. E ninguém deve ser responsável pelo seu abuso, mesmo que note um sinal de aviso e não faça nada."

Os seus próximos passos

Se está a notar apenas alguns destes comportamentos na sua relação, isso pode não significar automaticamente que precisa de terminar a relação, a não ser que o queira fazer, dizem os especialistas.

"Mas pode valer a pena abrandar um pouco as coisas, como conhecer alguém um pouco melhor antes de fazer grandes investimentos", diz Charlot. Talvez o seu parceiro beneficie da terapia, ou o aconselhamento de casais pode ser valioso.

Também deve ser claro desde o início sobre os seus limites, expetativas e padrões para o tipo de relação que pretende, vinca Balan. Comunique como não quer que lhe falem ou como determinadas ações o/a fazem sentir.

Alguns sinais podem precisar de ser mais investigados, admite Charlot. "Se o meu parceiro culpa o seu ex por tudo, não me parece que fique imediatamente tipo, 'Ok, vou acabar com ele'", acrescentou. Mas talvez pergunte a um amigo: "'Conheces o ex desta pessoa?' se essa oportunidade surgir naturalmente."

Se o seu amigo concordar que o ex era horrível, saberá que o seu parceiro estava a ser honesto. Mas se o seu amigo não faz ideia do que o seu parceiro está a falar, isso pode ser motivo para fazer uma pausa, diz Charlot. Confie sempre no seu instinto em relação ao que está a ver, acrescenta a investigadora.

"Se o abuso real está a decorrer, então eu sugeriria procurar recursos profissionais", diz ainda a especialista. Em Portugal pode fazê-lo através do Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica ou da APAV, por exemplo.

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