"Os mortos não podem ouvir as vossas desculpas": interrompido depoimento de Boris Johnson sobre o que fez durante a covid

6 dez 2023, 11:09
Boris Johnson ouvido em tribunal (EPA)

Antigo primeiro-ministro afirmou que aceitava que tinha cometido erros, mas teve dificuldade em dizer especificamente o que poderia ter feito de diferente

O depoimento de Boris Johnson sobre a gestão da pandemia de covid-19 no Reino Unido foi interrompido por protestos contra o antigo primeiro-ministro britânico devido às decisões que tomou durante a pandemia. Segundo a BBC, o antigo primeiro-ministro britânico preparava-se para começar a depor quando começou um protesto na sala.

Heather Hallett, membro da Câmara dos Lordes, pediu aos manifestantes para se sentarem. Como a ordem não foi acatada, quatro pessoas foram retiradas da sala.

Antes de a audição começar, e no exterior do local, vários manifestantes protestaram contra Boris Johnson, mostrando cartazes com frases "os mortos não podem ouvir as vossas desculpas".

Na audiência, Boris Johnson começou por dizer que lamenta "profundamente" a dor e o sofrimento vividos durante a pandemia e diz compreender "os sentimentos das vítimas e das suas famílias".

O antigo líder Conservador agradeceu ainda "às centenas de milhares de trabalhadores do sector da saúde e a muitos outros funcionários públicos, pessoas de todos os quadrantes da sociedade", pelo que fizeram para proteger as pessoas durante os tempos de pandemia.

Protestos em Londres (EPA)

Na audiência, o ex-primeiro-ministro britânico disse ainda que aceitava que tinha cometido erros, mas teve dificuldade em dizer especificamente o que poderia ter feito de diferente.
 
Segundo a Reuters, Johnson assumiu a responsabilidade pessoal por todas as decisões que foram tomadas e disse que compreendia a raiva do público depois terem sido ouvidos testemunhos de incompetência, traição e misoginia do governo na luta contra a maior crise sanitária das últimas décadas.
 
"Havia coisas que podíamos ter feito de forma diferente? Sem dúvida. Mas teria dificuldade em enumerá-las perante vós numa hierarquia", afirmou.

Boris Johnson foi primeiro-ministro do Reino Unido entre 2019 e 2022 e renunciou após uma série de escândalos, incluindo relatos de que, juntamente com outros funcionários, tinha estado presente em reuniões regadas a álcool em Downing Street em 2020 e 2021, quando a maioria das pessoas na Grã-Bretanha foi forçada a ficar em casa.

“Inevitavelmente, no decurso da tentativa de lidar com uma pandemia muito, muito difícil, em que tivemos de contrabalançar efeitos nocivos para ambos os lados da decisão, podemos ter cometido erros. Inevitavelmente, enganámos-nos em algumas coisas. Penso que, na altura, estávamos a fazer o nosso melhor”, acrescentou.

Nas últimas semanas, antigos colegas e assessores retrataram a administração de Johnson de forma negativa, nomeadamente sobre a indecisão sobre a tomada de medidas e o atraso dos confinamentos. Mensagens escritas partilhadas na altura aludem a um ambiente de trabalho tóxico e machista. 

O Reino Unido registou um dos números mais elevados de mortes de covid-19 na Europa, mais de 232.000 pessoas, de acordo com as estatísticas oficiais.

Johnson concordou no final de 2021 em realizar um inquérito público após forte pressão das famílias enlutadas, liderado pela juíza aposentada Heather Hallett, o qual deverá levar três anos para ser concluído, embora relatórios provisórios sejam esperados a partir do próximo ano.

O inquérito está dividido em quatro fases, estando a fase atual centrada na tomada de decisões políticas. A primeira fase, que terminou em julho, analisou o grau de preparação do país para a pandemia.

Johnson não entregou cerca de 5.000 mensagens WhatsApp ao longo de várias semanas importantes entre fevereiro e junho de 2020, alegando problemas técnicos.

"Não retirei nenhuma mensagem do meu telemóvel", garantiu.

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