Como "lapidar diamantes". A doença do rei Carlos III afeta um em cada dois homens a partir dos 50 anos em Portugal

21 jan, 22:00
Carlos III (Associated Press)

Palácio de Buckingham anunciou que o rei Carlos III vai ser submetido a um "procedimento corretivo” na próxima semana. Em causa está uma doença benigna da próstata, que é muito comum nos homens a partir dos 50 anos

É uma das doenças mais comuns nos homens e já pode ser tratada com a mesma precisão de “lapidar diamantes”.  A hiperplasia benigna da próstata começa com “um jato fraco” e uma maior vontade de ir à casa de banho e pode ir até lesões nos rins. Esta é a doença que leva do rei Carlos III a ser submetido a cirurgia já na próxima semana.

Segundo Paulo Vale, esta doença carateriza-se pelo “aumento benigno do volume da próstata” e acontece “em praticamente todos os homens”, apesar de ser “mais acentuado em alguns do que noutros”. Em Portugal, afeta 1,2 milhões dos homens com mais de 51 anos – o que corresponde a um em cada dois a partir dos 50/60 anos.

O aumento do volume da próstata, que “não tem nada que ver com cancro”, faz-se sentir inicialmente através de “um jato fraco, fazer força para urinar, uma maior frequência urinária e levantar mais vezes à noite”. “A próstata fica abaixo da bexiga e se cresce muito vai comprimir a uretra e obstruir a saída da urina para a bexiga, dificultando o fluxo da urina”, explica o também coordenador do serviço de urologia do hospital CUF Descobertas.

O primeiro passo para o tratamento da hiperplasia benigna da próstata passa pela medicação, que “vai melhorando as queixas e facilita o esvaziamento da bexiga”. Mas nem tudo são vantagens. “Os medicamentos podem criar efeitos secundários como quebras de tensão e, por outro lado, ao fim de algum tempo a tomá-los acabam por deixar de ter efeito e a doença continua ou agrava-se”, explica.

Sendo esta uma doença que começa “de forma lenta e gradual” com tendência a aumentar com o passar dos anos, a hiperplasia benigna da próstata pode tornar-se “mais problemática” e “incapacitante para a qualidade de vida”. “Em casos extremos, se não se consegue esvaziar a bexiga corre-se o risco de infeções e o entupimento é tal que só se esvazia metade e a outra metade vai aumentando de forma silenciosa e começa a dilatar para cima da zona dos rins”, garante, alertando para lesões renais.

O tratamento para estes casos de agravamento ou de um grande impacto na qualidade de vida é a cirurgia - o que vai fazer o monarca Carlos III já na próxima semana. “Vai retirar-se o tecido do crescimento benigno da próstata, o que permite que o canal fique libertado e que se volte a urinar normalmente”, explica Paulo Vale. O urologista conta que este é um tratamento que se faz “há décadas”, mas nem sempre se utilizou os mesmos métodos.

A aquablação, que chegou a Portugal há um ano, é mais recente técnica para tratar a hiperplasia benigna da próstata. “A cirurgia é feita com um braço robótico e usa-se um jato de água de alta potência e com uma precisão de milímetros, o que se usa para lapidar diamantes tal é o rigor. É feita através da uretra, não é invasivo e é muito rápido. Não há cortes nem sangramentos”, descreve Paulo Vale.

Apesar de não saber se esta é a que vai usada no tratamento do rei britânico, o urologista afirma que é uma técnica “excelente em termos de resultados”, que permite “internamentos curtos” com um máximo de 48 horas e que facilita a recuperação do doente, que consegue “voltar à vida normal ao fim de uma semana”.

Os motivos para esta “transformação do tecido prostático” não são, no entanto, ainda conhecidos. “Pensa-se que talvez seja por causa das transformações hormonais que começam nestas idades, incluindo a testosterona, formada nos testículos, e a di-hidrotestosterona, originada na próstata a partir da testosterona”, aponta o especialista.

Apesar de ser “uma das doenças mais comuns do homem”, Paulo Vale considera que a próstata é uma coisa que “as pessoas ouvem falar mas não sabem bem o que é”. “É uma glândula sexual masculina por excelência, que produz parte do líquido que forma o sémen e é uma parte essencial para que o espermatozóide possa desempenhar a sua função de caminhar em direção ao óvulo”, explica.

Relacionados

Saúde

Mais Saúde

Patrocinados