França quer os seus cidadãos a reutilizar roupa e calçado. E por isso vai pagar-lhes

13 jul 2023, 19:49
Arranjo de roupa, (Getty Images)

Um salto partido, um rasgão nas calças, botões em falta numa camisa? Se vive em França não deite fora estes artigos pois o governo pagará um "bónus de reparação" para que sejam remendados

Em França, 700 mil toneladas de roupa e sapatos são deitadas fora todos os anos, com a maioria a acabar em aterros sanitários, e, por isso, Bérangère Couillard, ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia, anunciou esta semana um programa que subsidiará as reparações de vestuário e calçado, com o intuito de reduzir o desperdício e a poluição da indústria têxtil. 

Estarão disponíveis ajudas que variam entre 6 e 25 euros, consoante a complexidade da reparação. Por exemplo, uma simples peça de costura receberá um subsídio de 6 euros, enquanto a reparação de um par de óculos poderá beneficiar de um desconto de 25 euros.

Em conferência de imprensa, Couillard afirmou que "esta medida poderá incentivar as pessoas que compraram, por exemplo, sapatos de marca ou um pronto-a-vestir de boa qualidade a quererem repará-los em vez de os deitarem fora".

"E é exatamente esse o objetivo, criar uma economia circular para o calçado e os têxteis, para que os produtos durem mais tempo, porque no governo acreditamos na segunda vida de um produto", acrescentou, esperando que esta iniciativa faça com que os franceses "se apercebam da absurda forma como consumimos atualmente".

O consumo per capita de têxteis em França ascende a 10,5 kg. Um fator importante é a "fast fashion", em que as pessoas trocam as roupas velhas pelas novas tendências assim que estas chegam.

Bérangère Couillard sublinhou que a indústria têxtil está a caminho de ser responsável por um quarto das emissões globais de gases com efeito de estufa até 2050, o que a torna a segunda indústria mais poluente do mundo.

A ministra encarregou, assim, a Refashion, empresa privada ecológica da indústria têxtil, de iniciar o projeto encorajando as pessoas não só a reparar e reutilizar, mas também a reduzir a quantidade de roupa que compram e a doar aquela que já não usam.  

Os alfaiates, as marcas de roupa e as oficinas de reparação podem aderir gratuitamente à iniciativa através da Refashion, que cobrará uma pequena "eco-contribuição" sobre as vendas. O projeto deverá ter início em outubro.

Para os clientes, o subsídio será descontado diretamente na fatura. A Refashion reembolsará depois as empresas que aderirem ao projeto no prazo de 15 dias.

No entanto, nem toda a gente está impressionada com a iniciativa do governo françês. Alguns grupos empresariais alertaram para o perigo de "estigmatizar" uma importante indústria francesa. Pascal Morand, da Federação da Alta Costura e da Moda, mostrou-se preocupado com o possível efeito nas marcas de luxo.

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