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Professora de Educação Especial, 52 anos

"Todos os alunos podem aprender"

27 out 2023, 15:57
Bullying (Pexels)

A evolução da sociedade atual, nomeadamente através do reconhecimento do direito à participação de todos nas decisões que os afetam, tem provocado uma consciencialização de que todas as pessoas devem pronunciar-se e desempenhar o seu papel. Ninguém pode ser alienado ou ignorado sob pena de não lhes estarem a ser respeitados os seus direitos.

Para uma melhor inclusão, cada um deve ser preparado, para no meio em que se insere, ser capaz de desempenhar o seu papel para ser membro ativo da sociedade constituída por todos os seus elementos. A riqueza da sociedade é o reconhecimento de que todos somos diferentes e todos são chamados a nela participar ativamente.

Como professora de Educação Especial, devo aproveitar e enaltecer as potencialidades e respeitar o perfil de funcionalidade e as necessidades de cada um dos meus alunos. O mestre não pode exigir que todos façam o mesmo exame e, por conseguinte, “subam à árvore”. Cabe ao docente analisar cada caso e respeitar as características de cada um, sem rotular todos da mesma maneira. Dadas as suas características físicas e/ou psicológicas, nem todos serão capazes de subir à árvore, mas serão certamente capazes de realizar outras atividades e de serem avaliados de modos diferentes. Por conseguinte, e de acordo com as ideologias defendidas pelo Decreto-Lei 54/2018, de 6 de julho, é imperativo estabelecer um continuum de respostas a todos e a cada um dos alunos, adotando estratégias que vão ao encontro das capacidades e características individuais de todos e de cada um.

A planificação das aulas baseia-se, assim, na premissa de que todos os alunos podem aprender, cabendo ao professor o papel fundamental de os orientar e de selecionar as estratégias mais adequadas a cada um, elaborando um conjunto de medidas para dar resposta à superação das barreiras detetadas em cada aluno. Pois, o objetivo fulcral é o sucesso do discente. Este trabalho desenvolve-se com o professor de Educação Especial em estreita colaboração com o docente da turma/disciplina. Como docente de Educação Especial, tenho o papel de orientar e envolver os alunos na construção da sua aprendizagem, promovendo o desenvolvimento de competências tais como a capacidade de resolver problemas, o relacionamento interpessoal, a cidadania e os pensamentos crítico e criativo. Este acompanhamento pode realizar-se quer em sala de aula, quer noutros contextos educativos.

Como afirma Howard Gardner, “o maior desafio é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança”, preparando-a, o mais possível, para uma futura vida ativa com independência, competência no seu trabalho e qualidade de vida. Como professora de Educação Especial, esforço-me por entender os meus alunos, respeitar o seu perfil de funcionalidade e adequar os métodos e estratégias a cada um, não colocando de parte as suas emoções, o amor e a paciência. Afinal, o que todos pretendemos e defendemos é uma escola inclusiva e a remoção de barreiras que permitam respeitar todos e cada um.

Citando a Declaração de Salamanca (1994): “A Declaração Mundial sobre Educação para Todos acentuou a necessidade dum método de ensino centrado na criança, visando o sucesso educativo de todas elas. A adopção de sistemas mais flexíveis e mais versáteis, capazes de melhor atender às diferentes necessidades das crianças, contribuirá quer para o sucesso educativo, quer para a inclusão.”

Em conclusão, e porque considero que sintetiza expressivamente a importância da minha atividade como professora de Educação Especial, destaco o modo como a UNESCO vê a inclusão dos discentes: “A inclusão é uma forma dinâmica de responder positivamente à diversidade dos alunos e de olhar para as diferenças individuais não como problemas, mas como oportunidades para enriquecer a aprendizagem.”

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