O Médio Oriente não vai socorrer a Europa se ela fechar a torneira ao petróleo russo

CNN , Nadeen Ebrahim
11 mai 2022, 09:00
Ucranianos manifestam-se em Lisboa (Lusa/Manuel de Almeida)

Enquanto a Europa tenta bloquear o esforço de guerra de Moscovo na Ucrânia, livrando-se do petróleo da Rússia, os países do Médio Oriente parecem ser os únicos produtores com capacidade suficiente para substituir os russos.

Resta saber se algum deles tem a capacidade técnica e, fundamentalmente, a vontade de ocupar esse lugar.  Não sustenham a respiração, dizem os analistas do petróleo.

Os países ocidentais impuseram uma série de sanções para punir a Rússia pela guerra na Ucrânia, mas a União Europeia ainda não interrompeu as importações de petróleo e gás - as principais fontes de receita de Moscovo - para evitar prejudicar as economias dos seus membros.

Uma possível proibição da UE ao petróleo russo pode levar a um défice de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) de crude e 1,2 milhões de barris por dia de produtos petrolíferos, segundo a Agência Internacional de Energia. 

Embora as nações do Médio Oriente detenham quase metade das reservas comprovadas de petróleo do mundo e grande parte da capacidade de produção excendentária, a falta de investimento em infraestruturas, os conflitos, as alianças políticas e as sanções estão entre as razões pelas quais a região pode não ser capaz de socorrer a Europa.

Eis um guia para o que os produtores de petróleo podem e não podem fazer para compensar.

Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos

Os dois países têm a maior fatia da capacidade excedentária da OPEP, que está prontamente disponível, disse Amena Bakr, correspondente-chefe da OPEP na Energy Intelligence, com cerca de 2,5 milhões de barris por dia.

Mas o maior produtor da OPEP, a Arábia Saudita, rejeitou repetidamente os pedidos dos EUA para aumentar a produção além de uma quota há muito acordada com a Rússia e com outros produtores não pertencentes à OPEP, e é improvável que atenda aos apelos europeus para aumentar a produção.

Os analistas dizem que um possível desvio dos envios atuais aos clientes asiáticos do Golfo Pérsico pode ter um custo.

Isso apenas seria possível “dentro da flexibilidade desses contratos de longo prazo, ou por acordo com os compradores asiáticos”, disse Robin Mills, fundador e CEO da Qamar Energy no Dubai.

Os envios de petróleo do Golfo poderiam ser desviados da Ásia para a Europa, mas isso colocaria em risco a crescente parceria estratégica entre a região e o seu principal comprador, a China, dizem os analistas.

Iraque

Em teoria, o Iraque pode bombear 660 000 barris extra por dia, disse Yousef Alshammari, CEO e chefe de pesquisa de petróleo da CMarkits em Londres. Atualmente, está a produzir cerca de 4,34 milhões de barris por dia e tem a capacidade máxima de produção de 5 milhões, disse ele, mas as divisões sectárias e um impasse político em Bagdade significam que não se pode esperar que intervenha.

Ao Iraque também faltam as infraestruturas para aumentar a produção e o investimento em projetos de petróleo pode demorar anos até começar a dar frutos, dizem os analistas.

“Temos de nos lembrar que, no caso do petróleo, não é uma questão de abrir uma torneira”, disse Bakr. “É preciso investimento, e esse investimento demora tempo a fazer efeito.”

Líbia

Os campos de petróleo da Líbia sofrem interrupções regulares devido às contínuas tensões políticas. No final de abril, a Corporação Nacional do Petróleo (NOC) disse que o país estava a perder mais de 550 000 barris por dia na produção de petróleo, devido ao bloqueio dos principais campos petrolíferos e terminais de exportação por grupos politicamente descontentes. Uma refinaria sofreu danos após confrontos armados.

O NOC levantou temporariamente a suspensão por motivos de força maior, num terminal de petróleo, no início de maio, mas as interrupções continuam a ser uma das principais causas de preocupação.

É “quase impossível confiar na Líbia” para a capacidade excedentária, disse Alshammari, já que parte da sua produção está parada há anos devido à instabilidade e às repetidas suspensões por motivos de força maior em campos de petróleo importantes.

Irão

A seguir à capacidade combinada dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita, o Irão é, provavelmente, o mais equipado para injetar petróleo no mercado, mas continua sob as sanções dos EUA enquanto as negociações para relançar com as potências mundiais o acordo nuclear de 2015 estão paralisadas.

O país pode contribuir com até 1,2 milhões de barris por dia, se as sanções dos EUA fossem suspensas, dizem os analistas. A empresa de dados Kpler estima que o Irão tinha 100 milhões de barris em armazenamento flutuante, em meados de fevereiro, o que significa que poderia adicionar 1 milhão de barris por dia, ou 1% da oferta global, durante cerca de três meses.

Mas é improvável que os EUA “cheguem a um mau acordo com o Irão só para colocarem mais petróleo no mercado”, disse Bakr.

Países fora da região

Os países fora do Médio Oriente com potencial capacidade de excedente, incluindo a Nigéria e a Venezuela, também apresentam problemas.

Quando se diz que um país tem capacidade excedentária, significa que é “capaz de gerar uma determinada produção num prazo de 30 dias durante, pelo menos, 90 dias”, disse Alshammari. Por essa razão, a proibição ao petróleo russo “pode ser prejudicial para a economia global”.

Isso deixa a Europa com uma potencial opção americana. Mas mesmo que os EUA bombeiem mais petróleo, não será suficiente nem atenderá às necessidades europeias porque o crude dos EUA é muito leve.

“O petróleo muito leve dos EUA não é ideal para o mercado europeu nem para produzir mais gasóleo, que é realmente o que faz falta”, disse Mills.

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