Quatro momentos e duas figuras numa grande final

27 mai 2014, 11:07
Diego Costa

Da lesão de Diego Costa ao desequilíbrio criado por Di María

A temporada futebolística terminou no passado sábado, com a final da Liga dos Campeões. Agora vem a febre do Mundial mas esse será tema para as próximas semanas. Para já a final, disputada em Lisboa, que teve o Estádio da Luz como palco e os olhos do mundo no nosso país.

Espanha dominou o futebol europeu (veremos como será no Mundial) e a presença de Real Madrid e Atlético de Madrid nesta decisão provou isso mesmo. O que nos disse esta final?

De um lado o Atlético, e o exemplo do que é uma verdadeira equipa (só assim conquistou La Liga e chegou onde chegou) com Simeone
ao comando. O argentino revolucionou o futebol «colchonero» e levou-o para outros patamares, a fazer História. Para mim é o treinador do ano.

Em Lisboa, a equipa apresentou-se como de costume: consistente, sempre junta, assim se manteve até aos 93 minuto, já nos descontos do jogo. Mas já lá vamos.

Do outro lado estava o Real, onde as individualidades fazem parte de uma equipa. Ancelotti
é quem comanda e queria uma equipa à imagem de Munique: defender e atacar bem disse em conferência de imprensa. A equipa portou-se bem mas foram as individualidades que acabaram por resolver.

Ancelotti é um treinador experiente, que pouco exterioriza mas que tem todo o saber destas grandes competições - e uma forma própria de estar no jogo, sem atritos nem conflitos. O seu currículo é impressionante e agora conta com mais um título, o terceiro de campeão europeu como treinador – tem mais dois como jogador. Está de parabéns.

Qualquer jogo tem momentos chave e para mim este teve quatro.

Minuto 9 
Diego Costa saía do jogo. Muito se falou sobre isto: «porque jogou, porquê o risco, mais valia ter ficado na bancada» foram algumas das coisas ditas. Pouco importa nesta altura mas uma coisa é certa: havia uma decisão para tomar, com os riscos inerentes e com o conhecimento de todos. O treino da véspera parecia ter corrido bem e a decisão, passou seguramente por uma conversa a dois e a três (com o médico).

O jogador tinha vontade de jogar, o médico informou sobre os riscos, mas Simeone tinha de decidir. Diego, o melhor marcador da equipa, ia jogar. Estando bem, é um elemento importante, que coloca o jogo da sua equipa a outro nível. E Simeone sabe o respeito que a sua presença impõe na defesa contrária.

O jogo começou e percebeu-se que o avançado não estava bem. Uma troca de olhares, como disse Simeone na conferência de imprensa, foi suficiente para perceber que a decisão tomada correu mal. Como líder, não perdeu tempo. A equipa como sempre é o mais importante e Adrian estava lá dentro aos 9 minutos. No final do jogo, como lider que é, Simeone assumiu por inteiro a decisão tomada. A vida de treinador é feita de decisões constantes, algumas de risco. E acredito que perante o mesmo cenário a decisão seria a mesma.

Minuto 58
Marcou as entradas de Marcelo e Isco. A perder, Ancelotti apostou tudo e acabou por sair-se bem. Ter no banco jogadores com esta qualidade ajuda por vezes a mudar o curso do jogo. Os suplentes mexeram com o jogo e acrescentaram qualidade ao Real, até porque o Atlético foi ficando cada vez mais encostado atrás.

Minuto 93
O golo de Ramos deu a igualdade ao Real. A importância das bolas paradas viu-se mais uma vez: a forma como o 1-1 se materializou mostra como um lance deste tipo pode ser decisivo. No limite da capacidade física os jogadores do Atletico cederam. O empate, e o final do jogo a seguir, mostraram que o prolongamento seria disputado com sentimentos antagónicos.

Os jogadores do Atletico, animicamente por baixo e desgastados fisicamente, tentariam aguentar e ver se conseguiam ainda sair vencedores. Os do Real, com o golo de Ramos, ganharam nova alma e a vontade de conseguir a décima ficou novamente na mente de todos.

Quando começou o prolongamente era evidente quem estava por cima a todos os níveis. Mais fresco fisicamente e, sobretudo, com uma capacidade anímica superior, o Real estava perto de ganhar e quem andou lá dentro percebe o ponto em que estavam as equipas. Por muito que se queira, é quase impossível contrariar estes dois estados de espírito e não antecipar este desfecho.

Minuto 110
A grande equipa do Atlético aguentou até aos 110 minutos. A criatividade e a rapidez de Di Maria provocaram o desequilíbrio na defesa colchonera e nem a intervenção do grande Courtois evitou que Bale fizesse o segundo golo. Se duvidas houvesse, elas tinham acabado neste momento e o sonho terminado. O resto era esperar que acabasse rápido porque a história estava escrita. E o terceiro golo de Marcelo revela como estava a equipa do Atletico: ninguém teve pernas, nem capacidade de reação, para evitar a sua corrida e remate para golo.

Figuras

Uma final acaba também por ter as suas figuras e duas se destacaram dos demais. Do lado do Atlético, Gabi: o capitão encheu o campo, esteve em todo o lado e é a imagem desta equipa. Joga com alma, com um coração enorme e merecia levantar a taça. Tal como a equipa, deu tudo, foi ao limite, mas não chegou.

Do outro lado, Di María foi o melhor elemento do Real. Sempre em jogo, foi o único que conseguiu, durante todo o jogo, acrescentar velocidade e mudar o ritmo. A importância que assume na equipa é bem evidente e Ancelotti não prescinde dele. Seja por fora, ou mais por dentro, como foi o caso, coloca intensidade nas suas acções sem perder objectividade e rapidez. Ao minuto 110, foi criativo, veloz e desequilibrou ajudando a decidir o jogo.

Uma nota para os portugueses. Tiago apresentou-se em bom nível, como tem sido habitual. Sempre bem posicionado e a dar soluções aos companheiros. A dupla que faz com Gabi garante a solidez e a consistência da equipa e funciona em pleno. Cada um sabe os espaços que ocupa e para onde deve ser encaminhado o jogo. Uma grande época!

Ronaldo jogou. Muitas dúvidas existiam sobre a sua condição física e se ia a jogo. Foi, e mais uma vez marcou. Foi o 17º golo na competição, mais um recorde batido. Não esteve ao nivel que nos habituou e foi visivel alguma contenção nos seus movimentos, mas durou os 120 minutos. Aparentemente a lesão ficou para trás e agora, com mais tempo e uma boa recuperação, esperamos por um Ronaldo em grande forma no Mundial.

Fábio Coentrão não teve o rendimento de outros jogos. O jogo menos fluido do Real e a apertada marcação de Raul Garcia não lhe permitiram muito espaço. Acabou substituído mas fez parte da conquista da décima e, depois da festa, o seu foco é agora Portugal e o Mundial.

Relacionados

Champions

Mais Champions

Patrocinados