Se quer evitar que os seus filhos bebam em demasia, comece por observar o seu próprio consumo
Os adolescentes cujos pais bebem regularmente ou bebem em excesso têm quatro vezes mais probabilidades de beberem sozinhos, de acordo com um estudo publicado no Journal of Adolescent Health.
Segundo a investigação, o consumo excessivo de álcool é definido por pelo menos quatro doses para mulheres e cinco para homens numa única ocasião.
“O estudo realmente fornece mais evidências de que o consumo excessivo de álcool não é apenas prejudicial para a pessoa que bebe, mas também para outras pessoas ao seu redor, aumentando o risco de os seus filhos adolescentes consumirem álcool”, diz a coordenadora do estudo, a Dra. Marissa Esser, que lidera o programa para a prevenção do alcoolismo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
As famílias devem preocupar-se com o consumo de álcool por arte dos adolescentes porque isso pode provocar problemas à saúde e ao desenvolvimento do cérebro e porque a idade em que uma pessoa começa a beber está ligada ao risco de dependência, alerta a Dra. Danielle Dick, que não esteve envolvida no estudo, mas é diretora do Rutgers Addiction Research Center, em Piscataway, Nova Jersey.
Não é surpreendente ver uma ligação entre o consumo de álcool pelos pais e pelos adolescentes, mas é um lembrete crucial, alerta Danielle Dick, que também é professora de psiquiatria na Rutgers Robert Wood Johnson Medical School.
“Para mim, essa é a peça mais importante: mais um lembrete para os pais sobre o papel que podemos desempenhar ao influenciar o uso de substâncias pelos nossos filhos”, acrescenta.
A razão para essa legação pode estar relacionada com várias coisas, como ser um modelo, o acesso ao álcool em casa ou a permissividade dos pais em relação à bebida, diz o Dr. Scott Hadland, chefe de medicina para adolescentes e jovens adultos do Massachusetts General Hospital for Children e da Harvard Medical School, em Boston, que também não esteve envolvido no estudo.
Mas há também um forte componente genético que pode estar em jogo, sublinha Danielle Dick.
“Também sabemos que o uso de substâncias e os problemas de uso de substâncias são fortemente influenciados geneticamente”, diz. “Cerca de 50% das diferenças entre o quanto as crianças bebem, especialmente à medida que passam da adolescência para a idade adulta, são devidas a diferenças nos genes.”
Os adolescentes não vão necessariamente beber de qualquer maneira
A idade em que as crianças começam a beber deve ser adiada o máximo possível, alerta Danielle Dick.
Os dados mostram que quanto mais jovem um adolescente começa a beber, maiores são as hipóteses de desenvolver problemas com o consumo de álcool ou outra adição, acrescentou ela.
Mais de 45% das crianças que começaram a beber aos 13 anos ou menos desenvolvem problemas com álcool, diz Dick. “Enquanto entre as crianças que adiaram até os 21 anos, menos de 10% delas desenvolvem um transtorno por uso de álcool”, acrescenta.
As famílias devem reforçar a mensagem aos adolescentes de que beber não é tão seguro para os adolescentes como é para os adultos e que não querem que os seus filhos bebam, diz Scott Hadland.
No entanto, é importante partir de uma posição comunicativa – e não punitiva – porque os adolescentes que estão numa fase de experimentar álcool devem sentir-se seguros ao conversar com seus pais ou responsáveis sobre isso, acrescenta.
Os adolescentes vão beber, então é melhor ensiná-los a fazê-lo com segurança, certo?
Na verdade, os dados mostram que essa abordagem não é um plano tão bom, diz Danielle Dick.
“Na verdade, sabemos que (os adolescentes que bebem em casa) são mais propensos a consumir bebidas alcoólicas com os amigos de maneiras irresponsáveis e arriscadas”, diz a especialista. E é importante não normalizar algo que está a tornar-se menos normal para os adolescentes, sublinha.
As taxas de consumo excessivo de álcool podem ser altas para os adultos, mas as taxas de consumo de álcool entre adolescentes têm diminuído nas últimas décadas, acrescenta.
“Os adolescentes estão a fazer escolhas mais saudáveis do que muitos de nós fizemos quando tínhamos essa idade”, acrescentou Danielle Dick.
Como se pode reduzir o consumo
Mesmo que não tenha problemas com álcool, reduzir o consumo pode ser difícil.
Talvez seja difícil porque você tem o ritual de se acalmar depois de um longo dia com uma taça de vinho ou porque é estranho estar numa festa com amigos e não ter uma bebida na mão, diz a jornalista Rosamund Dean, autora do livro “Mindful Drinking: How Cutting Down Can Change Your Life” (“Mindful Drinking : Como reduzir pode mudar a sua vida”, numa tradução livre para Português).
No entanto, se você deseja reduzir o consumo de álcool, existem maneiras eficazes de o fazer, diz a autora.
Uma boa maneira de começar é acompanhar quantos dias por semana você bebe e quanto você consome, aconselha Danielle Dick.
Em seguida, Rosamund Dean recomenda comunicar a quem lhe está próximo os seus objetivos, para que eles não o incitem a tomar uma bebida na próxima festa.
Ela descobriu que os dias sem álcool eram importantes na sua jornada, porque é muito mais fácil não beber do que controlar o que se bebe.
Algumas pessoas tentam ficar sem álcool por curtos períodos, em desafios como o “Outubro Sóbrio”, para reavaliar sua relação com o álcool.
Rapidamente, Rosamund Dean aprendeu que ainda poderia sair à noite, comemorar, viajar e brindar em casamentos sem depender de uma bebida alcoólica, diz ela.
E para quem tem a bebida como parte da rotina diária, experimente um substituto – seja uma atividade totalmente diferente ou apenas preparar uma bebida não alcoólica.
“Acho que tudo se resume a ter bons copos e uma fatia de limão e realmente fazer disso um sucesso”, exemplifica, acrescentando que “você pode criar a mesma sensação em torno de uma bebida sem álcool e então perceberá que não foi realmente o álcool que fez você se sentir tão bem naquele momento.”