O impacto da covid-19 na sexualidade: 11 perguntas e respostas sem tabus

11 fev 2022, 18:23
A intimidade dos casais

Com os efeitos físicos e psicológicos causados pela pandemia, surgiram inúmeras dúvidas sobre a vida íntima e a atividade sexual. A sexóloga e psicoterapeuta Rita Torres ajuda-o a esclarecer as suas dúvidas

1. A covid-19 é sexualmente transmissível?

Não existem provas científicas claras que comprovem o contágio pelo esperma ou fluídos vaginais, mas sim pelas gotículas respiratórias. Ou seja, a covid-19 pode, de facto, ser transmitida nas relações sexuais através do contacto físico, porque implica uma distância inferior a dois metros. 

2. Como ter relações sexuais sem contrair o vírus?

De acordo com um documento divulgado pela Associação para o Planeamento da Família (APF), "a forma mais segura de ter sexo é ter sexo consigo mesmo", sendo a masturbação a primeira sugestão para evitar a disseminação da covid-19, sem negligenciar as medidas de higiene como lavar as mãos com água e sabão, antes e depois. É uma boa oportunidade para explorar o funcionamento do corpo. 

Rita Torres, sexóloga e psicoterapeuta, explica à CNN Portugal que, se parceiro ou parceira habitar na mesma casa, o risco é ligeiramente mais alto, mas é exequível, a menos que uma das partes apresente sintomas de infeção. Neste caso, o contacto físico não é recomendado, "nem toque íntimo, e certamente nenhum beijo". E a pessoa em questão deve permanecer em autoisolamento dentro do período recomendado pela DGS. Por outro lado, há casais que preferem assumir o risco permanecer juntos, e "a questão nem se coloca". 

Em relações sexuais que envolvam um ou mais parceiros com os quais a pessoa não coabite, é importante ter em conta que quanto maior for o número de parceiros e relações sexuais, maior a probabilidade de contágio. Embora os testes tenham as suas limitações, Rita Torres acredita que podem ser uma alternativa, assim como a máscara e não prescindir da lavagem das mãos.

3. Pode usar brinquedos sexuais?

As medidas de prevenção, sobretudo a utilização de máscaras, o distanciamento físico e o isolamento, podem resultar na perda de desejo de proximidade, influenciando a intimidade e a sexualidade das pessoas. É possível recorrer a brinquedos sexuais em qualquer altura, quando e se existir vontade, desde que sejam devidamente higienizados antes e depois. 

4. Deve confiar nas aplicações de encontros?

A primeira recomendação para quem encontra parceiros através das chamadas dating apps, é evitar os encontros e optar pelos recursos das plataformas digitais. Ainda assim, já existem aplicações que oferecem um filtro de "vacinado", como o Tinder e o Bumble. Mais uma vez, a realização de um teste antes de qualquer interação física é uma alternativa segura. 

5. O seu parceiro/a não quer ter relações por causa da covid-19. Como deve proceder?

No documento "Covid-19 e sexualidade" elaborado pela Ordem dos Psicólogos, em parceria com a APF e a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, é esclarecido que "o sexo tem siginificados diferentes para pessoas diferentes e nem sempre envolve relações sexuais ou toques". Pode ser o momento ideal para os mais curiosos partilharem fantasias e descobrirem estímulos sexuais "que funcionem à distância". 

Acima de tudo, a comunicação e o consentimento mútuo devem ser uma prioridade. "Primeiro, é preciso perceber o que se passa", esclarece Rita Torres, sugerindo algumas questões: "Uma das partes está contagiada? Sofre de ansiedade? Algum fator prévio teve influência na própria sexualidade? Está com disposição? Há havia dificuldades no relacionamento antes da pandemia?", a lista continua, "depende sempre do caso". 

6. Está triste e não tem desejo sexual desde a pandemia. Deve procurar ajuda?

Segundo as palavras da sexóloga, é primeiramente necessário fazer uma distinção entre tristeza e depressão, sobretudo porque "é normal sentirmo-nos tristes no contexto em que o mundo se encontra" por diversas razões, mas nomeadamente pelas "perdas, que foram muitas", as financeiras, familiares, do espaço individual, ou da própria relação. Se se tratar de uma depressão, um dos sintomas possíveis é a perda da libido, o que "não acontece sempre, mas muitas vezes". "É preciso procurar ajuda psicoterapeutica e, em alguns casos, psiquiátrica", remata. 

7. Começou a sentir dor sexual depois do confinamento. Porquê?

As dificuldade sexuais têm inúmeras variáveis, desde médicas, individuais, ou da própria relação. "A pessoa pode já não se sentir tão confortável ou não se excitar tanto", diz Rita Torres, alertando também para a necessidade de uma avaliação ginecológica nestes casos. "Pode ter desenvolvido algum problema entretanto", explica. 

A ansiedade tem impacto na própria lubrificação e contração dos músculos e para compreender o que a provoca é preciso compreender o estado da pessoa e o ambiente que a rodeia. "Qual é o tipo de dor? O denvolvimento sexual é prazeroso ou é vivido como uma obrigação?", lança a sexóloga, e reforça ainda o valor da autoestima e dos estímulos eróticos. 

8. Esteve infetado e tem de parar durante o ato sexual. E agora?

Um dos sintomas do long covid, ou covid prolongado, é a fadiga, que requer uma reabilitação lenta e "muita paciência". Numa relação, a conversa é crucial, sobretudo se surgir "ansiedade de performance", que afeta a própria respiração. "Parar e recomeçar é muito importante", aconselha Rita Torres, acrescentando ainda exercícios de respiração. "Não quer dizer que depois não seja melhor". 

9. Vive com o seu parceiro/a. Como evitar perder o desejo durante este tempo de pandemia?

Com a rotina e o teletrabalho, torna-se mais frequente deixar a intimidade para segundo plano, sobretudo com filhos ou uma casa pequena na equação, casos estes em que privacidade escasseia. "Criatividade, muita comunicação e tempo para namorar", são pontos que a sexóloga considera cruciais, não esquecendo que "o excesso de intimidade acaba por diminuir o desejo", portanto uma redifinição do espaço e atividades individuais também são necessárias. "Precisamos de ver o outro a fazer outras coisas para o desejarmos", explica. Outra forma de cuidar do desejo também passa por "cuidar do próprio erotismo, e talvez isso desperte mais". 

10. Dúvidas mais frequentes 

Rita Torres destaca algumas dúvidas que têm vindo a ser apresentadas nas suas consultas, entre elas - e como já foi referido - as dificuldades de sentir desejo sexual, sobretudo nas mulheres mais sobrecarregadas, cujo cansaço "acaba por ter impacto na sexualidade". Também houve obstáculos ampliados em relações de compromisso a vários níveis.

Existe ainda o problema da solidão, que afeta um número elevado de pacientes. "Sentem-se sozinhos e acham que vão ficar assim para sempre, porque não vão encontrar ninguém", conta. Não é por acaso que os relacionamentos digitais, o sexting, os brinquedos sexuais e a pornografia têm aumentado.

Para concluir, problemas de orientação sexual e identidade de género partilhados por pessoas que ficaram confinadas em espaços onde são descriminadas ou até mesmo agredidas, o que por sua vez "contribui negativamente para a saúde das mesmas". 

11. Quem deve contactar?

Os profissionais da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica oferecem consultas públicas e privadas em vários pontos do país. A pesquisa pode ser feita a partir da página oficial ou da Associação para o Planeamento da Família.

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