Paços de Ferreira - Farense, 1-1 (crónica)

3 dez 2000, 20:00

O antídoto ideal para a criatividade Manuel Balela merece o empate, e talvez mais, porque soube anular as principais «estrelas» do Paços de Ferreira, reforçando o esquema defensivo. A aposta no contra-ataque surtiu mais um golo a Hassan, mas a reacção dos pacenses foi eficaz para evitar a derrota.

Uma ideia produzida várias vezes, por muito original que seja, corre o risco de ser estudada, plagiada ou simplesmente anulada. Se José Mota teve o mérito e a ousadia de fomentar a criatividade e espalhá-la por todos os campos, sem distinção, é necessário reconhecer que a fórmula deverá encontrar novas variantes para fugir a anti-corpos produzidos pelos adversários. 

Colocar elementos criativos em terrenos essenciais verga a equipa a uma dependência que tem sido positiva, mas que está sujeita a momentos menos produtivos, consoante a inspiração desses jogadores. Esta foi a chave descoberta por Manuel Balela, que soube anular Glauber, Rafael, Beto e Everaldo, as peças de referência dos pacenses. A bola não corria com a fluência habitual e deixava de surgir com eficácia para a finalização de Paulo Vida. 

Se o Farense tem feito um campeonato bem razoável, que o coloca a meio da tabela, é necessário compreender que a equipa tem entregue o domínio do jogo aos adversários, permitindo-se arriscar tudo no contra-ataque, esperando pelo instinto goleador de Hassan. O forte esquema defensivo foi reaproveitado na Mata Real, onde até os médios teoricamente mais ofensivos teimavam em encarar a linha do meio-campo como a última fronteira.  

Com os pacenses a tentarem investir tudo nos cruzamentos enquanto o estado do terreno foi minimamente aceitável, Hassan esperava pelos incaracterísticos pontapés de ressaca. Os defesas do Farense pareciam decididos em concorrem para o recorde do pontapé mais distante, pois só assim se podia compreender aquela atitude de intensa falta de discernimento e criatividade. José Mota desesperava e o estado do terreno continuava a deteriorar-se. 

Nada de nada 

Pouco haveria a fazer numa situação destas, onde ninguém conseguia produzir um lance de diferença. Era difícil adivinhar o golo, apesar do Paços de Ferreira ter insistido em situações atabalhoadas e sem nexo, complementadas por alguns deslizes de Paulo Sérgio, defesa-central demasiado inseguro para ser verdade. Beto teve o golo nos pés, mas o dia de azar perseguia os mais influentes dos anfitriões e Raul Iglésias apenas teve que oferecer o corpo à bola para fazer frente a um remate violento, mas desconcentrado.  

Entre buracos e pontapés desacreditados, a primeira parte acabou por ser o único sumo de verdade que poderia ter levado os pacenses a mais uma vitória caseira, embora menos brilhante do que as anteriores. Nada, mas mesmo nada, foi coerente com o tipo de jogo que a equipa de José Mota tem apresentado e deslumbrado. Como o segundo tempo ainda foi pior, só aos 60m surgiu um dos dois momentos de emoção neste jogo desinspirado. Hassan aproveitou pela única vez o contra-ataque dos seus companheiros e não teve grande dificuldade em marcar o golo, num lance em que o terreno ajudou a bola a encaminhar-se para a baliza, fazendo-a cambalear pelas covas e bocados de relva levantada. 

A reacção não poderia ter sido mais positiva. Beto saiu de campo para uma aposta teoricamente mais ofensiva, através da colocação de Leonardo ao lado de Paulo Vida na frente de ataque. Mas foi Gaspar que conseguiu chegar ao empate, após cruzamento de Paulito, demonstrando vontade e solidariedade com a equipa. Pouco mais houve a partilhar até ao fim, pois o Paços deixou-se abater pela incapacidade e ultrapassar a teimosia defensiva do adversário e o Farense também já não conseguiu demonstrar atitude diferente, que talvez pudesse ter levado os algarvios a um resultado bem mais positivo.

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